Quando a Quinta da Lixa comprou os 32 hectares de Sanguinhedo foi para os destinar a produção, dentro da estratégia de crescimento do grupo, fundado há quase 30 anos e com perspetivas de crescimento na exportação. O seu Alvarinho Pouco Comum, acrescente-se, é o alvarinho português mais vendido nos Estados Unidos – um dos maiores mercados entre os 34 países para onde exporta. A quinta já produzia vinho verde e assim continua, com o seu chão, com a linha de fronteira entre Felgueiras e Amarante a passar nele, a dar uvas das castas Touriga Nacional, Loureiro, Avesso, Arinto e Vinhão. A três quilómetros da Quinta da Lixa, com a cidade de Amarante bem perto e a menos de uma hora do Porto, Sanguinhedo parecia o lugar ideal para albergar clientes e visitantes, que ali chegam a ser 2600 por ano.

A ideia inicial era recuperar o casarão rural para acolher esses hóspedes, mas a visão do arquiteto Fernando Coelho, nativo de Felgueiras e amigo de restauros, inspirou a Quinta da Lixa a fazer ali bem mais do que isso. O Monverde – Wine Experience Hotel nasceu assim, com aquela «casa para amigos do vinho», como refere o diretor do hotel, João Portugal, a evoluir para o primeiro hotel vínico da Rota dos Vinhos Verdes e um lugar de apaziguamento admiravelmente inserido na paisagem, com a qual parece fundir-se. Com o investimento, a rondar os quatro milhões de euros, a Quinta da Lixa expandiu-se para o enoturismo, esperando cativar hóspedes entre os seus apreciadores nacionais e aqueles dos seus principais mercados estrangeiros, para onde escoa metade da produção: Espanha, China, Rússia e Estados Unidos.

De todos os quartos se avista a vinha, através de janelões rasgados de cima abaixo, a toda a largura.

«O projeto foi aumentado pelo arquiteto, com este resultado final de equilíbrio. Temos todas as experiências de um hotel, mas é sobretudo um local de paz», refere João Portugal. É essa impressão que marca, quando se chega ao Monverde e se percorre a quinta e os seus espaços construídos – a antiga casa rural, com a sua fachada pintada de um intenso verde-azeitona; as duas alas que albergam os 29 quartos, criadas a partir das antigas casas dos caseiros; a adega e os seus enormes tonéis recuperados para decoração; a piscina de fundo castanho, como se fosse um lago. E ainda, à entrada do spa com salas de tratamento e relaxamento, outra piscina interior.

É um circuito de silêncio e beleza, de madeira, de verde e de todos os tons de pedra, entre o castanho, o cinzento, o dourado e o cobre – as cores de que a paisagem, nomeadamente a vinha, se vai vestindo ao longo do ano. Está nessa simplicidade harmoniosa o principal luxo do Monverde, que se prolonga para dentro de paredes, com a decoração de interiores, assinada por Paulo Lobo, a manter o mesmo princípio e a mesma palete de tons da terra, honrando a vista de todas as janelas.

Outras honras fez ao lugar o conhecido designer de interiores, procurando no artesanato e antiquários locais, assim como entre as ruínas da antiga quinta, a maior parte dos objetos decorativos. Nos corredores de acesso aos quartos, encontram-se peças de arte tão originais como antigas pias de pedra ou ainda as enormes caras rústicas esculpidas no granito, emanadas da arte popular. Um pouco por todo o espaço, tanto no exterior dos quartos como nas eiras e nos decks em redor do edifício principal, há cadeirões cónicos de verga que remetem para as vindimas, num irresistível convite ao descanso.

Ao fim de semana, o Monverde promove provas comentadas dos vinhos da Quinta da Lixa. No bar e no terraço, uma varanda sobre a vinha de Touriga Nacional.

As antigas casas de granito onde ficam os quartos, um deles um apartamento, eram ruínas, das quais foi aproveitada quase toda a pedra para o restauro. Palheiros, cortes e velhas divisões de trabalho são agora 29 quartos decorados com um minimalismo acolhedor e luxuosa mansidão. Em todos eles, uma das paredes é uma enorme janela para a vinha, que se estende mesmo até ao limite dos alojamentos. Em alguns deles, pode-se tomar um banho de imersão com os olhos postos na folhagem das videiras.

A casa principal, que alberga agora a receção, o lounge, o restaurante e o bar, é outro lugar de tranquilidade. Paulo Lobo escolheu uma palete de verdes para os sofás e cadeirões, ao lado dos quais há sempre mesas com muitos livros sobre vinhos, e recuperou antigos móveis para apoio ao serviço do restaurante e do bar. A receção aos hóspedes faz-se com um flûte de espumante meio seco O Tal da Lixa e a primeira visão do lounge é a impressionante escultura suspensa de Paulo Alves – são 366 folhas de videira esculpidas em madeira, cada uma com um rosto, a evocar os dias do ano.

No restaurante do Monverde impera a cozinha de temperos subtis do chef Agostinho Martins.

A partir daí, é sempre a beber com os olhos e a sentir na pele a oferta de detalhes, comer percebendo-se a cada passo a minúcia e o cuidado de quem pensou aquele lugar. E percebe-se que a região dos Vinhos Verdes, mais modesta e mais simples do que a região do Douro, que lhe é sobranceira na sua espetacularidade e dimensão, acaba de marcar pontos na hotelaria inspirada no vinho. O cognome wine experience hotel é a valer – o vinho está em todo o lado, tanto na decoração como naquilo que se pode fazer durante a estada. A começar por um simples passeio pelas vinhas, de acesso livre aos hóspedes, ou pela participação nas vindimas. O vinho está também na oferta do spa, com massagens e tratamentos à base de óleos de videira e banhos vinoterapêuticos.

Ao fim de semana, o hotel promove provas comentadas dos vinhos da Quinta da Lixa, no bar e no seu terraço, uma varanda sobre a vinha de Touriga Nacional. Os quinze rótulos da Quinta da Lixa destacam-se na carta de vinhos, composta quase na totalidade por verdes, com algumas referências de outras regiões e, no que toca às internacionais, quase só champanhes. Os vinhos podem ser provados no bar, cuja carta permite fazer várias degustações; ou ainda no restaurante do hotel, comandado pelo chef Agostinho Martins.

Desde que o Monverde abriu, em junho, o seu restaurante ganhou vida própria, e percebe-se bem a razão. A assinatura do chef é de temperos subtis e até suaves, enchendo o prato sobretudo com pormenores de grande minúcia. Como um sarrabulho de sabor intenso e textura cremosa ou uma polme crocante e bem aromática em redor de um peixe fresquíssimo. E como se está no campo, às vezes os hóspedes são convidados a saborear as ameixas da quinta como sobremesa.

Insistimos: quem disse que, a norte, o enoturismo a valer é exclusivo do Douro?

Ficar

Monverde – Wine Experience Hotel
Quinta de Sanguinhedo, Telões (Amarante)
Tel.: 255143100
Web: monverde.pt
Quarto duplo: a partir de 110 euros por noite (inclui pequeno-almoço)
Preço médio (restaurante): 40 euros (menu de degustação do chef, 20 euros)

Beber

Casa da Viúva Winebar
Rua de Quintadona, Lagares (Penafiel)
Tel.: 912245910
Web: winebarcasadaviuva.pt
Horário: Das 15h00 às 00h00; sábado e domingo, a partir das 13h00. Encerra à segunda.

Comer

A Eira
Rua da Vinha, Lote 19, Telões (Amarante)
Tel.: 255095490
Web: facebook.com/aeirarestaurante
Horário: Das 10h00 às 00h00; sexta e sábado até às 02h00. Não encerra.
Preço médio: 15 euros

Visitar

Rota do Românico
O Monverde fica em plena Rota do Românico, uma rede de lugares de interesse histórico e arquitetónico que abrange Amarante, Marco de Canaveses, Penafiel, Celorico de Basto e Baião, entre outros concelhos dos vales do Tâmega, Sousa e Douro. A cada vale destes rios corresponde um percurso de visita, com mais de cem monumentos e lugares onde está viva a memória do românico, entre eles conjuntos monásticos, igrejas, capelas, memoriais, pontes e castelos.

Tel.: 255810706
Web: rotadoromanico.com
Visitas: de segunda a sexta, das 09h30 às 17h30

Tongobriga
A Estação Arqueológica do Freixo, em Marco de Canaveses, alberga os vestígios da cidade romana de Tongobriga, com uma área classificada de 50 hectares. Da cividade influente na região desde finais do século i, é possível ainda ver algumas estruturas como o complexo termal.

Tel.: 255531090
Web: tongobriga.com.sapo.pt
Visitas: de segunda a sexta, das 09h00 às 17h00; sábado, a partir das 14h00

Texto de Dora Mota - Fotografias de Artur Machado/Global Imagens
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