Cristóvão Colombo pode ter nascido em Génova, Barcelona ou Cuba do Alentejo. E até pode ter sido ele o primeiro a chegar às Américas – ou terão sido os vikings? As hipóteses continuam em aberto na história de vida deste navegador latino (isso está confirmado), mas a versão oficial e ocidental da história conta-nos que em 1492 Colombo alcançou as Caraíbas. Desembarcou no atual território das Bahamas a pensar que tinha chegado à Índia e seguiu viagem até ao que hoje conhecemos por Cuba, Haiti e República Dominicana. Vinha acompanhado por cerca de cem homens e foram eles a abrir as contas do movimento turístico dominicano.

Hoje, já quase ninguém chega a estas paragens por engano e as estatísticas não mentem: se, em 1492, as entradas de visitantes estrangeiros ficaram por aquela centena de corpos exaustos, sedentos e à beira de um motim, em 2012 esse número chegou aos 4,5 milhões de turistas. Na sua grande maioria estes também chegam cansados, mas da rotina. Sedentos só se for pela bela oferta de rum. À beira de um motim está fora de hipótese. Basta olhar à sua volta e confirmarem o que vem nas brochuras das agências de viagens – este é um paraíso com praias de sonho, palmeiras e água tépida. Mas há tanto mais para descobrir fora dos resorts. Gastronomia, história, cultura, desporto e natureza estão à sua espera.

Colombo até pode ter chegado por engano, mas não falhou quando escolheu Santo Domingo como a primeira capital das Américas. É a mais antiga cidade do Novo Mundo, tem uma população a rondar os três milhões de habitantes e uma herança histórica valiosa. A Cidade Colonial – Património da Humanidade pela UNESCO desde 1990 – é o principal ponto de interesse, com os seus edifícios de época, praças espaçosas, fortificações, monumentos religiosos e lembranças de um passado proveitoso como entreposto entre Europa, África e Américas. É por aqui que encontramos a primeira rua calcetada, a primeira universidade, o primeiro hospital e a primeira catedral do Novo Mundo. Para descobri-los há uma hipótese a ter em conta – o Chu Chu Colonial, comboio turístico que percorre a zona colonial.

O percurso de 45 minutos leva cada passageiro por uma viagem de mais de 500 anos de história onde não faltam passagens pelo Alcázar de Colón, pela Fortaleza Ozama ou pelo Parque Colón, a principal praça de Santo Domingo onde também se encontra a primeira catedral das Américas, finalizada em 1546. Depois de apreciar o estilo gótico com elementos renascentistas do edifício que guardou as cinzas de Cristóvão Colombo até à década de 1990, a caminhada é curta até à fábrica de tabacos Caoba. Fica no outro lado da praça e, da janela do primeiro andar, a vista convida a fotografias. No interior descobrem-se os odores das cinco folhas necessárias para a manufatura de um puro, o rei dos charutos. E o negócio pode ficar concluído logo no primeiro dia de viagem.

Na Plaza de España, tudo se passa. Durante o dia há o Alcázar de Colón para descobrir. Construído no início do século xvi, foi o palácio de Diego Colombo, filho de Cristóvão e vice-rei do território. Serviu de posto de vigia virado para o rio Ozama («águas profundas e tranquilas», na língua taína, a dos nativos pré-colombianos) e é hoje um museu digno de visita. À noite, a praça transforma-se no ponto de encontro de turistas e habitantes locais em busca de diversão. A beleza dos seus edifícios de diferentes épocas conquista à primeira vista e os bares, cafés e restaurantes dão-lhe uma vida merecedora de destaque.
É neste local que, todos os finais de semana, se realiza o Santo Domingo en Fiesta, uma programação especial que inclui música, dança ou teatro abertos ao público.

Na região há outro ponto de interesse a visitar – o Salto El Limón, uma cascata com 52 metros de altura acessível apenas a pé ou a cavalo. De Las Terrenas são três horas de caminho (ida e volta) para mergulhar na sua piscina natural.

E mesmo ali ao lado, encontramos a Fortaleza Ozama, edificação histórica e militar construída entre 1502 e 1508, a mais antiga do continente americano. Tinha como funções a defesa da cidade de piratas e conquistadores e serviu também como prisão. Hoje, é um dos locais mais visitados da cidade que combina a herança histórica com o caráter cosmopolita de uma capital moderna. Hotéis de charme, restaurantes gourmet e de cozinha crioula, discotecas, museus e lojas das grandes marcas internacionais também não são difíceis de encontrar por Santo Domingo, tantas vezes relegada – injustamente –
para segundo plano quando se fala de férias na República Dominicana.

A três horas e meia em autocarro está Samaná, um segredo que já esteve bem guardado e que, nos últimos anos, tem despertado a atenção de turistas de todo o mundo. Ainda em números aceitáveis, sem multidões e com muito para deixar qualquer um boquiaberto. Esta península é uma das zonas mais virgens do país que divide a ilha Hispaniola com o Haiti. Santa Bárbara de Samaná, a mais importante cidade da região, tem cerca de cinquenta mil habitantes e está virada para o turismo. Nem outra coisa seria de esperar, já que destinos de praia como Las Terrenas, Las Galeras ou Playa Bonita têm quase sempre honra de capa de revista de viagens. Entre pequenos hotéis de charme e os das grandes cadeias internacionais, a escolha é variada e se ficar deitado na praia é um programa imperdível, também a descoberta deste nicho ecológico enche as medidas.
A península é maior (850 quilómetros quadrados) do que a maioria das ilhas das Caraíbas e inclui o maior coqueiral do planeta, de acordo com os dados oficiais do turismo local.

O povo dominicano não dispensa a dança, a música, o convívio e a cerveja bem gelada. O clima ajuda e há sempre tempo para estar com os amigos, seja no bar ou nos lugares da moda.

De Santa Bárbara partem lanchas rápidas e catamarãs em direção ao Parque Nacional Los Haitises. São três quartos de hora de viagem por aproximadamente 45 euros por pessoa, com direito a almoço a bordo, bebidas e algumas horas de praia em Cayo Levantado, um paraíso que ficou conhecido internacionalmente por ilha Bacardi, graças à rodagem, no século passado, de uma campanha publicitária da marca de rum naquele local.

O Parque Nacional foi criado oficialmente em 1976 e faz parte da baía de Samaná. Tem uma superfície de 3600 quilómetros quadrados de área protegida e leva o nome de Haitises graças à terra alta e de montanhas de que é composto, uma herança do povo taíno. Além das elevações no terreno e a floresta densa, os visitantes podem ver de perto os mangais, filtros naturais da região, e as grutas semissubmersas onde não faltam exemplos de arte rupestre. O passeio a baixa velocidade, de barco, por entre as árvores e através dos canais de água salgada é um dos momentos altos da viagem. Uma paisagem que não deve ser esquecida quando fizer a marcação das suas férias.

Segue-se a viagem até ao Cayo Levantado, a única presença caribenha no Clube das Baías Mais Belas do Mundo, apadrinhado pela UNESCO. Em Portugal, essa honra cabe à baía de Setúbal e Arrábida. A joia da coroa do grupo hoteleiro Bahia Principe localiza-se neste pequeno paraíso de areias brancas e águas turquesas. Luxo não falta, nem a vontade de perder o barco de regresso a Samaná. Este é um daqueles locais onde apetece ficar de forma indefinida, mas não há tempo para essas vontades inconscientes.

A península de Samaná é uma das zonas mais virgens do país que divide a ilha Hispaniola com o Haiti. Santa Bárbara de Samaná, a mais importante cidade da região, tem cerca de cinquenta mil habitantes e está virada para o turismo.

Na região há outro ponto de interesse a visitar – o Salto El Limón, uma cascata com 52 metros de altura acessível apenas a pé ou a cavalo. Com saída de Las Terrenas, são três horas de caminho (ida e volta) para dar um mergulho na piscina natural criada pela queda de água. Ao fim de semana, são muitos os visitantes que aqui acorrem, por isso aconselha-se uma visita nos restantes dias. Será a melhor forma de apreciar a tranquilidade deste recanto que parece tirado de um filme. E por falar em paisagens inesquecíveis, que tal um pulo até Boca Chica. Depois da descoberta da península de Samaná, há que voltar à região de Santo Domingo e apanhar o avião de regresso à Europa. Por isso mesmo, guarde um par de dias para Boca Chica, nas proximidades do aeroporto internacional.

Esta praia está protegida por uma barreira de recifes que lhe garante águas calmas e mar azul. É o local de eleição para as escapadinhas de fim de semana dos habitantes de Santo Domingo, com direito a petiscos com os pés na água, cerveja fresca e banhos de sol de fim de férias. Mergulho e snorkeling (há um navio afundado propositadamente) são duas das muitas atividades aquáticas disponíveis na região e, à noite, a oferta é vasta e interessante para quem não dispensa uns passos de dança e o contacto com a população local.

É um país interessante, este. E não apenas pelas suas qualidades naturais. Historicamente, está recheado de invasores, disputas e multietnicidade. Europeus, africanos – devido ao negócio dos escravos a partir do século XVI– e indígenas tornaram a população dominicana uma combinação de cores e culturas repletos de riqueza. Os habitantes originais (os já referidos taínos) são considerados um dos povos mais pacíficos do continente. Viviam essencialmente da caça, da pesca e da agricultura até à chegada dos europeus em 1492. No final do século XVII, os franceses tomaram conta da parte ocidental da ilha e, em 1795, Espanha cedeu o setor oriental a França. O território ainda voltou a mãos espanholas, mas em 1821 um grupo de dominicanos proclamou a chamada Independência Efémera.

Menos de um ano depois, os haitianos invadiram a outra metade da ilha e mantiveram-se no poder durante 22 anos até ao nascimento da República Dominicana, liderada por Juan Pablo Duarte. Passaram 17 anos até a jovem república ser novamente anexada por Espanha. O início do século XX foi o da entrada dos EUA na realidade dominicana. Os norte-americanos passaram a administrar o território em 1907 e em 1916 invadiram o país. Entre o caos e a instabilidade surgiu, em 1930, o ditador Rafael Leonidas Trujillo, um dos mais implacáveis líderes da América Latina. Esteve trinta anos no poder até às primeiras eleições livres (1962).

De Santa Bárbara partem lanchas rápidas e catamarãs em direção ao Parque Nacional Los Haitises e Cayo Levantado. São 45 minutos de viagem, com direito a almoço a bordo e algumas horas de praia ou visita à reserva.

O escritor Juan Bosch foi o vencedor mas sete meses depois foi deposto. Estalou a guerra civil e, em 1965, voltaram os norte-americanos com uma segunda invasão. Um ano depois, novas eleições e a vitória de Joaquín Balaguer que se manteve 12 anos na chefia dos destinos dominicanos. A partir de 1978, o processo democrático estabilizou-se e hoje a República Dominicana vive um longo período de acalmia política, depois de séculos de mudanças bruscas e influências externas.

A gastronomia é um bom exemplo da diversidade a que o país esteve sujeito, com fusões improváveis e ajustadas à realidade da ilha. Na mesa, há um prato a que não se pode fugir, chamam-lhe bandera – arroz branco, feijão vermelho, carne de frango ou de vaca, salada ou tostones (rodelas de banana frita). Ao almoço é muito fácil encontrar a iguaria um pouco por todo o lado, seja em restaurantes ou casas particulares. Mas há muito mais para provar por estas paragens. Peixe e marisco, vegetais, fruta, carneiro ou pele de porco – os famosos chicharrones – não podem deixar de ser provados. Para acompanhar, a cerveja Presidente bate toda a concorrência, principalmente se for servida com «véu de noiva», ou seja, a garrafa revestida por uma camada fina de gelo. No fim da refeição, há um copo de rum à espera. Envelhecido e sem gelo para os verdadeiros apreciadores ou sob a forma de cocktail, como cuba livre, mojito, daiquiri ou piña colada.

Falar da República Dominicana é também referir o universo das compras. Neste campo, as ofertas são variadas. Charutos, café, joias de âmbar, cerâmica, trabalhos em coco, madeira ou couro e rum estão no topo das preferências dos muitos visitantes que todos os anos chegam à ilha. Regatear faz parte da cultura local, por isso não se deixe levar pela primeira impressão. Se os dominicanos gostam de uma boa negociação, há outro campo em que eles são fervorosos adeptos: o desporto. Basebol é a modalidade principal, um orgulho nacional que se traduz em cerca de quarenta por cento dos jogadores dos principais campeonatos serem oriundos da América Latina.

Desta fatia, o país é líder com nomes de peso como Pedro Martinez ou Sammy Sosa. No atletismo, Félix Sanchez é um nome a reter. O antigo campeão olímpico dos 400 metros barreiras é sempre um bom tema para quebrar o gelo em qualquer conversa. Outro assunto que vale a pena referir é a música. E aí quem manda é Juan Luis Guerra, o famoso criador do tema Borbujas de Amor, personalidade com bastantes seguidores dentro e fora do país. Uma vez que a música está quase sempre presente no dia a dia dos dominicanos, não se estranha que a principal festa da ilha seja o Carnaval. É a celebração da liberdade, da folia e do sarcasmo que se estende a cada ponto da ilha, da aldeia mais pequena à capital. Neste ano, o domingo de Carnaval é a 4 de março. Porque não passá-lo em paragens mais quentes?

godominicanrepublic.com

Gastronomia
Há muito para escolher na culinária dominicana. Além do feijão com arroz e carne, eleja o peixe e o marisco como opções. O lambi é um prato que deixa saudades. São búzios refogados com pimentos e cebola, acompanhados pelos famosos tortones (rodelas de banana frita).

A não perder

Fortaleza Ozama
Monumento histórico no centro colonial de Santo Domingo. Iniciada em 1502, foi terminada em 1508 e é a mais antiga fortificação militar do Novo Mundo. Aberta para visitas todos os dias entre as 09h00 e as 17h00.

Faro a Colón
Monumento e museu em Santo Domingo que homenageia Cristóvão Colombo e que, alegadamente, terá no seu interior os restos mortais do navegador. Durante a visita descubra elementos de quase todos os países do mundo, numa pequena viagem à volta do planeta.

Salto del Limón
A hora e meia a cavalo de Las Terrenas, há uma cascata que merece a sua atenção. São 53 metros de queda de água para uma piscina natural numa envolvente natural que vai deixar-lhe boas memórias.

Las Terrenas
Esta pequena localidade na província de Samaná já foi porto de chegada de navios de escravos e é hoje uma das grandes esperanças do turismo dominicano. A praia é ideal, a oferta hoteleira e de restauração supera as expetativas e Santo Domingo está apenas a duas horas de carro pela autoestrada.

Texto de Ricardo Santos - Fotografias de Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
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