Os desgostos não se discutem, os gostos é outra coisa…Quando alguém fica perdido nas ruas do bairro do sexto arrondissement de Paris, Saint-Germain-des-Prés, não há margem para as discussões. Naquele que é talvez o mais parisiense dos bairros de Paris não há desgostos. Há talvez apenas camadas de bom gosto. Mas aí já entramos na subjetividade.

O único facto cada vez mais consumado é que, em 2015, continua a ser um dos locais para se saborear a boa vida de Paris com um espírito não muito turístico da capital francesa. Não que não apareçam turistas, mas continua a haver uma predominância de locais. Snobs ou descontraídos, intelectuais de esquerda ou de direita. Poseurs ou castiços.

Em Saint-Germain, precisamente na margem oposta ao bairro rival, o Marais, parece tudo mais genuíno. E também nunca passa de moda. Renova-se, estimula-se.

Passar no Boulevard Saint-Germain e ficar a olhar para as pessoas sem dar nas vistas pode ser um desporto recomendável. São ruas, avenidas e pracetas que convidam ao beautyspotting: as mulheres são lindas, os homens vestem-se bem e até as senhoras de terceira idade têm um je ne sais quois.

Eterna Paris
Independentemente do terror e do conflito de civilizações, a capital francesa é, e será sempre, a cidade do amor. Voltaremos aqui as vezes que forem necessárias. Sem medo.

À noite, é também da praxe ficar nas movimentadas esplanadas e olhar. Olhar, mirar, observar. Os franceses fazem-no com tal estilo que só nos apetece copiar. Seja na esplanada da Maison Pradier, vencedora do melhor éclair de chocolate de Paris, seja num qualquer café de esquina. Esse é um dos encantos de um bairro que mistura sem indigestões aquela sofisticação parisiense de nariz empinado com alguma hospitalidade genuinamente simpática. Da margem do Sena até aos labirintos perto da abadia com o nome do bairro. E aí sentimos outra coisa: o orgulho dos habitantes. É como se fosse uma ilha dentro de Paris. Há a cidade e há Saint-Germain-des-Prés. Está lá tudo: lojas, cinemas de arte e ensaio, brasseries, cafés, as Belas-Artes e mil e uma galerias. Isso e uma pequena grande dose de detalhes arquitetónicos da Idade Média.

Ajuda estar apaixonado para ficar apaixonado por este bairro. Mas isso é só um detalhe. Na Paris de Saint-Germain-des-Prés os desiludidos românticos e os amorosos ressacados também ficam com os seus males espantados.

No coração do coração de Paris, o bairro onde que todos querem ainda ser vistos. A tradição é o mais importante em Saint-Germain-des-Prés. Impossível não ficar viciado.

1. Les Deux Magots
lesdeuxmagots.fr
Em Saint-Germain-des-Prés as principais atrações são os cafés literários. Em especial o Les Deux Magots e o Café de Flore. O Les Deux Magots tem a qualidade muito própria de ter ficado suspenso no tempo. Os seus empregados «velha escola», a sua sala longa e de classicismo impenetrável, marcam uma entrada numa terra temporal da Paris da década de 1930, tal como acontecia a Owen Wilson em Meia-Noite em Paris, de Woody Allen. Precisamente resquícios de um passado glorificado pelos encontros entre escritores. Reza a lenda que Oscar Wilde bebia o seu chá religiosamente aqui e foi nesta esplanada que

Mallarmé se cruzou com Verlaine.
6, Place Saint-Germain-des-Prés
75006 Paris
Tel.: 0033(0)145485525
Fecha à 01h30

2. Hôtel Pont Royal
hotel-pont-royal.com
Passamos a Pont Royal, andamos uma rua e deparamo-nos com este hotel cinco estrelas low profile. Um hotel com carisma e que se integra na suavidade da paisagem. Logo à chegada, fotografias de escritores que frequentaram esta unidade. Não é mesmo nadinha cliché dizer que a brisa que sopra em Saint-Germain-des-Prés tem fragrância intelectual…

5-7, Rue de Montalembert
75007 Paris. Tel.: 0033(0)142847000
Preço: a partir de 264 euros por noite/pessoa

3. Café de Flore
cafedeflore.fr
Ainda mais mediatizado pela sua aura literária é o Café de Flore, o café preferido de Sartre, Camus e Simone de Beauvoir. Hoje, não há lastro de fantasmagoria literária, mas no menu surgem referências aos vultos que no pós-Segunda Guerra Mundial fizeram a fama do café. Não existe esse lastro mas sobra aquele fascínio de lugar sagrado. Seja a que horas for, nunca é fácil conseguir uma mesa na esplanada. Dizer un café s’il vous plaît custa 4,60 euros. Há também um elegante e carismático placard a vidro que anuncia caviar e foie gras. Luxo do bom.

172, Blvd. Saint-Germain
Tel.: 0033(0)145485526
Fecha à 01h30

Os cadeados já começaram a ser retirados das pontes parisienses, mas esta será sempre a cidade do amor.

4. Emporio Armani Café
massimomori.net
Dentro de uma loja de roupa de designer está uma das pérolas do criador gastronómico Massimo Momori, um restaurante requintado que se aliou ao mundo da moda. Comida italiana o menos manipulada possível. São 16 anos de sucesso entre uma elite de bairristas que não dispensam os pratos com trufas negras, uma autêntica loucura.

Aberto todos os dias com serviço
contínuo até às 00h00.
Preço médio: 90 euros (jantar)

5. Les Beaux Arts
Visitar as Belas-Artes de Paris é entrar dentro do espírito artístico da margem sul da cidade. A personificação de um ideal de artes da Rive Gauche está cá toda. Entra-se pelo largo na Rue Bonaparte e há logo estudantes no átrio a pintar com aquele panache artístico. Depois, explora-se e vemos arcadas e salas amplas. Há uma ligeira degradação, mas sentimos o peso do tempo e isso dá um charme que não se explica. No museu Palais des Études costuma haver sempre exposições, uma ala lindíssima. Recomenda-se sem restrições a galeria com exposições temporárias na La Chapelle de L’École des Beaux Arts. Sempre gratuito e sempre com aquele mecanismo de nos fazer imaginar na Paris do Maio de 68.

14, Rua Bonaparte 75006 Paris

Texto de Rui Pedro Tendinha
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