Caminhants nas pistas de Semmering, na Áustria (Foto: Alex Halada / AFP)

Ioga, caminhadas, ou simplesmente descanso entre amigos. À falta de neve, as estâncias de esqui alpinas que não fecharam portas tentam reinventar-se com o olho posto no termómetro. Tudo culpa do aquecimento global.

Encostas cor de terra, pistas de esqui que são estreitos caminhos alvos de neve sintética, os termómetros teimosamente acima dos mágicos zero graus. Os Alpes estão à míngua de frio por estes dias de alterações climáticas. E veem as estâncias de esqui a fechar uma atrás a outra, atirando centenas de funcionários dos meios mecânicos para o desemprego técnico.

Este mês de janeiro já bateu recordes de “calor extremo” nas altitudes alpinas. Da Áustria a França, da Itália à Suíça, grande parte das pistas de esqui derreteram e vivem sob temperaturas que não permitem, sequer, que se produza neve artificial.

Muitos resorts fecharam mesmo, outros oferecem serviços reduzidos, outros ainda diminuíram os preços dos passes para aceder aos domínios, limitados, nos melhores casos, a um terço do habituais.

A estância Semmering Hirschenkogel Bergbahnen, na Áustria, não vê neve há várias semanas e as temperaturas já não descem abaixo dos três graus positivos há demasiado tempo.

A diretora da estância, Nazar Nydza, admite que, nestas condições, deixou de ser economicamente viável produzir neve artificial no pequeno resort, que ainda conseguiu acolher um campeonato mundial de esqui em dezembro.

“É uma pena. Teria sido bom vir à Áustria no meio do inverno e vê-la nevada”, lamenta Gregor Macara, um climatologista de 34 anos vindo da Nova Zelândia para visitar amigos.

Mais a ocidente, na estância suíça de Leysin, junto à fronteira com França, o estudante Alexis Boteron diz que a neve artificial não é a melhor, mas o que interessa é estar com amigos e divertir-se.

O problema é que a falta de neve e de condições atmosféricas para manter a que há contribuem para o aumento dos acidentes de esqui. A Áustria registou já 13 mortes nesta época de inverno, contra a média de sete dos dez anos anteriores.

Depois de anos de restrições resultantes da pandemia de covid-19, as esperanças são colocadas numa eventual neve futura. Até porque a procura do esqui na pré-época revela o desejo de esquiar do público.

Enquanto não neva a sério, as estâncias trocam o acesso a pistas por cursos de ioga e dança, como em Flumserberg, na Suíça, onde só 30% das pistas estavam abertas na semana passada.

Em Togon, um resort familiar a baixa altitude (1200 a 199 metros) no Valais, na Suíça, não há esqui de todo, tendo as pistas sido convertidas em trilhos para caminhadas.

Em França, menos de metade de todas as pistas estavam abertas na semana passada, segundo o grupo Domaines Skiables de France, que representa 250 operadores de meios mecânicos no país. Ao ponto de vários eventos desportivos terem sido cancelados, adiados, ou trasladados, como o Troféu Andros, em Tignes, ou o Campeonato Mundial Telemark, em Contamines, ou a corrida de cães de trenó Retordica, em Chatillon-de-Michaille.

Em Itália já há pedidos de apoio aos funcionários do setor.

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