Tesouros dos países vistos pelos embaixadores

Na sala da residência lisboeta da embaixadora britânica, perto de Belém, destaca-se a pintura de uma infanta portuguesa. É a formosa Catarina de Bragança, por casamento com Carlos II rainha de Inglaterra e ainda hoje recordada por ter introduzido o hábito do chá nas Ilhas Britânicas em meados do século XVII. Mas é de outra bebida também muito apreciada no Reino Unido – e cada vez mais popular por cá – que fala Kirsty Hayes. «Gosto muito de gin. Aprecio em especial o Tanqueray, apesar de o Gordon’s ser mais famoso. Mas confesso que não sou uma grande consumidora. Para se apreciar bem não se deve beber todos os dias», diz a embaixadora, de 38 anos, desde o verão do ano passado colocada em Lisboa.

Casada com outro diplomata de carreira, de quem tem dois filhos, Kirsty Hayes chegou a viver no Sri Lanka. O antigo Ceilão era um daqueles territórios onde nos tempos coloniais o gin fazia figura de rei, pois tomado com água tónica, com a dose certa de quinino, tinha o combate à malária como álibi para ser consumido a qualquer hora, explica sorridente a embaixadora britânica, sem confirmar se a tradição se mantém entre os europeus que passam uma temporada na Ásia do Sul.

«Temos muito orgulho da nossa tradição.
E isso tem que ver também com os nossos produtos, seja o gin, o Aston Martin ou James Bond.»

Embora quente, Portugal não ostenta um clima tropical, mas nem por isso o gin tem deixado de ganhar adeptos no país. «Há bons bares para se beber um gin em Lisboa. E os portugueses adoram os cocktails», comenta Kirsty Hayes. Para promover o consumo desta bebida tipicamente britânica e, claro, das marcas produzidas no Reino Unido, a embaixada até se associou a uma campanha dos armazéns El Corte Inglés que ensina a tirar o máximo proveito daquilo que a diplomata descreve como a «grande versatilidade do gin».

Sobre se Isabel II, que também tem direito a quadro na residência, é apreciadora de gin, a diplomata diz não ter conhecimento, mas relembra que a rainha mãe (a viúva de Jorge VI) era famosa pelo seu gosto por esta bebida forte que no processo de destilação é enriquecida com zimbro. E viveu mais de 100 anos, como gostam de lembrar os amantes do gin.

Kirsty Hayes nasceu em 1977 em Aberdeen.
Antes de ser embaixadora britânica em Lisboa, foi diplomata em Hong Kong e em Washington.

«Temos muito orgulho da nossa tradição. E isso tem que ver também com os nossos produtos, seja o gin, o Aston Martin ou o James Bond», salienta a diplomata. E não por acaso os filmes do famoso agente 007 ajudam a divulgar este glamour britânico, pois Bond tanto surge a beber um cocktail Vesper Martini como a conduzir um dos bólides da marca emblemática nascida em vésperas da Primeira Guerra Mundial. «Os filmes de James Bond procuram sempre promover o que é britânico. Adele interpretou o tema de Skyfall», nota ainda Kirsty Hayes.
Bond também é fã de whisky, outra bebida bem britânica, ainda que muito associada à Escócia, de onde é originária a diplomata. Já o chá nada diz ao agente secreto. Que diria Catarina de Bragança?

Texto de Leonídio Pualo Ferreira
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