Um país que durou apenas três anos mas cujo nome ficou para sempre associado às imagens desoladoras que se viram na televisão. Saiba um pouco mais sobre a sua história.

 

Para inglês ver
É no regresso que o viajante faz as contas às riquezas conseguidas durante a ida. Isto é tanto válido para Colombo, como para aquele que embarcou imprudentemente nesta viagem de destinos impossíveis, como também para os corsários ou para os negreiros transatlânticos.

Escravos

Que sempre os houve. E ainda os há. Aliás, quando Portugal foi constrangido a abolir a escravatura, em 1836, o nosso engenho linguístico produziu uma das suas expressões idiomáticas mais assinaláveis e demagógicas: “é para inglês ver”. Era só um aviso para o futuro. Que é o nosso presente.
Estamos agora no epicentro da velha escravatura, o Golfo da Guiné. Mais em concreto no delta do rio Níger. E ainda em maior detalhe, na República do Biafra. É espantoso como uma realidade que durou apenas três anos, entre 1967 e 1970, se mantém tão viva ao fim de meio século. Assim se vê a força da TV. A guerra de secessão do Biafra face à Nigéria foi, talvez, a primeira em prime-time televisivo. E Salazar, que tomou o partido dos rebeldes, não deixou de consentir a exibição das imagens de desolação que marcaram o Biafra para a posteridade: os refugiados, os estropiados e, acima de tudo, as crianças subnutridas.

Mas, por certo, não foram os ventres dilatados de milhares e milhares de crianças que foram condenadas à pena de morte, pela fome, nem os maravilhosos bosques e florestas do país, sequer a biodiversidade das savanas e das altas montanhas, que impeliu o governo português, também ele a braços com três frentes de guerra de independência em África, a mostrar apoio à jovem república. Será que há petróleo no Beato? Desculpem, no Biafra? Que outra mercadoria melhor serve para atear uma boa guerra? Esta durou três anos e só teve um dia de armistício: 4 de fevereiro de 1969, que calhou a uma terçafeira, dia em que o Santos defrontou a seleção do Meio Oeste, no Benim, junto à fronteira com o Biafra. Parar uma guerra não é para todos: Pelé, Raul Solnado…

República do Biafra
1967-1970
Capital: Enugu
Línguas oficiais: igbo e inglês
Região sudoeste da atual República Federal da Nigéria.
Na década de 60 do século XX formou-se a tempestade perfeita para a região do Biafra,
no delta do rio Níger. A grande Nigéria obtinha a independência da Inglaterra e estalava de
seguida uma guerra civil que, durante os três anos do conflito, provocou grande consternação no mundo inteiro, nomeadamente pela violência das imagens televisivas que, pela primeira vez e em detalhe, mostravam a realidade das crianças africanas subnutridas.

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Artigo publicado originalmente na edição de maio de 2020 da revista Volta ao Mundo, número 307.

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