Lição número um: viajar é aprender. Lição número dois: há muitas mãos-cheias de cidades universitárias que são fabulosos destinos de férias. Lição número três: a Europa está pejada delas.

Visite connosco oito cidades que provam que estudos, cultura e boémia nem sempre são incompatíveis.

 

1. Manchester, Inglaterra

Boa parte dos grandes músicos e bandas made in UK chamam-lhe casa. Os livros referem-na como«o berço da revolução industrial». Os turistas consideram-na uma agradável surpresa. Mas, mais do que tudo isto – e do que cidade fundamental do futebol (julgou que nos esquecíamos da referência à bola?), Manchester é também uma notável cidade universitária: a universidade da casa é a maior do Reino Unido e uma das mais cotadas a nível internacional. Prova disso é que, só no atual corpo docente, estão quatro laureados com o Prémio Nobel.

A alcunha MADchester já não lhe assenta tanto como uma luva quanto nos idos anos 1980, altura em que o clube The Haçienda estava no auge, mas ainda assim a cidade continua com pedalada para dar e vender. Além dos tradicionais roteiros turísticos que incluem monumentos como o Town Hall ou a catedral, há percursos onde são a música e a boémia quem mais ordena. Apanhar boleia da malta da Manchester Music Tours (entre eles está Craig Gill, DJ e baterista dos Inspiral Carpets) é mergulhar de cabeça na herança musical da cidade e ouvir histórias suis generis de bandas como Joy Division, New Order, The Smiths, Stone Roses ou Oasis.

Ver e fazer
Quando os monumentos e parques da cidade derem tudo o que têm a dar, encaminhe-se para a Oldham Street, no Northern Quarter. Além do passeio da fama que imortaliza as grandes bandas da terra, existe, porta-sim-porta-também, um bar com música ao vivo ou uma loja de discos – o Nightand Day e o Dry Bar são boas opções para beber uma pint e a Vinyl Exchange ou a Piccadilly Records para comprar vinis. Para abanar o esqueleto noite dentro porque não o Factory 251, descendente direto do mítico The Haçienda. Fãs de futebol não vão negar uma visita à casa dos blues ou dos reds.

Medicina, Física e Biologia
520 215 habitantes (2014)
38 000 alunos
visitmanchester.com

 

2. Uppsala, Suécia

O que têm em comum o físico Andres Celsius, o botânico Carl Linnaeus e o secretário-geral da ONU Daj Hammarskjöld? Todos passaram pela mais antiga instituição de ensino superior da Escandinávia. Fundada em 1477, a Universidade de Uppsala, mais do que uma fábrica de prémios Nobel, é a preferida da família real sueca. É responsável por boa parte do charme da cidade que, apesar de pequena, é a quarta maior da Suécia. O centro histórico é dominado pela Catedral de Uppsala (impressionante obra gótica) e pelo castelo medieval.

Nos domínios da universidade existe bastante que ver, como o Museu da Universidade, especialmente a ala dedicada às ciências médicas. A melhor época para visitar a terra natal do cineasta Ingmar Bergman é qualquer uma que não coincida com o pico do verão – os estudantes estão de férias e a cidade fica mais morna.

Ver e fazer
Os três chamarizes da cidade são a história, a cultura e o conhecimento. Para beber um pouco de história impõe-se uma visita à catedral e ao castelo. Para um banho de cultura nada como consultar aagenda e ver que concertos, exposições e peças estão em cena. O conhecimento está um pouco por toda a parte na cidade banhada pelo rio Fyrisan, seja nos Museus da Universidade seja na Casa de Lineu e nos seus deslumbrantes jardins povoados por plantas raras vindas dos quatro cantos do globo.

Artes, Ciências Sociais, Medicina, Farmácia
200 032 habitantes (2011)
41 000 alunos
destinationuppsala.se

 

3. Brno, República Checa

É a segunda maior cidade da República Checa e capital da região da Morávia. É o equivalente checo da nossa Coimbra e um dos destinos de eleição dos estudantes portugueses (dos de Medicina sobretudo). Ciente de que os seus quase 90 mil alunos precisam de escapes para os livros, Brno oferece duas dezenas de grandes eventos culturais por ano a quem lá vive e a quem por lá passa – a maior parte deles ligados à música e ao teatro.

Ao viajante, Brno revela-se uma boa alternativa ao corrupio massificado de Praga. O património arquitetónico é um mil-folhas de estilos que vai do renascentista ao art noveau. No que ao valor monumental diz respeito, Brno também está muito bem servida: entre outros, são protagonistas a Igreja de São Jaime e a sua impressionante nave gótica, o Mosteiro Capuchinho e o Castelo de Spilberk. Diz-se que passar por Brno e não sair à noite é cometer um pecado capital. Há pubs, beer gardens e winebars para todos os gostos e feitios, música ao vivo e raves que duram até altas horas da madrugada. São opções para os que têm pedalada para dar e vender.

Ver e fazer
A Tugendhat Villa, projetada por Mies van der Rohe e orgulhosa integrante da lista de Património Mundial da UNESCO, é um dos porta-estandartes da cidade. Mas há mais. Veja-se o Castelo Špilberk, residência dos primeiros condes da Morávia no século XIII, as catedrais de São Pedro e de São Paulo ou o Castelo de Veveří.

Medicina, Ciências e Desporto
384 277 habitantes (2011)
89 000 alunos
gotobrno.cz

 

4. Bolonha, Itália

Bolonha tem três cognomes e milhentos predicados que a tornam um magnífico cartão-de-visita de uma Itália genuína. Chamam-lhe «gorda» porque é ótima cozinheira; «vermelha» não só por causa da cor dos edifícios, mas também por questões políticas (foi baluarte da resistência ao fascismo) e «sábia» porque é a morada da mais antiga universidade do mundo ocidental. Imune ao turismo de massas, a cidade das arcadas a perder de vista tem tanto de clássica quanto de boémia.

A universidade fundada em 1088 é ponto de passagem obrigatória, quanto mais não seja para ver os corredores e as salas por onde passaram Dante, Petrarca, Copérnico, Pasolini e também Umberto Eco que aqui ensinou a cadeira de Semiótica. Isso e as Aulas Magnas – a dos Artisti e a dos Legisti – ou o Archiginasio e os seus deslumbrantes frescos. Fora das fronteiras da escola, sugere-se que se estacione numa das esplanadas da Piazza Magiore a tomar um café à sombra das arcadas. Aí sente-se o pulso à cidade ao som de incríveis performances de músicos de rua – ao fim e ao cabo, Bolonha também se devia chamar «musical» já que tem o carimbo de cidade criativa da música atribuído pela UNESCO em 2006.

Ver e fazer
Um percurso histórico por Bolonha implica picar o ponto na Basílica de São Petrónio, a igreja mais querida dos bolonheses, na Basílica de San Domenico, fiel guardadora das esculturas de São Petrónio e São Procolo, da autoria de Miguel Ângelo, e subir ao alto da torre Asinelli para uma panorâmica de pasmar sobre a cidade. Para um programa mais contemporâneo, nada como seguir os passos dos estudantes que, entre outros spots, elegem o MAMbo (museu de arte moderna) para passar parte do dia e a Piazza Verdi ou a Piazzetta Marco Biagi para socializar à noite.

Direito, Medicina, Matemática, Literatura, Filosofia, Arquitetura
375 893 habitantes (2012)
No ano 2014-2015 estiveram inscritos 84 744 alunos
bolognawelcome.com

 

5. Oxford, Inglaterrra

Se pedirmos a cinquenta pessoas para nomearem uma cidade universitária, muito provavelmente 25 vão responder Cambridge e outras 25 dirão Oxford. Conhecemo-la dos livros, vimo-la em filmes. Ouvimos dizer que é uma escapadinha ideal ao ritmo de Londres e sabemos de cor e salteado que é a instituição de ensino superior mais antiga de Inglaterra.

Vaguear pelas ruas de Oxford é como dar um passeio pelo século XIII já que as fachadas cor de mel e as ruas empedradas pouco mudaram desde então. As quarenta faculdades, como a mítica Christ Church, distribuem-se pela cidade e é de bom grado que os museus e as bibliotecas (a de Bodleian é de pasmar) da instituição recebem o visitante. Conhecê-las é tão fundamental quanto matar tempo nos jardins, praças e pátios, procurar raridades nas livrarias e passear à beira do Tamisa que aqui se chama Isis.

Ver e fazer
Saltitar de bar em bar é um dos entreténs dos estudantes, opção turística tão válida quanto visitar museus. Por falar em museus, recomenda-se o Modern Art Oxford. Já no que toca a bares, um dos pubs históricos é o The Eagle & Child, onde Tolkien era assíduo.

Medicina, Filosofia, Economia, Gestão, Direito
150 200 habitantes (2011)
22 100 alunos
oxfordcityguide.com

 

6. Barcelona, Espanha

O botellón nas Ramblas e as noites selvagens no mítico Razzmatazz. Discutir em cinco línguas quem faz o quê nas tarefas de casa e viver um amor proibido com uma mulher casada. Se esteve atento ao cinema francês do começo do milénio, sabe que estamos a recordar

A Residência Espanhola, filme de Cédric Klapisch, que brilhantemente retratou a vida de um estudante de Erasmus numa das cidades com mais movida do Velho Continente. A Barcelona de hoje não é muito diferente da que Xavier (personagem do filme) encontrou: uma cidade multicultural com uma energia única, arte aos pontapés e um ritmo intenso. A Universidade de Barcelona (e as outras) traz ainda mais achas para a fogueira e atulha a cidade de gente jovem, dinâmica, com muito sangue na guelra e sempre pronta para a fiesta. Esta malta costuma parar no bairro Gràcia, um dos mais hip da cidade, bem como no Parque Montjuic, zona alta onde não faltam áreas verdes, museus (o MANC e a Fundação Miró, por exemplo). Ter uma zona balnear bem à mão de semear é outro dos trunfos de Barcelona na hora de conquistar jovens estudantes.

Ver e fazer
Para um novato na cidade impõe-se a trindade: Casa Batló, Sagrada Família, Parque Güell. Os repetentes talvez prefiram passar mais tempo a curtir lugares como o Pavilhão Mies van der Rohe, símbolo da arquitetura avant-garde, e os veteranos já nem olham duas vezes para os clássicos e preferem algo mais radical: escolher um restaurante que consiga satisfazer de igual modo o palato e a carteira. É que na capital catalã dar ao dente também é fazer turismo.

Arquitetura, Economia, Design
1 611 822 habitantes (2013)
cerca de 90 500 alunos
barcelonaturisme.com

 

7. Toulouse, França

Paris pode estar no número um do ranking das melhores cidades universitárias da Europa, mas descemos até à região de Midi-Pyrénées e à apetitosa «cidade rosa», Toulouse. A quarta maior cidade de França é morada da segunda maior universidade do país. A reboque da instituição chegam todos os anos milhares de estudantes que se misturam com os da casa e enchem de vida as principais praças, parques, cafés e museus. Se no passado Toulouse prosperou com o comércio da cor pastel, hoje as indústrias mais prósperas estão ligadas aos céus – aeronáutica e aeroespacial, com direito a museus especiais (e espaciais). O Aeroscopia documenta a história da aviação iniciada em Toulouse em finais do século XIX e a Cité de l’Espace é uma incrível viagem além da estratosfera.

Ver e fazer
Aninhado entre o rio Garonne e o Canal du Midi, o centro histórico de malha medieval está forrado de ícones. É o caso do Convento dos Jacobinos, da Catedral e do Musée des Augustins, casa-forte de obras como Le Christ entre Deux Larrons, de Rubens, várias esculturas com a assinatura do genial Rodin e quadros de Toulouse-Lautrec, filho querido da região. Os fãs do traço pós-impressionista do pintor devem aproveitar a viagem para dar um salto a Albi, onde há um museu inteiramente dedicado à sua vida e obra.

Engenharia, Economia, Direito
441 802 habitantes (2010)
100 500 alunos
toulouse-visit.com

 

8. Salamanca, Espanha

Cidade espanhola do conhecimento, ponto de passagem de cérebros como o matemático português Pedro Nunes – cosmógrafo-mor do reino português no século xvi e inventor do nónio –, Salamanca dá guarida há quase oito séculos a uma das mais respeitadas universidades europeias. A Universidade de Salamanca é um dos pontos de interesse da cidade, com o Museu e a Biblioteca Antiga a fazerem as honras da casa. No centro histórico, classificado desde 1988 Património Mundial da Humanidade, tropeça-se em resquícios romanos, medievais, renascentistas e também em museus onde a modernidade marca o ritmo. O entardecer pinta a cidade em tons de ouro e é boa ocasião para beber uma cerveja na Plaza Mayor, zona nevrálgica da terra e ponto de encontro para turistas, locais e jovens estudantes das sete partidas do globo. A fama de destino alegre deve-se em igual medida à população estudantil e aos salmantinos, povo jovial que se pela por uma boa festa.

Ver e fazer
Para conhecer Salamanca como deve ser é preciso fazer muito trabalho de campo, isto é, há que passar a pente fino os essenciais: as catedrais – a Velha e a Nova –, o Convento de las Dueñas, a Torre del Clavero, a Casa das Conchas, sem esquecer os palácios (leve a lição estudada para não falhar nenhum). No que toca a museus, estão no topo da lista o de Salamanca e o de Art Nouveau y Art Déco que tem uma impressionante a ala modernista.

Ciências Sociais e Jurídicas
149 528 habitantes (2013)
30 000 alunos
salamanca.es

 

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É por aqui que tem de passar se fizer um Interrail

Texto de Ana Maria Ventura - Fotografias Shutterstock.com
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