Roteiro

Há séculos que Córdoba apaixona o mundo inteiro. A Mesquita, cume da arte islâmica, é a alma da cidade, por onde passam cada ano mais de um milhão de pessoas. À sua volta, a Judiaria atrai igualmente todos aqueles que querem conhecer os espetaculares pátios e os becos de paredes brancas que foram outrora centro da atividade económica da cidade. Córdoba esconde muita história das distintas civilizações: cristã, muçulmana e judaica. E transmite muita cor e alegria através das ruas, das pessoas e da gastronomia. Todos os seus cantos têm uma beleza imortal e conta com uma riqueza patrimonial invejável. É uma cidade única, mágica e sedutora.

1. Mesquita

É a alma da cidade, um exemplo único de convivência cultural e religiosa. É o monumento mais esplendoroso da etapa muçulmana no Ocidente. Começou a ser construída em 785, quando Abderramão I nomeou Córdoba capital de Al-Andalus, sobre a planta da antiga igreja de San Vicente, e foi ampliada em sucessivas etapas por Abderramão II, Aláqueme e Almançor. É um dos monumentos mais impressionantes da humanidade e o edifício religioso mais singular: mesquita e catedral ao mesmo tempo. Por muitas fotos e imagens que se tenha visto antes de entrar no templo (Património da Humanidade desde 1984) fica-se impressionado pela sua dimensão e beleza. Desde o passado verão pode-se visitar este monumento à noite. Uma grande experiência, uma nova forma de conhecer o singular templo e admirar a sua beleza. O percurso noturno permite descobrir o valor artístico e a importância cultural e religiosa, sempre conduzidos pelo jogo de luzes e pela magnífica ambientação musical.

 

A cidade tem cerca de 330 mil habitantes e as raízes da sua fundação têm mais de dois mil anos. Da conquista romana resta a ponte de 16 arcos sobre o rio Guadalquivir.

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2. Judiaria

Os três pilares religiosos do mundo (judeus, cristãos e muçulmanos) conviveram pacificamente durante vários séculos na cidade de Córdoba. A Judiaria é o lugar onde viviam os judeus e hoje é um dos pontos mais turísticos. Entramos neste bairro pela famosa porta de Almodóvar e as suas ruas estreitas e labirínticas convidam-nos a caminhar por elas. Surpreendemo-nos com pátios escondidos ou fantásticos monumentos como a Mesquita. No Zoco encontramos um lindo pátio com uma original parede cheia de vasos azuis e a Sinagoga, construída em 1315, em estilo mudéjar – estilo artístico dos séculos xii a xvi nos reinos cristãos da Península Ibérica. É uma das três sinagogas conservadas em Espanha da época medieval e mantém a sua estrutura original.
Os antigos habitantes judeus eram conhecidos pela criatividade e pelo dinamismo e um dos seus pensadores mais relevantes, Maimónides, nasceu neste bairro. No meio das suas ruas encontram-se pequenas teterías (salões de chá) árabes e muitas lojas para comprar souvenirs. E para acabar da melhor forma um intenso dia de turismo na Judiaria há que visitar os Banhos Árabes – cisternas mornas, massagem aromática, chá e um bom jantar.

3. Alcácer

Depois da conquista de Castela foi preciso defender a zona que antigamente era o alcácer muçulmano (pequenas vilas fortificadas). Os Reis Católicos serviram-se do alcácer para instalar o primeiro tribunal permanente da Inquisição Espanhola e como quartel-general das suas campanhas contra a Dinastia Nasrida de Granada, o último reino mouro que restava na Espanha.
Nos jardins encontramos vegetação com as mais variadas plantas autóctones e não se pode perder o espetáculo de água, luz e som. As mais avançadas técnicas de iluminação e projeção servem para criar formas e efeitos surpreendentes.

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Ficar

4. Casa dos Azulejos Hotel
casadelosazulejos.com
lascasasdelajuderiadecordoba.com

Não faltam lugares com encanto para se hospedar em Córdoba e este é um deles, situado na Plaza de la Corredera. Convertido em hotel em 2002, destacam-se as cores tropicais e o sabor andaluz. O hotel tem uma biblioteca especializada em gastronomia, arquitetura, viagens e arte. Na parte subterrânea do século xvii e no antigo pátio está a Taberna El Escondite, um lugar ideal para provar a melhor cozinha tradicional andaluza. Podem provar-se tapas e bebidas no pátio, no bar e na sala. Há várias especialidades como as beringelas com mel, tostas “de pringá do cozido” e deliciosos croquetes. Outro local onde vale a pena ficar é no Hotel Las Casas de la Judería (5), frente ao Alcácer dos Reis Católicos e a 200 metros da Mesquita. A sua adaptação a hotel foi realizada com grande respeito pela arquitetura do prédio.

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6. Bodegas Campos
bodegascampos.com

Fundada em 1908, esta adega de vinhos finos Montilla-Moriles deu um novo rumo ao negócio há três décadas, quando se converteu numa referência da gastronomia da cidade. Em 1980 abriu a Taberna Restaurante que é, desde então, um dos lugares mais emblemáticos de Córdoba. Os clientes almoçam ou jantam nas diferentes salas das quinze casas que formam este original restaurante. É um serviço muito personalizado com a cozinha tradicional do chef Juan Gutiérrez, que já obteve diversos prémios. Patê de perdiz, risotto de rabo de touro ou ovos mexidos com espargos, simplesmente delicioso, são algumas sugestões. Na taberna, um lugar acolhedor e com muita vida, pode comer-se a qualquer hora do dia. E para surpresa dos clientes, há ainda pequenas salas para espetáculos privados de flamenco e sevilhanas. Por esta casa já passaram numerosas personalidades e artistas nacionais e estrangeiros. Membros da Casa Real, Lola Flores e a duquesa de Alba, entre muitos outros, deixaram a sua assinatura numa das barricas da casa. Fotos de toureiros e artistas enchem as paredes de uma das salas da adega.

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Salmorejo

casaelpisto.com
tabernalamontillana.es

Córdoba conquista os visitantes pela sua rica gastronomia: uma fusão de ingredientes, sabores e culturas. Ainda se encontram nos pratos as pegadas que as diferentes civilizações que passaram por esta cidade desde o século v a.C. até ao xxi deixaram na cozinha de Córdoba. O salmorejo é um dos seus pratos–estrela, uma sopa cremosa feita com tomate, alho, pão duro, azeite, vinagre e sal. É o “primo” do gaspacho e acompanha com ovo duro e presunto. Na Taberna San Miguel Casa El Pisto (7) podemos provar um dos melhores salmorejos da cidade ou um fantástico pisto com ovo e um saboroso rabo de touro. Na Taberna Montillana (8) atreva–se com as beringelas fritas com mel e com o “pescaíto frito” (peixinhos fritos). Córdoba é conhecida também pelas suas tapas, simplesmente deliciosas. Três cozinheiros possuem Estrela Michelin – Francisco «Paco» Morales (restaurante Noor, noorrestaurant.es), Kisco García (El Choco, restaurantechoco.es) e Celia Jiménez (Open Arena, openarena.es).

9. Ponte Romana

Atravessa o rio Guadalquivir e liga as duas margens da cidade há mais de dois mil anos. Desta ponte tem-se uma bela panorâmica da cidade, nomeadamente ao fim da tarde, com os últimos raios de sol. É o melhor exemplo do esplendor da cidade durante a República e a época imperial romana. Durante esse período, Córdoba viveu uma intensa monumentalidade e enriqueceu a sua infraestrutura pública. Entre outros vestígios da época romana estão os que pertencem ao templo que fez parte do Foro Provincial ou uma extraordinária coleção de mosaicos que decoram as paredes das salas do alcácer.

Pátios

andalucia.com/cities/cordoba/patios.htm

Já desde a época romana que as casas de Córdoba se construíam com um pátio no centro, devido ao calor. Uma tradição mantida pelos mouros e que persiste ainda hoje em muitas casas. Para manter fresco o ambiente enchia-se o pátio central com plantas e alguns detalhes com água. Uma vez por ano, de abril a junho, as portas das casas ficam abertas para se poder ver de perto as maravilhas dos pátios das residências da cidade. Flores coloridas, mosaicos de pedra, enfeites de cerâmica e o perfume clássico de Córdoba – jasmim e flor de laranja, misturados com outros aromas das flores e plantas – são trazidas a esse festival da cidade. Além do concurso dos pátios outra das festas mais populares é a das Cruzes de Maio. Nos pátios e praças erguem-se cruzes de grande dimensão decoradas com flores. Este ano o concurso vai ter lugar entre 29 de abril e 3 de maio.

Texto de Belén Rodrigo
Leia a reportagem completa na edição de maio 2015 - n.º 247
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