O Malawi é quase um ilustre desconhecido no panorama turístico internacional, mas isso não impediu o fotógrafo e líder de viagens Artur Cabral de lá ir em missão exploratória. Trouxe-nos um portfólio como aqueles a que já nos habituou, em que não faltam a vida selvagem e o elemento humano.

Fotografias de Artur Cabral

O Malawi começa agora, aos poucos, a querer entrar na rota mais turística dos países africanos, com uma boa oferta de parques e reservas naturais, bons locais para caminhadas e trekkings, alguns alojamentos muito bem cuidados e expondo todo o potencial que o lago Malawi tem para dar” – é este o ponto de partida para entender o percurso que Artur Cabral e o seu companheiro de viagem Hugo Cura fizeram neste país da África Oriental.

Decidiram começar pelo sul do Malawi. O plano era ir subindo até à capital, Lilongwe, com a ajuda do fixer local Paul Pakaine, da See Malawi Travel. Chegaram com o período seco a acabar (finais de outubro), já que, estando a vegetação menos densa e havendo menos água, avistam-se melhor os animais selvagens. Ficaram duas noites no Majete Wildlife Reserve, pernoitando num pequeno lodge dentro deste parque que está atualmente ao cuidado da organização African Park, responsáveis pela repovoação e manutenção de muitos parques e reservas um pouco por toda o continente africano. Majete é, aliás, a única reserva no Malawi onde habitam os big five (leão, leopardo, elefante, rinoceronte e búfalo). Perto das seis da manhã partiram para a primeira saída (game drive), antes de o calor apertar, e começou o desfile de espécies: antílopes, javalis, pequenas manadas de elefantes e hipopótamos e uma diversidade infindável de aves, das águias aos pequeninos guarda-rios. Houve ainda tempo para ver duas das 13 girafas que habitam a reserva e um rinoceronte, além de um esquivo leopardo, já com a noite a dominar a paisagem.

Já na tenda, deitados, ainda ouviram os rugidos de um leão, ali bem perto – «vimos depois claramente a sombra de um leão passar a roçar na nossa tenda e a seguir o seu caminho como se nada fosse». A paragem seguinte foi Mulanje, uma cidade rodeada de plantações de chá, no sopé do monte com o mesmo nome, mesmo na fronteira com Moçambique. Ficaram uma noite no Africa Wild Truck Lodge, com ambiente bastante caseiro, gerência italiana e que se envolve e apoia a comunidade local. Entre as várias opções de atividades estavam passeios pela comunidade, observação de aves e trekkings. Artur optou pela visita às comunidades: «Fomos sempre bem recebidos e acarinhados, com alguma bebida à mistura a que chamavam Kachaso, parecida com a cachaça, feita mesmo ali em casa.»

Zomba foi o poiso que se seguiu, com a noite passada num pequeno albergue local. O suficiente para descansar e seguir viagem para norte até ao Parque Nacional Liwonde e ao Mvuu Lodge com suas tendas luxuosas, erguidas sobre um plateau de estacas e tábuas de madeira sobre o leito do rio Shire. Por aqui, à semelhança da maior parte dos acampamentos e lodges dentro dos parques e reservas, não existe qualquer tipo de vedação e os animais andam soltos por todo o lado, podendo chegar bem perto. Artur Cabral recorda o «fantástico almoço com vista para o rio, na companhia de hipopótamos, javalis e a variedade de antílopes a que já nos tínhamos habituado».

Depois da refeição saíram para um primeiro safari em 4×4 durante o qual, além dos animais, testemunharam o impacto de uma paisagem com ancestrais embondeiros de gigantesca envergadura. Mas se os safaris de carro são bons, aqui em Liwonde o expoente máximo são mesmo as voltas de barco pelo Shire, com as suas margens repletas de vida selvagem. Outra atividade que puderam experienciar – sempre do agrado dos fotógrafos de vida selvagem – foi permanecer durante algum tempo num esconderijo escavado no chão, de modo a ficar nivelado com um charco de água onde os animais se iriam refrescar nas horas de calor. Artur fala destes dias como «absolutamente deliciosos, nem tanto apenas pelos safaris, mas mais por toda a experiência, estada, atendimento e companheirismo que sentimos».

Deixando para trás os safaris, foi hora da maior atração turística do país, património distinguido pela UNESCO: o lago Malawi. Conhecido na Tanzânia por Nyasa e em Moçambique por Niassa é o quarto maior lago de água doce do mundo (em volume) e o nono em termos de área. Aqui dividiram os dias entre uma zona mais turística e uma ilha privada. Cape Maclear foi a primeira destas, com constante atividade da população local, para não esquecer que este lago é vida e trabalho para milhares de pessoas. A segunda foi a Nankoma Island e o Blue Zebra Island Resort, acessível a partir das praias próximas da cidade de Salima por lancha rápida. Atividades não faltaram por lá, como kayak, trekking pela ilha (cerca de 1h por trilhos desenhados), passeios de barco, snorkeling, mergulho ou yoga. Mas o sentimento mais forte foi outro, como recorda Artur Cabral: «Aqui sim, tivemos a sensação imediata de que estávamos num paraíso. Os quartos/tendas têm ótimas áreas e alguns requintes luxuosos, num ambiente do tipo Robinson Crusoe, além da fantástica piscina infinita sobre o lago.» Se é para repetir? Sim, já.


Artur Cabral é fotógrafo, líder de viagens, conhece como poucos o continente africano e organiza viagens personalizadas para grupos que tenham interesse em explorar este destino único, aproveitando para dar umas dicas de fotografia ao longo do percurso. Além do Malawi, destaque para as viagens na Tanzânia (Zanzibar incluído), Quénia e Madagáscar. Se quiser repetir esta aventura ou saber mais sobre outras e acerca do seu trabalho, visite o site, aceda a facebook.com/arturcabral e a instagram.com/arturcabral.


República do Malawi

População: 18,8 milhões
Capital: Lilongwe (1 milhão habitantes)
Idiomas: Chichewa e Inglês
Moeda: Kwacha (MWK);1 euro – 815 MWK
Hora: GMT +2 horas
Fronteiras: Zâmbia a noroeste, Tanzânia a nordeste e Moçambique a este, sul e oeste.

 


Portfólio publicado originalmente na edição de março de 2020 da revista Volta ao Mundo, número 305.

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