A mais pequena ilha habitada das Baleares

Quando o barco parte de Ibiza deixa para trás as noites de excessos, as discotecas da moda e as ruas cheias de gente. Ficam quase esquecidos os grupos de turistas em busca da diversão rápida ou daquilo que viram nos filmes ou nos videoclips – festas loucas junto ao mar, homens e mulheres com pouca roupa e muita vontade de não irem para casa sozinhos. O ferry avança lentamente entre os iates de luxo que se preparam para partir para mais uma viagem. As gaivotas acompanham o percurso com o seu grasnar, agora mais próximo, agora mais afastado, mas sempre presente. Falta meia hora para chegar ao porto de Formentera, a mais pequena ilha habitada das Baleares e, provavelmente, a mais especial. A viagem é curta e serve como interruptor para desligar dos meses de trabalho e de preocupações. La Savina é o porto de desembarque, no extremo norte da ilha. A marina tem capacidade para 150 embarcações de recreio e está quase sempre preenchida. A solução, para quem chega de barco, é ficar ao largo, virado para uma das muitas praias de Formentera. E é uma excelente opção de poiso numa viagem pelo Mediterrâneo. Mariano está perto dos 50 anos e há coisa de três que não põe o pé na praia: «Não tenho tempo, há sempre qualquer coisa para fazer.» Conduz de forma tranquila pela estrada principal, a que une a ilha de norte a sul nos seus impressionantes 19,5 quilómetros de extensão. Nascido e criado em Formentera, tem o catalão como idioma principal e o castelhano como extensão para se fazer entender com quem não conhece o primeiro. Oficialmente são essas as duas línguas das Baleares. A mulher tem uma loja de artesanato onde não faltam pareos, colares de conchas e ímans para o frigorífico. Juntos arrendam casas de férias a quem queira passar pelo menos uma semana em Formentera. Tudo como manda a lei, com recibo, identificação fiscal e simpatia que faz qualquer um sentir-se em casa.

Es Caló é uma praia de pequenas dimensões. Para chegar ao mar aberto há que estar bem calçado para atravessar as rochas. Não faltam opções de praia na ilha, basta que se deixe perder.

 

KENTON THATCHER

Ir a San Francisco Javier, a capital administrativa, é sinónimo de compras, mas também de património, passeio e cultura.

«Aqui é o supermercado onde venho, ali é uma padaria muito boa, se virarem aqui vão dar ao farol, se seguirem em frente têm uma praia espetacular, atenção a este cruzamento…» Sucedem-se as indicações, as dicas, os conselhos experientes de quem está habituado a servir de cicerone e anfitrião. A casa escolhida fica no centro da ilha, a meio caminho dos principais pontos de interesse e a menos de cinco minutos da praia. Mariano apresenta as várias hipóteses de transporte: «Bicicleta se estiverem em forma, motorizada pela diversão, automóvel se quiserem ir a todo o lado.» É o tempo de deixar as bagagens em casa e Mariano já estacionou à porta de uma agência rent a car em Es Pujols, uma das localidades da ilha. Opções de aluguer não faltam, tudo depende da capacidade de negociação e da abordagem realizada. Seis dias de aluguer de um veículo da classe mais barata, com cinco portas, ficam por 300 euros, o dobro de uma motorizada para duas pessoas, mas com um dia de oferta e transporte, no fim das férias, até ao ferry de volta a Ibiza. Negócio fechado. É tempo de «esplanadar», uma das atividades indispensáveis em Formentera. «Ciao, cosa vuoi da bere?», pergunta a empregada do café com uma rede wi-fi de qualidade assinalável. Está em ação a terceira língua da ilha, a não-oficial: o italiano. É grande a comunidade de turistas que chegam de Itália, o idioma sente-se um pouco por toda a parte onde haja aglomeração populacional. Ao fim da tarde, no passeio marítimo de Es Pujols, que contorna a pequena baía, começa o desfile deles e delas, impecavelmente vestidos, penteados e perfumados. Uma cerveja bem gelada ou um cocktail com rum podem ser excelentes opções para ficar a assistir ao «evento».

 

Texto de Ricardo Santos
Leia reportagem completa na Volta ao Mundo de agosto 2014.
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