Caminha

Saborear história e paisagem

Para entrar no coração de Caminha basta começar o passeio pela Praça Conselheiro Silva Torres, à qual os caminhenses chamam Terreiro e que se tornou a sala de visitas da vila. A praça está cheia de esplanadas de cafés e confeitarias e é interdita ao trânsito, pelo que se pode deixar as crianças correr à vontade no empedrado e brincar em redor do chafariz – obra de arte urbana construída há quase 500 anos. Ali em redor, tudo se mede às centenas de anos: no século xii, o Terreiro era uma uma grande extensão de areia, mas há coisa de seis séculos tornou-se o centro da vida social de Caminha. O edifício dos Paços do Concelho, um palacete com quase cem anos, tem as portas abertas para ela. Lá dentro, encontra se a Loja Interativa, onde se pode saber mais sobre Caminha e recolher alguma informação.

Ainda na praça, importa prestar atenção à Casa dos Pittas, palácio urbano de estilo neomanuelino, e visitar a Torre do Relógio – que já foi a torre principal, e a mais alta, do castelo de Caminha. O relógio público que lhe dá nome foi instalado no século xvii. Adiante, está o Largo do Corpo da Guarda, onde durante séculos se fazia a formatura e a rendição da guarnição militar. Um pouco mais à frente, na Travessa do Tribunal, fica a antiga prisão – onde os presos pediam tabaco e dois dedos de conversa a quem passava na rua –, hoje a funcionar como Museu Municipal. A igreja matriz, ex-líbris da cidade, está ao fundo da rua, no Largo da Matriz. Quem lá entra pode apreciar pormenores únicos como o sacrário rotativo com cenas da Paixão de Cristo e os seus azulejos. Um bom passeio a seguir ao almoço é uma esticadela de pernas que vale a pena: ir pela marginal do rio até à mata do Camarido, que D. Dinis mandou plantar, e daí até à praia onde o rio Minho encontra o Atlântico. Dali se avista, num ilhéu 200 metros afastado da linha costeira, o Forte da Ínsua. O monumento, embora pequeno, é rico em curiosidades. No seu interior, há, coisa rara em pleno mar, um poço de água doce. Mas há mais: de tempos a tempos, a maré recua de tal forma que se formam bancos de areia que permitem chegar ao forte a pé. Este fenómeno acontece aproximadamente de 50 em 50 anos – a última vez em 2001. Nunca se sabe ao certo quando o fenómeno volta a ocorrer. Até lá, contudo, há muita Caminha para descobrir.

Constantino Leite

As paisagens desta região colada a Espanha merecem longas caminhadas a pé. Caminha é referenciada desde o século v e pela sua situação geográfica foi sempre um ponto avançado na estratégia militar portuguesa.

No restaurante Ínsua o polvo é o prato a não perder. Tal como a vista, que é virada para o rio e para a região da Galiza. Durante o verão fica aberto até às 00h00.

 

Texto de Ana Luísa Santos - Fotografia de Pedro Granadeiro/Global Imagens
Artigo da revista Evasões semanal n.º 13 - grátis à sexta-feira com o Diário de Notícias e Jornal de Notícias
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