Guia para a fonte do prazer checo
Até há um par de anos, Pilsen significava apenas uma viagem ao coração cervejeiro da República Checa. Não que seja dado irrelevante, afinal este país ostenta o mais elevado consumo de cerveja em todo o mundo – 145 litros por pessoa por ano – e o interesse sobre o assunto chega ao ponto de existir um santo cervejeiro, Santo Venceslau, instituído pelo Rei Carlos IV, em 1357. Mas a verdade é que seria redutor circunscrever a cidade a esse domínio, com tanto que na sua história há para descobrir e, sorte a nossa, para ver.
É claro que é fundamental rodearmo-nos do tema da cerveja para compreendermos a cidade, até porque há nisso histórias e factos interessantes. Em 1295 o Rei Venceslau concedeu múltiplos direitos de fabrico de cerveja, o que garantiu desde logo benefícios financeiros para a cidade, mas também em matéria de conhecimento do assunto. A mais importante das histórias chegou, no entanto, apenas em 1842, quando Josef Groll inventou o método pilsner, um processo de fabrico famoso e imitado pelo mundo fora, fazendo de Pilsen sensivelmente o mesmo que a Guiness fez – e ainda o faz – de Dublin.
Mas Dublin é Dublin e Praga vai continuar a ser o mais importante bastião turístico do pais, pelo que Pilsen necessitou de apostar na sua própria identidade. Em ano de capital da cultura parece ter apostado bem. A cidade ganhou um novo teatro, o único construído nos últimos 30 anos em todo o país – e que até nasceu de ideia portuguesa, -, e investiu no magnifico património industrial reconvertendo-o em novos espaços culturais. É assim que nasce o DEPOT (1), o TECHMania – sediado na antiga fábrica da Skoda – e ainda o Papirna (2), numa antiga fábrica de papel.
Também o coração da cidade foi cúmplice de melhoramentos. Referimo-nos concretamente à Praça da República, uma das maiores praças na Europa. A sua arquitetura permite uma belíssima viagem no tempo e história da cidade. Começando pela catedral (3), talvez o edifício mais importante de Pilsen, e a sua construção gótica. O edifício da câmara (4) da cidade devolve-nos o espírito renascentista enquanto as muitas fachadas barrocas – que o regime tentou demolir – glorificam uma das maiores reputações da cidade enquanto, por fim, o socialismo do Hotel Central (5) relembram-nos parte da história mais recente.
Se é verdade que zonas e edifícios houve que sofreram as referidas benfeitorias, todo o restante património nos pareceu tão belo como no passado, com os prédios limpos e de imaculada beleza.
A boa noticia é que o calor do Verão traz também o advento de boas caminhadas de descoberta e, numa cidade plana e relativamente pequena como Pilsen, recomendamos que não desperdice o incentivo. Tudo é, de resto, relativamente próximo, e percorrer os pontos turísticos obrigatórios trará, só por si, muitas outras experiências ao olhar.
É a quarta maior cidade da República Checa, tem cerca de 160 mil habitantes e aqui podemos encontrar a segunda maior sinagoga da Europa.
Seguindo a linha verde do park ring, por exemplo (uma sucessão de zonas verdes criada em cima das muralhas antigas), encontra-se o Mestanka Beseda (6), um edifício com decoração art noveau. É daqueles tipo de locais para beber um café e ler o jornal matinal, admirando as gentes da terra. Um pouco mais adiante, o VelKe Divadlo (7), ou o grande teatro, merece uma noite de cultura só para ver a bonita sala do inicio do século passado. Do outro lado da rua, as cúpulas rosadas da sinagoga (8) colocam-na como a terceira maior do mundo, perdendo apenas para Budapeste e Jerusalém. Representa a história da comunidade de judeus locais e também ajuda a explicar a enorme escultura thank you America.
O Mosteiro Franciscano (9) transporta-nos para outro período da história, assim como o vizinho West Bohemia Museum (10), onde algumas das mais importantes exposições deste ano serão realizadas. Há ainda uma pequena pérola, escondida e negligenciada até mesmo pelo turismo local – a estação de comboios (11) local. Será pela localização um pouco distante do centro da cidade? Ou será pela abundância de pontos de interesse? Se é certo que o evento Pilsen2015 não pode chegar a todo o lado, foi pelo menos razão para pensar quantos mais locais fora do roteiro há por descobrir. No matter what, obrigado capital da cultura por mais este tesouro desvendado.
Capital da Cultura
A chegada do Verão traz o bom tempo e a cidade vai aproveitá-lo da melhor forma. Entre junho e setembro decorrem diversos festivais de música ao ar livre (rock, jazz e música barroca), enquanto que no capitulo expositivo destaque para as mostras que permitem redescobrir os artistas Ladislav Sutnar e Gottfried Lindauer, duas das personalidades locais mais famosas, este último um dos pintores mais importantes a retratar a cultura maori no séc. XIX. Um dos novos espaços dedicados à arte, o DEPOT (1), é outro armazém industrial reabilitado. A sua inauguração vai trazer uma exposição com esculturas de Cestmir Suska, um conhecido escultor checo.
Adolf Loos
Trata-se de um dos mais importantes arquitetos do movimento modernista. Embora seja conhecido pelo American Bar em Viena, parte significativa do seu trabalho de interiores foi realizado em Pilsen, entre 1907 e 1932. Ao todo contam-se cerca de 13 projetos, embora apenas oito tenham resistido à passagem do tempo. A Capital da Cultura e a Câmara local aproveitaram a efeméride para recuperar alguns destes projetos. A visita é obrigatória também pela sua relação com a história da comunidade judaica na cidade – os seus principais clientes. Se quiser conhecer mais, recomendamos que visite igualmente a Villa Muller, em Praga, outro projeto icónico de Loos.
Cerveja artesanal
Para além da Urquell, há um conjunto de cinco pequenas cervejarias artesanais que merecem tempo e atenção. A Purkmeiester (purkmistr.cz) é a mais famosa, até pela dimensão. Para além de restaurante e uma belíssima esplanada, oferece tratamentos spa com base nas próprias qualidades medicinais da cerveja. Tem, no entanto, o inconveniente de estar fora da cidade – mas é a única. A Groll (pivovargroll.cz) iniciou a produção pela mão do mesmo Josef Groll que levou a Urquell ao estrelato, enquanto a Pasak (pivopasak.cz) é uma face mais contemporânea de cena de Pilsen. A qualidade, no entanto, não sai beliscada.
Papirna (2)
É o centro de arte contemporânea mais ativo na cidade. Não espere, no entanto, um edifício com pompa e circunstância. Pelo contrário. O informalismo e o espírito do it yourself impera nesta apropriação de uma antiga fábrica de papel, um edifício industrial de muita beleza. De tão vasto que é que lá dentro encontra uma pista de karts, outra para skaters, um restaurante, estúdio de som, sala de concertos e vários espaços de exposição. Em ano da cultura, mas sem qualquer financiamento público, preparam também eles uma programação à altura dos acontecimentos.papirnaplzen.cz
Onde ficar em Pilsen
Numa cidade com potencial para alguns equívocos em matéria de alojamento, aposte pelo seguro. O Hotel Central (5) (central-hotel.cz) não engana quanto à localização, com vista direta para a catedral. O edifício e os quartos seriam uma viagem ao socialismo de outrora não fosse a leve remodelação sofrida – trabalho pouco sensível diga-se. De qualquer forma, é uma opção com equilíbrio entre preço e serviço oferecido. Para uma experiência menos rica mas de tons contemporâneos, aponte a carteira para o Marriot Courtyard (14) (marriott.com), uma chancela que não oferece dúvidas. A pé, localiza-se a apenas dois minutos do centro.
Onde comer
As estrelas Michelin encontram-se em Praga – são apenas dois restaurantes, pelo que não é de esperar invenções em matéria de cozinha. Não significa, porém, que a viagem gastronómica não possa acompanhar a congénere cultural. À falta de espaços de caráter contemporâneo a nossa escolha acabou por recair sobre a vertente tradicional, onde o Stara Sladovna (15) (starasladovna.cz) representa um papel importante. A casa familiar, outrora uma malt house, foi resgatada ao passado e convertida num espaço medieval de ambiente acolhedor, com longas mesas de madeira, velas, lareira e música celta. O menu não destoa e oferece vários pratos tradicionais à base de carne. O Groll (12) (pivovargroll.cz) é uma outra opção. É uma típica casa de pasto com a sua própria marca de cervejas.
Como chegar
A Tap (flytap.pt) voa diariamente para Praga (com excepção da 4ª feira, com preços a partir de 216 Euros (ida e volta). No aeroporto existe uma ligação directa para Pilsen de autocarro (1 hora de viagem e cerca de cinco euros por trajecto). Também é possível viajar de comboio mas necessita de ir ao centro da capital. Os comboios partem a cada hora com a viagem a demorar cerca de 90 minutos.
Mapa: