Há mais ilhas tailandesas para além de Phuket. Descubra Koh Samui e Koh Tao. Onde o turismo de massas pode ser evitado perdendo-se na natureza, mergulhando em locais incríveis, descobrindo tradições ancestrais. Chamam-lhe Terra dos Sorrisos e depressa se percebe porquê.
Poderá haver várias razões para ir a Koh Samui, mas a maior será (quase) sempre a praia. O mar. E praia, na Tailândia, é sabido que rima com areia branca, coqueiros e palmeiras que guardam o sol – aqui e ali, uma chuva tropical –, vegetação frondosa, recifes de coral e, claro, hotéis de referência, que lá vai o tempo em que o viajante se alimentava apenas da aventura e dormia numa cabana. Para uns, Koh Samui tem tudo isto. Para outros já teve e perdeu. O meio termo é sempre difícil, na vida como no turismo. Tal como as comparações. Samui (koh significa ilha, é comum os tailandeses referirem-se às ilhas pelo segundo nome) sofre de alguma forma do estigma do número dois. É a segunda maior ilha da Tailândia em território, logo a seguir a Phuket. É a segunda mais visitada, logo a seguir a Phuket. Há também quem diga que a beleza do mar da Esmeralda, no golfo da Tailândia, não pode ser comparada à do mar de Andamão. Em que ficamos?
Mais do que comparar ilhas ou escolher a preferida, damos por nós a lamentar não ter tempo para visitá-las todas.
É certo que o tempo dos hippies, mochileiros e pescadores locais (e malaios) já passou – eram sobretudo estes quem, há cerca de quarenta anos, ocupava estas ilhas, muitos deles precisamente para fugir à cada vez mais movimentada Phuket –, mas são ainda manifestamente exageradas as notícias da implosão deste pedaço de terra com 228 quilómetros quadrados. Há muito turismo, demasiado turismo: 1,5 milhões de pessoas por ano, para um universo de 60 mil habitantes. Existem algumas ruas, bares e restaurantes que poderiam estar em Ibiza – contra Espanha, nada; serve apenas como exemplo – e a realidade é que a boémia e a evasão, o sagrado e o profano, os bungalows baratos à beira-mar e os hotéis de luxo parecem continuar a viver em harmonia.
W Retreat Koh Samui e The Library são disso bom exemplo. Dois hotéis contemporâneos, descontraídos, que, mais do que meros oásis – há tantos hotéis espalhados pelo mundo que funcionam como verdadeiros oásis de luxo mas vivem de costas voltadas para as comunidades locais –, optaram por se integrar o melhor possível na paisagem e no ambiente. Se o W Retreat tem uma das mais impressionantes vistas de Samui, o The Library fica no centro da confusão, em Chaweng, a praia mais noctívaga e cosmopolita (e, ao mesmo tempo, mais asiática), não deixando, ainda assim, de ser um pedaço de paz e serenidade.
A piscina infinita do W (em cima) é quase uma imagem de marca de Koh Samui.
A história deste hotel é um pouco o espelho da própria história de Koh Samui. É Francis Gan, filipino, quem a conta. Fala do patrão, um jovem de 30 anos, com visível entusiasmo. «O senhor Kasemtham Sornsong nasceu aqui e foi estudar para fora, para Banguecoque. Mas voltou, ao contrário do que costuma acontecer com as pessoas da sua geração. Os pais tinham um bungalow que alugavam a mochileiros e um pequeno restaurante. Durante muito tempo andou às voltas, à procura de uma ideia, até que se lembrou de fazer um hotel relacionado com os livros. Era essa a memória que ele tinha dos anos 1980 e 1990, enquanto criança. A única coisa que os hóspedes faziam era ler. Sentavam-se e liam. Deitavam-se e liam. Encontrou uma arquiteta que percebeu as suas ide ias (Tirawan Songsawat), e assim nasceu o The Library.»
Na Ilha de Koh Samui ainda se encontram hotéis de eleição a preços não proibitivos. Quase sempre com vista para o mar.
Nada foi deixado ao acaso. O restaurante chama-se The Page; há a inevitável livraria, com mais de mil títulos; e ainda um toque de mistério, como qualquer boa história é suposto ter, dado pela famosa piscina vermelha cor de sangue. Pode até ter espantado alguns hóspedes, a verdade é que este simples toque de ilusionismo acabou por colocar o hotel nas bocas e nas páginas das revistas especializadas, tendo mesmo sido distinguida com uma série de prémios. «Há quem venha só para vê-la. Mas há alguns, poucos, felizmente, que não conseguem entrar.» Inclusive alguns amantes de mergulho.
Saltar de ilha em ilha
De Koh Samui para Koh Tao existem ligações diárias de barco (não há aeroporto), mas há quem opte por ir diretamente para a ilha Tao. Existem ligações de ferry desde o continente, mais precisamente da cidade de Chumphon, mas perde-se a experiência do island hopping. Pense bem.
Koh Samui pode ser a porta de entrada perfeita para o país e o continente asiático – há quem não esteja preparado para enfrentar de imediato a grande metrópole e opte primeiro por passar uns dias na ilha e só depois visitar Banguecoque, caótica por vício e por natureza –, mas é também o ponto de partida ideal para conhecer uma série de ilhas vizinhas. São cerca de oitenta, a maioria delas desabitadas, quase todas mais pequenas, virgens e paradisíacas do que Koh Samui. Entre os destinos mais procurados estão o Angthong National Marine Park, parque natural constituído por quarenta ilhas, e Koh Tao.
Se para o primeiro é preciso optar por um tour organizado (a maioria dos hotéis trabalha diretamente com as companhias locais), já para Koh Tao não é preciso ir em grupo, apenas esperar na fila, uma vez que há ligações diárias e regulares. Que se preparem, contudo, mental e fisicamente todos aqueles que pretendem explorar o Angthong National Marine Park, já que este mar (à primeira vista calmo) é apenas para duros. Vale, contudo, a recompensa. É como se chegássemos ao coração da Tailândia, partindo do princípio de que o coração da Tailândia fica no mar e não em terra. O mar onde estamos agora, com óculos e tubo de mergulho em riste à procura de peixes coloridos que se escondem num pequeno recife de coral. Nada de muito significativo para os mais experientes, algo difícil de esquecer para principiantes. «Parece que descobri um novo mundo aos 50 anos», diz uma senhora chinesa num inglês que soa a japonês.
Tailândia também rima com noite. E noite, em Koh Samui, é sinónimo de Chaweng Beach. É lá que ficam os melhores (e os piores) bares da ilha.
A fazer
Além dos dias passados na praia, outras atividades fazem parte da viagem. Praticar ou assistir a combates de muay thai, fazer passeios de barco e de elefante, mergulho, trekking pela floresta, visita a cascatas, massagens e spa tradicional são algumas opções. A escolha é sua, mas não se esqueça de que está de férias… descanse.
Um pouco mais à frente, outra ilha, Mae Koh, esta com direito a paragem rápida para espreitar a Lagoa Azul. Logo depois, nova paragem, desta feita para almoço, em Koh Wua Talap. Enquanto alguns optam por jogar voleibol ou andar de caiaque, os restantes sobem até ao ponto mais alto da ilha, perto dos 400 metros. Foi o que fizemos, acompanhados por Lindsey e Kate. Lindsey vive em Nova Iorque, Kate em Londres, cresceram lado a lado na África do Sul e aproveitam todas as oportunidades para viajar juntas. «É lindo», suspira Kate, já no topo. Um mar cor de postal e uma série de pequenas ilhas vestidas de verde. «Mas ainda não estou plenamente satisfeita. Amanhã vamos para Koh Tao e depois seguimos para Koh Nang Yuan, uma pequena ilha semiprivada a poucos minutos de distância.»
A dança de ilhas, este saltitar de ilhas pequenas para ilhas maiores, e vice-versa, é parte essencial da viagem pelo golfo da Tailândia. Mais do que compará-las, escolher a preferida ou colocar alguma de parte, damos por nós a lamentar não ter tempo de visitá-las todas, como se voltássemos para casa com o puzzle incompleto. E Koh Tao é, sem dúvida, uma peça fundamental neste puzzle. Ainda o barco não atracou em Mae Haad e já as palmeiras e os coqueiros nos entram pelos olhos, imaginámo-la mais pequena, mais densa, mais tropical e ainda mais rural do que Koh Samui. O vício da comparação, lá está. Será Koh Tao uma Koh Samui em ponto pequeno? «Não, não, cada ilha tem a sua essência. Esta nem sequer tem aeroporto», dispara Tommy. «É um paraíso para os jovens mergulhares amadores. Para os profissionais há locais melhores, mas é muito bom para os principiantes. E barato.»
Poucas horas depois também nós, mergulhadores mais ou menos jovens e amadores por excelência, acabaríamos por nos atirar de cabeça e sem botija a um recife de coral a poucos metros da praia do hotel, com a promessa de encontrarmos pequenos tubarões inofensivos. Não encontrámos tubarões, mas sim uma gigante e pachorrenta tartaruga que parece ter sido ali colocada pelos deuses da viagem para honrar o nome da terra. Koh Tao significa «ilha das Tartarugas».
Koh Nang Yuan é muito procurada por amantes da natureza, sobretudo mergulhadores. A ilha tem um clube de mergulho próprio.
Na manhã do regresso, temos ainda tempo para mais um passeio de barco, desta vez com um pescador local, sempre junto à costa, em direção a Koh Nang Yuan. Uma ilha com exploração privada, bungalows de madeira, escola de mergulho e uma gerência que não abdica das preocupações ecológicas. Até as garrafas de água de plástico têm de ficar à porta. Livros, esses sim, podem entrar. Era isso que faziam Lindsey e Kate quando voltámos a cruzar-nos. Liam um livro com um sorriso tailandês no rosto e cara de quem tinha finalmente encontrado o que procurava.
Guia
Ir:
A Thai Airways (thaiairways.com) voa de Madrid para Banguecoque quatro vezes por semana a partir de 857 euros. Da capital tailandesa até Koh Samui são50 minutos de voo e pouco mais de 50 euros. A Bangkok Airways (bangkokair.com) é uma boa opção. Já de Koh Samui para Koh Tao o ferry (ferrysamui.com) é a única solução. A viagem de três horas fica por 12 euros.
Comer:
Azarado daquele que consiga ter más experiências gastronómicas na Tailândia. Quer em Koh Samui ou Koh Tao, dificilmente ficarão defraudados aqueles que saírem da zona de conforto e se atirarem à cozinha tailandesa. A verdadeira cozinha tailandesa serve se também, ou sobretudo, na rua. Que ninguém tenha medo de experimentar. É bom e barato. Aqueles que preferirem comer sentados mas ainda assim manter o espírito de rua e o sabor a comida caseira têm no restaurante Mit Samui (Chaweng Seafood Center) uma excelente opção. Ainda assim, quem optar pela comida de hotel também não ficará mal servido, bem pelo contrário. Pelo menos nas unidades referenciadas.