A história divide-se quanto ao nome do navegador a quem foi atribuída a sua descoberta, mas concorda no mesmo ponto: era português e integrava a expedição lusitana, que a 6 de janeiro de 1502 desembarcou nesta enseada. Era Dia de Reis e assim ficou decidido o nome de Angra (que significa baía). Precisões históricas à parte, a nossa reação não terá sido muito diferente da dos navegadores portugueses quando aqui amanheceu no primeiro dia da viagem.
Chegámos já quase de noite ao eco resort Vila Galé e, para além do som das ondas, pouco mais se distinguia do que as sombras das palmeiras. O jetlag já há muito que tinha diminuído os seus efeitos, mas a diferença horária de Portugal para o Brasil continuava a ter as suas consequências. Talvez por isso, tivemos oportunidade para ver os primeiros raios de sol atingir o município brasileiro. Ao longe, as montanhas de Angra dos Reis, mais perto os ilhéus e, ainda mais próximo, o oceano ia ficando mais azul à medida que o sol ia nascendo.
De dia, com o verde da relva – aqui é grama – e das folhas das palmeiras, os guarda-sóis e as espreguiçadeiras amarelas, junto ao areal da praia privada deste hotel, era um cenário totalmente diferente. Poucas horas depois, o cantar das aves e das espécies exóticas que habitam a mata atlântica davam lugar ao som de um motor. Ainda não era meio-dia, mas à praia privada chegava já a lancha Raposo 250, com um guia pronto para uma viagem pelas ilhas que se prolongaria até ao pôr do Sol. Os barcos da Angra Way, um dos parceiros da Vila Galé, têm a capacidade para transportar até 16 pessoas. Se o grupo for grande, vale a pena perder a vergonha e ensaiar uma corrida até à proa do barco, onde pode ir sentado. Descrever esta viagem não é fácil. Falar na transparência do mar, talvez seja pouco, do desenho das montanhas ou do horizonte, onde o azul do oceano e do céu se confundem, igualmente. Por isso falamos em paraíso.
«Não se avista vivalma», como refere a expressão. Em pleno oceano Atlântico, a 150 quilómetros do Rio de Janeiro, e entre os ilhéus de Angra, vamos-nos cruzando com outras lanchas. Vale a pena prestar atenção quando o barulho de outros motores dá lugar ao dos remos. É este o meio de transporte dos habitantes locais: pequenos barcos de madeira, pintados de cores coloridas. Das 365 ilhas (uma para cada dia do ano) que integram este arquipélago, algumas são públicas, outras propriedade de celebridades ou de anónimos. A mais conhecida de todas é a ilha Grande, a maior deste arquipélago, tal como o nome indica, mas o nosso percurso continha outras paragens.
Das 365 ilhas de Angra dos Reis, apenas 97 o são na realidade. As restantes porções de terra rodeadas por mar são ilhéus. Em qualquer dos casos, a beleza natural é surpreendente.
«Essa é a ilha da Xuxa, a apresentadora», diz-nos o condutor da lancha, ao passarmos por outro ilhéu, onde se avista apenas uma casa e dois cães a ladrar. A lancha prossegue caminho, deixando para trás a ilha da Gipóia, onde voltaríamos mais tarde, para provar a moqueca, especialidade do restaurante Canto das Canoas. No passadiço de madeira, onde o barco ficaria atracado, crianças ensaiam mortais para a água. Mais tarde, repetiam os saltos para a câmara fotográfica, confessando que estavam de férias e que só existe escola no continente, em Angra dos Reis.
Entre o itinerário traçado, há ainda tempo para parar nas ilhas e mergulhar junto à Josefa ou da Piedade, também conhecida como a antiga ilha da Caras. Era na ilha da Piedade que decorriam, em tempos, as badaladas festas que juntavam a nata dos artistas e políticos brasileiros. Esta abre ao público, todos os anos, durante o mês de julho, mas pode ser alugada durante o resto do ano. São cerca de 10 a 17 mil reais por um dia neste paraíso.
O futebolista Neymar, o cantor Ricky Martin ou a apresentadora de televisão Xuxa são apenas três dois muitos famosos proprietários de ilhas em Angra dos Reis. Eles lá sabem…
Para o fim, fica um mergulho, em pleno oceano, junto às botinas, os ilhéus de rocha. O mar está tão límpido a esta hora que conseguimos avistar cardumes de peixe antes de regressarmos ao continente. Os golfinhos não apareceram, mas há quem tenha a sorte de os ver passar junto às lanchas. Já com o sol junto à linha do horizonte, passamos por eco resorts e condomínios privados, na periferia de Angra dos Reis. Contrastam com as favelas no centro da cidade. Ou não fosse o Brasil também um país de contrastes.
Dormir
Vila Galé Eco Resort de Angra
A 15 minutos do centro da cidade de Angra dos Reis e a 150 quilómetros do Rio de Janeiro, encontra-se este eco resort. Distingue-se pelas práticas ambientais sustentáveis e quase parece fundir-se com a mata atlântica, que o rodeia. Com quatro restaurantes, quatro bares, spa com sauna, jacuzzi e banho turco e ainda várias salas de massagens e tratamentos, este resort é também orientado para as famílias. Para além de um restaurante infantil, tem também um espaço lúdico para crianças. Polidesportivos, academia de fitness, salão de jogos ou o conjunto de piscinas são outros espaços deste hotel all inclusive. Destaque para a sossegada praia privada.
Av. Vereador Benedito Adelino, 8413 – Fazenda Tanguá, Angra dos Reis
Tel.: (+55)24 3379-2800
Quarto duplo a partir de 176 euros por noite em regime tudo incluído.
vilagale.com