Durante as manhãs, Daniela dedica-se à jardinagem. No pequeno e bem organizado jardim da Casa do Juncal, trata das buganvílias e do ácer, que por esta altura começa a perder o verde para lentamente começar a ganhar cor de fogo. «A jardinagem é um exercício de paciência», diz, acrescentando que foi com a idade que começou a interessar-se pela prática.Quem a ouvir falar pode até pensar que Daniela já não é jovem. Mas engana-se. Tanto Daniela Abreu como Mário Gomes, seu marido, demonstram um entusiasmo típico da juventude e ao mesmo tempo uma confiança madura, o que lhes permitiu idealizar este hotel, situado dentro das muralhas de Guimarães, numa casa brasonada do século XVII.
Foram necessários cinco anos de obras para fazer de uma casa em ruínas este atraente espaço de turismo de habitação. Terá sido outro exercício de paciência que valeu a pena. Durante as obras de reabilitação foram encontrados vestígios arqueológicos dos quais se destaca uma seteira (pequena abertura na parede por onde os arqueiros disparavam) do século XIII e vestígios de cunhagem de moeda. A seteira é agora elemento fundamental da decoração da master suite.
A vontade que tiveram de mergulhar nesta aventura surgiu, explica Daniela, «a partir das viagens» que já fizeram «e do gosto por recuperar e dar valor ao que está degradado». Construíram um conceito que quer aliar a qualidade de um bom hotel e a proximidade normalmente associada ao turismo rural.
Mas nada disto teria sido possível se não fosse o pai de Daniela, que comprou o edifício, outrora pertencente à família nobre Saraiva, que vivia no Porto e utilizaria esta casa para férias. A ideia inicial era transformar a casa em vários apartamentos para alugar, mas tanto Daniela como o seu irmão, peça importante para o início do processo, queriam dar-lhe outro uso.
Mário Gomes e Daniela Abreu idealizaram este hotel numa casa brasonada do século XVII.
Em 2012, Guimarães foi Capital Europeia da Cultura, «o impulso de que a cidade precisava», acredita Daniela, e que a tornou ainda mais apelativa. Por lá passaram muitos artistas e turistas e tanto a indústria como o comércio cresceram,
a par da oferta cultural. Este crescimento levou Daniela e Mário a acreditar que havia espaço para uma proposta como esta. Queriam «dar continuidade» ao que se criou nesse ano especial. Por isso, foi tão importante para eles dar atenção aos pormenores. A reabilitação, assessorada pelo gabinete de arquitetura de Filipe Vilas-Boas, privilegiou a madeira para os interiores. Além do conforto que o material permite, favorece outra caraterística que confere charme ao espaço: o suave ranger das tábuas quando tudo está silencioso.
Outro elemento importante é a decoração, feita com o apoio do ateliê de design de interiores Nove às Cinco. Como exemplo da preocupação com os detalhes, levada quase ao extremo, Mário conta que o tom do corredor, um creme-acastanhado, foi afinado pela cor de um casaco de Daniela, pois era aquela que consideravam a «ideal». Depois, foram apurando a decoração com objetos de design específicos escolhidos cuidadosamente, como o candeeiro que ilumina o interior do edifício, da Boffi.
Não é só de pormenores estéticos que se faz este hotel. A atenção ao cliente é outra das mais-valias. Apesar de tanto Daniela como Mário terem outros trabalhos – ela é professora do primeiro ciclo e ele faz parte da direção de um agrupamento escolar – tentam estar tão presentes quanto possível. Gostam de ser eles a abrir a porta aos clientes, a oferecer-lhe uma fatia de bolo caseiro e um porto de boas-vindas. Esta proximidade é possível devido ao tamanho do hotel, que tem apenas seis quartos, duas suites com vista para o jardim das traseiras, três com mezzanino e uma master suite.
O pequeno-almoço é feito à medida do cliente, que deve escolher o que quer comer no dia anterior, entre várias possibilidades. Até às 20h00 há tábuas de enchidos e queijos.
O pequeno-almoço é também feito à medida do hóspede, que deve escolher o que quer comer no dia anterior, entre tostas, croissants, ovos Benedict, sumos naturais, de uma vasta lista de possibilidades. A refeição mais importante do dia é servida na sala que dá acesso ao jardim, separada deste através de vidros que são portas – e, querendo-se, abrem completamente, transformando a sala numa espécie de esplanada. Durante as horas de serviço, até às 20h00, também se pode pedir tábuas de enchidos e de queijos e vinhos. Só não há refeições propriamente ditas, até porque a cidade «já tem muito para oferecer» nesse âmbito. Pontualmente, a Casa do Juncal abre as portas à cidade, como acontecerá nos próximos dias 3 e 4 de outubro, durante o festival Guimarães Noc Noc. No programa para esse fim de semana, a casa receberá uma exposição e um concerto.
Ficar
Casa do Juncal
Rua Dr. Avelino Germano, 65
Tel.: 252042168/929309977
Web: casajuncal.com
Preço: Quarto duplo a partir de 90 euros por noite (inclui pequeno-almoço)
Ver
Colina Sagrada
Muitas das memórias da origem de Portugal estão em Guimarães, nomeadamente no parque da Colina Sagrada, no Monte Latito. Aqui se encontram importantes monumentos, como o castelo, sobranceiro ao campo de São Mamede, onde D. Afonso Henriques, em 1128, derrotou as tropas do conde galego Fernão Peres de Trava, tornando- -se o primeiro rei de Portugal. Junto ao castelo está, além da estátua do rei (de Soares dos Reis), a Capela de São Miguel, onde, segundo uma antiga lenda, este terá sido batizado. Datada do século XIII, o que torna improvável a história do batismo, a igreja é um bom exemplo da arquitetura românica tardia. Do século XV é o Paço dos Duques, mandado construir por D. Afonso, primeiro duque de Bragança. O parque é composto por vastas áreas arborizadas e jardins.
Rua Conde D. Henrique
Tel.: 253412273
Web: pduques.culturanorte.pt
Preços: gratuito (Castelo e Capela de São Miguel); 5 euros (Paço dos Duques)
Comer
Le Babachris
«Quisemos prescindir do acessório e focarmo-nos no essencial», diz o chef Christian Rullan. O resultado é um espaço despretensioso, de cozinha de autor de raiz mediterrânica, onde os produtos frescos têm papel de destaque, e a preço convidativo.A reserva é recomendável.
Rua D. João I, 39
Tel.: 964420548
Horário: Encerra domingo e segunda (de férias até 28)
Preço médio: 20 euros
Beber
Manifestis Probatum
Vinhos de pequenos produtores de várias regiões, cerveja artesanal portuguesa e agora, também, café artesanal, são as especialidades deste wine bar no centro histórico de Guimarães. Aberto em 2012 para servir bebidas de produção reduzida e petiscos ibéricos, o Manifestis Probatum entrou recentemente para o top 10 dos melhores bares de vinhos do Norte de Portugal, numa lista elaborada pelo crítico Aníbal Coutinho.
Rua Egas Moniz, 57/63
Tel.: 912224904
Web: facebook.com/manifestisprobatum
Das 18h00 às 00h00. Sexta e sábado, até
às 02h00. Encerra à segunda.