Quando recebeu os primeiros hóspedes, no início da década de 2000, a Malhadinha Nova marcou uma viragem na hotelaria de pequeno porte em Portugal. Não que fosse caso inédito, sobretudo no Alentejo, mas porque até à altura nenhum dos seus concorrentes mais diretos, na categoria de enoturismo e de hospedagem rural, havia ido tão longe na sofisticação (que nunca foi impositiva ou fora de contexto, convém dizê-lo) e no entendimento deste negócio como um todo.

Hoje, a fasquia subiu bastante. Mesmo não sendo mais uma novidade, a herdade mantém-se firme entre aqueles que mais nos inspiram – o seu buffet de pequeno-almoço, por exemplo, que contempla entre outras coisas uma grande mesa coberta por um voile, continua a fazer-nos parar, por um breve instante, para apreciar o panorama. Isso e o perfume no ar a jasmim branco, marca distintiva da casa desde sempre (o segredo está nas velas, da marca portuguesa Castebel). São detalhes como estes que nos fazem querer voltar.

Numa propriedade de 450 hectares, sendo 33 deles só de vinhas (a inauguração da adega e as primeiras vindimas fizeram-se em 2003), seria natural pensar que o pico de dormidas ocorresse na primavera-verão. Errado, a maioria vem a partir do outono, atraída pela ideia de desfrutar das lareiras acesas e de comodidades como o chão de tijoleira dos quartos (não mais do que dez) aquecido a 20 graus. A decoração, num registo campestre com bastantes apontamentos contemporâneos conjugados com peças de traça alentejana, não mudou praticamente nos últimos anos, mas há novidades – como uma segunda piscina, que permite a divisão natural entre adultos sem crianças e famílias, um ripado com camas de dia que esconde a zona de estacionamento e uma loja de vinhos na adega, onde é possível encontrar alguns topos de gama aqui produzidos e que já são difíceis de arranjar no mercado.

Nesta casa, o vinho merece atenção especial. Tal como a comida, assinada pelo chef Joachim Koerper, do restaurante Eleven.

O resto fica por conta da roupa de cama bordada, dos amenities Bulgari, do tratamento familiar e de uma oferta que inclui serviço de restaurante (o consultor gastronómico é o alemão Joachim Koerper, do Eleven, em Lisboa), spa, coudelaria, adega, vinha, olival, montado e até uma linha de água. Estando, porém, a família proprietária associada às garrafeiras Soares, é claro que o vinho merece uma atenção especial. Com uma produção anual de 300 mil garrafas e exportações garantidas para 25 países, a Malhadinha está a desenvolver vinhos mais estruturados e arrojados, mas mais leves, o que representa uma mudança.

Se quisermos entender como se faz a divisão, pode dizer-se que a gama Monte da Peceguina se destina sobretudo às entradas, que os Malhadinhas são uma gama superior, que as edições especiais são sempre monocastas e que os topo de gama nascem de anos excecionais. Como é o caso do novo Mateus Maria (os nomes vêm da prole familiar), recém-lançado no mercado e que além de Tinta Miúda e Alicante Bouschet leva ainda a casta Baga, outra novidade. Porque aqui ninguém dorme à sombra dos prémios conquistados.


Herdade da Malhadinha Nova Country House & Spa
IP2, Albernôa
Tel.: 284965432/429
Web: www.malhadinhanova.pt
Quarto duplo a partir de 250 euros por noite (inclui pequeno-almoço)

Texto de João Miguel Simões - Fotografias de Jorge Simão
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