Um caminho de madeira com 8,7 quilómetros que serpenteia a margem esquerda do rio, ora em escadaria abrupta com vistas de arrepiar ora como varanda de luxo entre penedos e bosque, tornou Arouca uma meca dos amigos das caminhadas. Até que, em setembro, um grande incêncio destruiu parte dos passadiços do Paiva, inaugurados no início do verão. Após as obras de restauro, o corredor de madeira já reabriu, a 13 de fevereiro. E apesar de valer a pena percorrê-lo por si só, seria uma pena ir a Arouca e passar ao lado dos outros encantos do seu Geoparque, na serra da Freita, e ainda pelas mesas daquelas terras montanhesas, que tão bem nos retemperam com a sua carne de sabor distinto.

No acesso aos passadiços, algumas regras mudaram – agora recomenda-se inscrição antecipada (através do website passadicosdopaiva.pt), assim como um pagamento, via multibanco, do valor simbólico de um euro. E esta inscrição prévia já pode ser feita agora, mesmo quando faltam uns dias para a reabertura. Esta foi a forma encontrada pelo município para evitar afluência excessiva, de modo a facilitar eventuais situações de socorro.


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O percurso dos passadiços liga as praias fluviais do Areinho e do Espiunca, com a praia do Vau a surgir a meio do percurso, sempre com apoios ao caminhante. Em média, é ginástica para duas horas e meia a três horas, alguma resistência física e espírito de aventura (é que, de caminho, se tem de atravessar uma ponte suspensa). É preciso ter em atenção duas coisas. A primeira, é que há ir e voltar, por isso, o caminho total são quase 18 quilómetros. Uma forma de contornar a volta é, indo em grupo, deixando um carro em cada extremo; outra é combinar com um dos táxis nas entradas dos passadiços.

Ou então, ser valente e saltar logo para a segunda decisão: escolher por onde começar. Tanto pode ser pelo Areinho, onde ataca logo a escadaria que trepa pela fraga, começar pelo Espiunca, que deixa essa parte danada mais para o final, ou pelo meio do percurso. Seja por onde for, é um caminho de uma imensa frescura verde com carvalhos, freixos, sobreiros, amieiros, rochedos e o rio Paiva sempre ao lado. Os impressionantes lances de escadas diagonais permitiram acessibilidade a lugares que eram antes praticamente impossíveis de alcançar a pé.

Da Panorâmica do Detrelo da Malhada, a 1099 metros de altitude, avista-se a maior parte do Geoparque e a sua vegetação rasteira de urze, carqueja e tojo.

Entre as paragens mais tentadoras para pausas fotográficas contam-se a ponte de pedra de Alvarenga, uma obra com quase 250 anos, e a garganta do Paiva, o mais famoso percurso de águas bravas do país. Outros lugares para consolar a vista são a cascata das Aguieiras e a praia fluvial do Vau, onde tanto se pode parar para dar um mergulho como para fazer piqueniques.

É natural que os passadiços abram o apetite para mais do Geoparque de Arouca, que ganhou a designação por conter um património geológico valioso e singular. Entre essas preciosidades, encontram-se as pedras parideiras, as pedras boroas e as trilobites gigantes. Não só podem ser vistas ao vivo, encontrando- se entre os 41 geossítios classificados do Geoparque, como se pode aprender bastante mais sobre elas, em visitas a dois lugares abertos ao público – o Centro de Interpretação Geológica de Canelas e o Museu das Trilobites Gigantes e a Casa das Pedras Parideiras.

O Geoparque de Arouca está parcialmente integrado na serra da Freita. Sendo tarefa difícil picar o ponto em todos os seus 41 geos-sítios – os lugares de interesse geológico –, é possível, contudo, escolher cinco deles para os percorrer no espaço de um dia. Ficam a distâncias razoáveis entre si (cerca de dez minutos), foram intervencionados recentemente e constituem um bom resumo daquilo que o Geoparque representa – em cada um deles, placas informativas explicam a sua importância e que elementos naturais (serras, rios e formações rochosas) se podem ali observar. Acrescente-se a isto a viagem pela natureza e pelas paisagens da Freita, e ainda umas paragens para comer o melhor que ela dá, e está um programa feito.

De ponta a ponta, são nove quilómetros de caminhada; 18, em ida e volta. Dicas preciosas para a hora de repor energias: a Casa Caetano, em Alvarenga, e o hotel Vale do Rio.

Serra acima, a primeira paragem pode ser na Panorâmica do Detrelo da Malhada. Dali, a 1099 metros de altitude, avista-se a maior parte do Geoparque e a sua vegetação rasteira de urze, carqueja e tojo – base da alimentação das vacas que também se encontram pelo caminho, dando o sabor distintivo à celebrada carne arouquesa. Adiante, junto das Pedras Boroas do Junqueiro, basta olhá-las para compreender o nome, com as fissuras no granito a fazerem lembrar a crosta de uma broa.

Próxima paragem, Campo de Dobras da Castanheira, de onde se avista, no vale, a aldeia do Castanheiro. Calcula-se que estas dobras nas rochas sejam marcas do mar, com 500 milhões de anos. E da água do passado passa-se para a água do presente, seguindo para o miradouro da Frecha da Mizarela. A visita pode terminar no marco geodésico de São Pedro Velho, de cujos 1077 metros de altitude se vê um postal onde cabem os vales de Arouca e dos rios Paiva e Douro, as serras de Valongo e do Marão, o Gerês e a ria de Aveiro. Subir a serra é um pequeno preço a pagar por tão grande recompensa.


Passadiços do Paiva, Arouca
Reserva de bilhete obrigatória através
do site passadicosdopaiva.pt
Preço: 1 euro (pagamento prévio por multibanco); 2 euros se o pagamento for feito no Turismo de Arouca ou na praia do Areinho. Grátis para crianças até aos 12 anos.


Visitar

Centro de Interpretação Geológica de Canelas e Museu das Trilobites Gigantes
Canelas de Cima, 213
Tel.: 916352917 Web: cigc-arouca.com
Das 10h00 às 15h00; domingo, das 14h00 às 17h00. Encerra à segunda.

Casa das Pedras Parideiras – Centro de Interpretação
Rua de Santo António, Castanheiro
Albergaria da Serra
Tel.: 256484093 Web: geoparquearouca.com
Não encerra.

Radas Meteorológico de Arouca
Tel.: 256484093 Web: geoparquearouca.com
Visitas todos os dias sob marcação


Comer

Casa Caetano
Alvarenga, nas redondezas dos passadiços do Paiva, é famosa pelas carnes arouquesas. A Casa Caetano é o restaurante mais antigo da aldeia, com 50 anos, que serve carne certificada. Além do bife à moda de Alvarenga, propõe vitela assada no forno, bacalhau grelhado e, por encomenda, cabrito assado e arroz de cabidela caseiro. É recomendável não saltar a sobremesa da casa, pudim de bolacha e caramelo.

Albisqueiros, Alvarenga
Tel.: 256955150 Preço médio: 15 euros
Encerra à segunda.

El Pata Negra
Presuntos espanhóis e cerveja preta de pressão são os pontos fortes do El Pata Negra. Com assumida orientação ibérica, tem uma extensa carta de tapas, pintxos e outros petiscos como hambúrgueres e francesinhas. Destaca-se por ser o restaurante aberto até mais tarde na cidade – ao fim de semana, as suas portas só encerram às 05h00 – e não falta espaço na enorme sala.

Rua Doutor Ernesto Soares dos Reis, 122
(Oliveira de Azeméis)
Tel.: 256688188 Preço médio: 10 euros
Não encerra.

Texto de Ana Luísa Santos - Fotografia de Maria João Gaia/Global Imagens
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