É verdade que o artigo fala sobre um hotel, mas vamos começar pelo lado de fora, na falésia, a caminho da praia. Há um trilho que liga Albufeira a Vilamoura e que não é nada menos do que um tesouro. Tem vista para toda a linha de costa e não há melhor lugar para entender o que aconteceu ao miolo do Algarve. As terras do centro não foram urbanizadas desmesuradamente por acaso. Aconteceu tudo porque havia de facto ali um tesouro, um dos mais belos areais do mundo, rodeado de escarpas.

Nesse caminho de terra é possível esquecer a construção intensa, a adequação do comércio aos gostos forasteiros, o luxo pindérico do novo-riquismo. São pinheiros, rochas e um mar que é ouro. Há um silêncio pacífico, estival, é todo um convite à contemplação. Paz, onde nunca ninguém imaginou que ela pudesse existir.

Mal se dá pela entrada para o Epic Sana. O hotel conseguiu preservar nos jardins o pinhal que ali existia, por isso parece o prolongamento florestal da falésia. Isto para quem vem do mar. A chegada por terra é tudo menos isso. É preciso atravessar um mar de betão, prédios suburbanos e poucos espaços públicos, lojas que servem apenas turistas, néons coloridos, menus de tradução manhosa.

Quando se desagua no lobby do Epic, a primeira sensação é de um tremendo alívio, um pouco como chegar a Sintra após atravessar o IC19 em hora de ponta. Cores claras, luxo discreto, enormes janelas sobre os pinheiros. Há, aliás, quatro grandes colunas castanhas que parecem troncos, como se o bosque tivesse entrado pelas portas do hotel.

Cores claras e luxo discreto marcam o tom para o ambiente do Epic Sana. Os jardins preservam o pinhal que já ali existia.

Aberto há três anos, o Epic Sana tem 162 quartos, 24 suites e 43 apartamentos, que são vocacionados para famílias e ocupam uma zona com piscinas próprias, um Kid Center e serviço de refeições, o que acaba por isolar naturalmente a criançada dos restantes hóspedes. «Podemos dizer que temos uma clientela mais jovem do que é costume neste segmento », diz Lourenço Ribeiro, diretor do hotel. «Vêm sobretudo casais jovens, famílias, empresas em grupos.» Ingleses, sobretudo, seguidos por portugueses e alemães. Os franceses, em quarto lugar, estão em franco crescimento. «Em média, ficam cinco dias, o que nos permite desenvolver uma série de programas e atividades de wellness, que se estão a tornar a referência do hotel.»

Quando o Epic Sana abriu, o spa era apenas isso: um bom spa. Agora acolhe uma série de retiros. Há um bootcamp que junta treino militar, personal trainer, nutricionista, refeições e estada de luxo durante sete noites – e que custa entre 2886 e 4638 euros. E também há ofertas que puxam menos pelo físico: Cleansing Detox, De-Stress ou Yoga Retreat. Todos aliam o spa às refeições, massagens e acompanhamento profissional. «Estes retreats estão a revelar-se um caso de sucesso. Representa já dez por cento da faturação e está em crescimento», diz o diretor.

O diamante em bruto do Epic Sana é, no entanto, um restaurante chamado Al Quimia. O diretor não contém a ambição: «O objetivo é ganhar uma estrela Michelin.» Luís Mourão, o chef, é mais reservado, mas está a ensaiar menus de degustação sazonais que são toda uma ode à cozinha algarvia. Para a mesa segue um salmonete com camarão da costa, e depois trufas de bacalhau com azeitona e caviar. Antes, tinha servido vieiras com pó de poejo e mesmo ao foie gras decidiu acrescentar esparguete de uva. «Há o sabor, claro, mas isto também tem de ser uma experiência. A ideia é que, à medida que são servidos os pratos, as pessoas sintam que estão a andar num carrossel.» No outono, o baloiço é levado ao limite quando o chef organiza o jantar Sensations, que alia um menu ousado a um serviço improvável: «Este ano quero servir os pratos em drones.»

Entre Albufeira e Vilamoura, corre um trilho pedestre pelo dorso da falésia, sempre com largas vistas de praia.

Também há um Algarve que vale a pena fora do hotel. Na praia de Olhos de Água fica o La Cigale, que oferece todos os dias o melhor do mar algarvio, sem grandes artifícios. «Quando o produto é bom não vale a pena inventar», diz João Luís, o proprietário. Dos mercados de Albufeira e Quarteira chegam todos os dias gambas, carabineiros e amêijoas, robalo, dourada e pargo fresquíssimos. O espaço tem lugar para 120 pessoas (mais 80 na esplanada), com uma vista imaculada sobre a praia. «Estou aqui há vinte anos, mas mantive grande parte do staff que cá estava, porque neste restaurante valorizamos os saberes antigos.» O ponto de cocção dos produtos é notável, há arte de grelha e pouco tempero, não é preciso muito para levar o mar à mesa. No fim, licor de medronho e doces de amêndoa e alfarroba.

Restaurante La Cigale

Uns metros acima, para quem quiserver autenticidade, há uma fábrica de esculturas na loja térrea de um prédio. Aqui há outro mar, talhado a escopro no arenito. Joaquim Pargana tem 72 anos, 17 de reforma. Decidiu fazer do passatempo profissão. Então é vê-lo ir à praia recolher calhaus e transformá- los em peixes, polvos, cavalos-marinhos. «Quando apanho as rochas, elas dizem-me logo o que querem ser, induzem uma forma. Depois é deixála sair.»

Pargana tem ali um refúgio do Algarve puro, o despojamento do Sul. Seja numa esplanada marítima, num hotel de cinco estrelas, ou numa loja suburbana, ainda há quem conserve no meio da confusão a autenticidade onde ela parece ser difícil de encontrar. Basta saber ver.

Onde ficar

Epic Sana Algarve
Pinhal do Concelho,
Praia da Falésia, Olhos de Água
Tel.: 289104300
Quarto duplo a partir de 160 euros por noite (inclui pequeno-almoço)
Web: algarve.epic.sanahotels.com

Onde comer

Al Quimia
Hotel Epic Sana Algarve, Praia da Falésia
Tel.: 289104500
Das 19h00 às 22h30. Encerra ao domingo e à segunda (época alta)
Menus de degustação a 95 euros

La Cigale
Praia de Olhos de Água
Tel.: 289501637
Web: restaurantelacigale.net
Das 10h30 às 23h00. Não encerra.
Preço médio: 25 euros

Onde comprar esculturas

Pargana
Rua da Ladeira,
Olhos de Água
Tel.: 289501567

Tomar um copo

Bluum Bar
O bar do Epic Sana oferece uma carta de cocktails originais, incluindo algumas experiências moleculares. De 13 a 15 euros.
Hotel Epic Sana
Algarve, Praia da Falésia Das 12h00 à 01h00. Não encerra.

Texto de Ricardo J. Rodrigues - Fotografias de Fernando Marques
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