Medellín: A cidade da eterna primavera

Na Plaza Mayor (1), no centro de Medellín, há duas esculturas de pássaros aparentemente iguais. Mas as aparências iludem. E contam histórias. De perto, constatamos que um dos pássaros tem o ventre esfrangalhado por uma bomba ali colocada pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), em 1995. Morreram 23 pessoas. O outro, distanciado apenas quatro metros, reflete com o seu bronze irrepreensível a forte luz do meio-dia. Ambos têm a assinatura de Fernando Botero, o artista vivo mais conceituado da América do Sul, nascido em Medellín há 83 anos. Quando o atentado lhe destruiu a obra, Botero decidiu colocar ao seu lado uma cópia intacta, para mostrar que a cidade não sucumbiria à violência. Nem o artista imaginou que a sua mensagem seria tão bem interpretada.

Há 30 anos, quem dissesse que ia de férias a Medellín era louco ou suicida. A cidade era o epicentro do tráfico de cocaína e de uma guerra sangrenta entre o cartel de Pablo Escobar e o governo colombiano. Havia ainda o conflito com as guerrilhas marxistas e com a extrema-direita paramilitar. Mas Medellín soube reinventar-se. Tudo começou com a inauguração do metro (o único na Colômbia) e do metrocable (2), uma rede de teleféricos que liga o centro, encaixado no Vale de Aburrá, às comunas (favelas) conglomeradas nos morros. Criaram-se parques nas margens do rio, museus e bibliotecas, algumas delas em bairros negligenciados. Por fim, levaram-se a cabo projetos inovadores, como um cordão florestal em redor da cidade, a instalação de escadas rolantes na flagelada Comuna 13 (3) e a cobertura da maior via rodoviária da urbe com um longo parque natural. Resultado: em 2013, Medellín ganhou a Nova Iorque e a Telavive o título de cidade mais inovadora do mundo, atribuído pelo Urban Land Institute e pelo The Wall Street Journal.

Esta cidade colombiana está repleta de parques e museus e, após anos de renovações, conseguiu que determinadas zonas marginais se transformassem em atrações turísticas.

A segunda maior cidade colombiana, hoje com quatro milhões de habitantes, tem um legado de 350 anos que se manifesta na arquitetura, na arte popular, no artesanato e na gastronomia. No século XVI, o conquistador Jorge Robledo chegou ao Valle de Aburrá, subjugando as comunidades indígenas que aí habitavam. Entusiasmados pela existência de ouro, os povoadores espanhóis fundaram Santa Fe de Antioquia, atualmente uma pitoresca vila colonial. Mas a povoação assentava em terras áridas e era de difícil acesso. Assim, a rainha espanhola, apoiada pelo conde andaluz de Medellín, decretou em 1685 a fundação de uma cidade no regaço do vale – e nasceu Medellín, em homenagem ao seu apoiante. Dos séculos passados sobrevivem edifícios simbólicos como a Igreja de La Candelaria (4), feita cem anos após a fundação, o edifício San Ignacio (5), hoje sede da reitoria da Universidade de Antioquia e a antiga estação de caminhos-de-ferro (6), bela homenagem arquitetónica ao renascimento francês que, entre os séculos XIX e XX, demorou 50 anos a ser construída.

Há somente duas coisas que permanecem imutáveis na atribulada história de Medellín. A primeira é o clima, ameno todo o ano, com uma média de 23 graus centígrados, que lhe outorgou o epíteto de «cidade da eterna primavera». A outra é a sua gente – os paisas rivalizam com os árabes no campeonato dos mais hospitaleiros, são exímios negociantes e obstinadamente apaixonados pela sua cidade. Mesmo que não seja por tudo o resto, eles merecem uma visita.

Texto de Tiago Carrasco - Fotografias Direitos Reservados
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