A ilha da festa tem muito para oferecer. Do chill out ao fim da tarde às festas até de manhã, tudo é possível. Sem esquecer um centro histórico recheado de património e uma atmosfera constante de chinelo no pé.

Texto de Nuno Mota Gomes
Fotografias de Fernando Marques

Pouco passava do meio-dia e a música já mostrava a potência do sistema de som. Quase todos os presentes tinham um copo na mão e os reflexos do sol pediam óculos escuros. Acabados de aterrar na ilha que não dorme, não restavam mais dúvidas: «Chegámos a Ibiza.» Estávamos na piscina do Hard Rock Hotel, para um almoço rodeado de gente que, aos poucos, lá ia acordando. O ambiente era o que se previa: animado e descontraído, naquele que é o primeiro hotel da marca na Europa. Um gigante à frente da praia, com 493 quartos, piscinas e terraços privados, palco para festas de artistas internacionais onde cabem mais de duas mil pessoas.

Aos poucos, fomos entrando no ritmo: de copo na mão, com os pés já na areia e aproveitando para uns mergulhos na água quente e transparente da Playa D’en Bossa. É a praia mais extensa da ilha e onde estão alinhados alguns dos hotéis com mais oferta de diversão.

A tarde prolongou-se por ali, no Ushuaia Ibiza Beach Club, entre espreguiçadeiras e daybeds. Do restaurante saíam pratos mediterrâneos; no bar serviam-se cocktails coloridos para quem aproveitava o final de tarde; o DJ lançava música chill out; junto à água passavam grupos a promover as «melhores» festas daquela noite. Prepara-se mais um gin e o dia poderia ter parado ali, o Sol podia não ter baixado mais. Mas é nessa altura que começa a segunda parte de Ibiza.

Em todas as estradas há outdoors a anunciar a agenda das míticas discotecas, com nomes da nova geração, do house à eletrónica. A música está por todo o lado, o verão é longo e vivido com muita intensidade. É um destino que mesmo quem nunca lá esteve tem uma ideia de como é. Já ouviu falar. Mas também há um outro lado de Ibiza que deve ser conhecido, sem confusão e onde é o silêncio que manda.

A parte boa de se estar numa ilha pequena é que bastam poucos quilómetros para se conseguir fugir do centro. Ou melhor dizendo, do Sul, onde a invasão de turistas se concentra. Parece mentira, mas a verdade é que fomos surpreendidos pelo sossego, rendidos a uma Ibiza que é verde, coberta de pinheiros, assim como os gregos da Antiguidade a identificaram.

IBIZA

Uma villa quase exclusiva, uma discoteca mítica, um restaurante que nos abre o apetite e um segredo à espera de ser revelado.

Dormir

Quando chegámos à Vila Mare onde ficaríamos a dormir já o Sol se tinha posto. Fica no topo de uma encosta em Na Xamena, com o horizonte ao fundo que se confundia com a piscina infinita. Desde há seis anos, durante um mês, a Gin Mare (ginmare.com) ocupa este paraíso com eventos da marca.

É uma casa que só é possível alugar à semana, com preços à imagem da qualidade que se tem e do local onde se está. Aliás, está a pouco mais de quinhentos metros de um dos hotéis mais exclusivos de Ibiza, o Hacienda Na Xamena, e partilham praticamente a mesma vista. Os oito quartos estão todos virados para o mar, o acesso à casa faz-se por uma estrada de terra batida, sem festas à volta, sem outdoors.

Quando o Sol nasce, a sensação é de que acordar ali ainda faz parte do sonho. Nada que um mergulho, debruçados sobre o infinito, não resolva. Até ser hora de se aprender a servir um gin, utilizando os utensílios e os ingredientes certos. Juntar mais uma pitada de calor e um toque de música. Está feita a receita.

 

Um segredo

Tínhamos menos tempo previsto na ilha do que curiosidade. E sabíamos que havia mais do que o que encontrámos no Sul. Estando em Na Xamena, deram-nos boleia até ao Port de San Miquel. Porque era perto, porque parecia valer a pena. E não nos enganámos. Encontrámos um porto seguro, tranquilo, com alguns hotéis que cresceram à volta, mas as pessoas eram outras. A praia estava composta por famílias, com crianças a brincar à beira-mar. Os restaurantes serviam o peixe fresco que tinham escrito nos menus em quadros de giz. Os pinheiros quase tocavam na água, ao fundo contavam-se as pequenas embarcações fundeadas, algumas de pesca, outras para levar a passear os curiosos junto ao recorte da costa.

Fizemos o passeio a pé por um trilho íngreme e com algumas rasteiras das raízes. Pouco depois não queríamos acreditar no que acabávamos de descobrir. Se tivéssemos uma tenda era ali que ficávamos por uma noite ou duas. Talvez tenha sido por isso que lá montaram o Utopia Beach Bar, chiringuito com palhotas, peixe na grelha e o mar em frente.

 

Sair à noite

Para muita gente, a noite é o dia em Ibiza. Para quem se identifica com as luzes das discotecas, com as pulseiras coloridas e as garrafas no privado, este é o sítio. Na cidade europeia mais famosa pelas festas, onde todos os anos aterram mais de seis milhões de turistas, nem tudo é mau. Também nós não fugimos à peregrinação e acabámos uma das noites no Pacha. A força das duas cerejas são hoje uma autêntica marca, mais do que só discotecas.

A primeira começou em Sitges, cidade costeira a meia hora a sul de Barcelona, em 1967. Depois voaram para Ibiza, em pleno movimento hippie, para abrir em 1973 a «casa» que se veio a tornar uma referência mundial.

A marca de discotecas tem atualmente presença no Brasil, nos EUA, na Austrália, na Alemanha, no Egito e também em Portugal. Em Ibiza está no centro, muito perto da marina e do outro lado da estrada em relação ao próprio hotel Pacha. Depois no interior há também restaurante e sushi-bar, cinco ambientes musicais, entre house e eletrónica, funky, lounge, hip hop e R&B e uma sala onde tocam os clássicos dos anos 1980 e 1990. A entrada pode variar entre os 20 e 40 euros, dependendo da festa e do dia, e uma cerveja custa 12 euros. É aconselhável comprar uma pulseira com antecedência nos pontos de venda autorizados.

 

No centro de Eivissa

Eivissa é nome da capital da ilha em catalão e é assim que está indicada nas estradas. Uma visita à vila dentro das muralhas é uma paragem imperdível, não só pela forma como o património está bem preservado como pela história que carrega. Uma autêntica surpresa para quem pensa na ilha como um aglomerado de hotéis e apartamentos turísticos.

Graças à localização geográfica de Ibiza, esta foi ao longo dos muitos séculos um importante ponto estratégico nas rotas do Mediterrâneo: fenícios, cartagineses, romanos, bárbaros, muçulmanos e cristãos, todos deixaram as suas marcas. É a única ilha do mundo que teve proteção de piratas contra invasores – e que agradeceu essa ajuda construindo junto à entrada do porto um obelisco de homenagem à pirataria.

Mais tarde vieram os americanos hippies, depois os ingleses, franceses, alemães, espanhóis e italianos. Em 1999, a UNESCO declarou a ilha como «Ibiza, Biodiversidade e Cultura», garantindo assim um lugar na lista do Património da Humanidade.

 

Onde comer

O restaurante Guillemis Gastro Bar está no olho do furacão, a dividir a rua com outros tantos. Há sempre gente a passar a pé e a ser convidada para conhecer a ementa. Dito assim pode assustar, mas é uma sugestão animada que serve qualidade mediterrânea, das pastas ao marisco, assim como carne e peixe. Uma «fusão local» como nos contou o proprietário, que nos quis mostrar todos os cantos à casa – até o forno. No TripAdvisor está na nona posição em quase 500 restaurantes do centro. Preço médio: 25 euros por pessoa.

 

Como ir
A Iberia (iberia.pt) tem voos desde 140 euros, com partida de Lisboa e escala em Madrid.

Info
Mais informações em spain.info

Agradecimentos

A Volta ao Mundo viajou a convite da Gin Mare

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