Leigh Timmis deixou a sua em casa, em Derby, Inglaterra, em junho de 2010. Levava apenas uma bicicleta, uma câmara fotográfica e um objetivo a cumprir: dar a volta ao mundo em bicicleta e angariar dinheiro para as crianças do Centro de Férias de Derbyshire.

Passados sete anos, 50 países, um encontro com um leão selvagem e temperaturas de 40 graus negativos, Leigh Timmis regressou à sua terra natal com mais de 13 mil euros.

Agora com 35 anos, conta ao The Telegraph algumas lições que aprendeu durante a aventura:

1. A troca de um trabalho num escritório que dinheiro, pelo esforço de uma experiência destas, vale a pena.
Uma viagem de bicicleta, que é lenta, permite conhecer a vida de pessoas completamente estranhas e de culturas diferentes. Leigh pedalava entre 90 a 130 quilómetros por dia – por vezes menos, devido às condições do tempo, da altitude em que se encontrava ou dos indivíduos que ia encontrando pelo caminho. Apesar de ter sido uma jornada difícil, deu-lhe a certeza de que valeu a pena trocar o dia-a-dia num escritório por esta viagem. A liberdade, o facto de não ter horários ou prazos a cumprir, e o ter de obedecer apenas a si próprio, permitiram-lhe viajar por onde lhe apeteceu, ou pelos locais onde o clima era melhor.

2. A vulnerabilidade de um homem numa bicicleta abre as portas e os corações de estranhos pelo mundo fora
Por vezes, Leigh tinha de lutar para estar motivado e continuar. E foram os estranhos que encontrou na estrada que o ajudaram a seguir em frente. O ciclista conta que perdeu a conta aos favores que lhe foram concedidos, e ao número de vezes que lhe prestaram auxílio e lhe abriram as portas de casa.

3. Pequenas decisões podem fazer a diferença entre a vida e a morte
Depois de explorar a Nova Zelândia, Leigh decidiu pedalar à volta do Pacífico Sul, em vez de atravessá-lo de avião. Estava hospedado num iate atracado, juntamente com um grupo de amigos recentes. O barco encontrava-se com alguns problemas, e por isso o inglês ajudava na sua reparação e manutenção. Partiam para aventuras de caiaque ou entravam em «missões de percorrer todos os bares náuticos do porto e beber um copo em cada um deles. Quando o iate ficou finalmente pronto, o grupo perguntou a Leigh Timmis se queria juntar-se a eles para uma viagem de barco. A resposta foi «não», já que o ciclista combinara encontrar-se com alguém. Por isso, acordou que, no regresso do iate (o que deveria acontecer passadas duas semanas), embarcaria com eles numa viagem até às Ilhas Fiji. O dia da chegada nunca aconteceu: o barco foi apanhado por uma tempestade e nunca mais se ouviu falar dele. Na altura, a notícia correu o mundo. E a decisão de Timmis valeu-lhe a vida.

4. Não se deve brincar com o mar: ele é perigoso, mesmo para os mais experientes
Algumas semanas depois do acidente no mar, Leigh decidiu partir num outro barco para as Fiji. Foi uma decisão complicada, mas era inevitável. Garantiram-lhe que o iate estava em perfeitas condições para viajar. No entanto, passados alguns dias viram-se confrontados com uma enorme tempestade. Foi uma experiência horrível e assustadora, conta o aventureiro. Ondas monstruosas caíam sobre o barco, e o pensamento de que lhes sucederia o mesmo que aos outros companheiros não lhe saía da cabeça. Mas sobreviveram: depois de nove dias no meio da tempestade, chegaram a terra sãos e salvos.

5. Atravessar o deserto australiano fez-lhe perceber o que importa realmente na vida
Habitualmente, a maioria das pessoas que vive nos países desenvolvidos toma como garantidas as necessidades básicas de vida. Leigh conta que, quando pedalava pelos trilhos infinitos de areia do deserto australiano, levava consigo cerca de 18 litros de água – o máximo que conseguia transportar. Essa quantidade teria de chegar para quatro dias. Uma tarde, quando o sol começou a pôr-se no horizonte, o inglês saltou da bicicleta para procurar um lugar onde pudesse acampar e pernoitar. Foi aí que se apercebeu que tinha perdido o depósito de água pelo caminho. E ali estava ele, sozinho no meio do deserto, sem água. Leigh Timmis conta que, sem hesitar, saltou para a bicicleta e pedalou para trás, em busca da água. Naquele momento nada mais importava: a máquina fotográfica, o computador, a bicicleta, o passaporte, tudo era insignificante em comparação com alguns litros de água. Felizmente, encontrou o recipiente caído alguns quilómetros atrás.

6. Há leões fora de África
Leigh tinha sido avisado sobre a vida selvagem do Alasca e do Canadá. Poderia encontrar ursos e alces, as principais ameaças caso acampasse. No primeiro dia no Território do Yukon, choveu bastante, mas o ciclista conseguiu acampar num lugar seco. Para não se molhar muito, pendurou a comida numa árvore situada a apenas cinco metros da tenda – o recomendado era uma distância de 100 metros. Enquanto descansava, ouviu o rugir de um animal que pensou ser um urso. Quando abriu a tenda, em vez de um urso vislumbrou um animal semelhante a um cão grande, deitado debaixo da comida. Não ligou muito e voltou a dormir. Só quando mais tarde comentou com algumas pessoas é que se apercebeu tratar-se de um leão da montanha, um animal raro e perigoso. Pois é, os leões selvagens não vivem apenas em África.

7. Pedalar pela Rota da Seda é a viagem mais bonita do mundo
A Ásia Central é incrivelmente bonita. Leigh Timmis conta que pedalou pelo deserto, por montanhas sem turistas, por estradas com mercados onde se vendiam especiarias e sedas, tal como acontecia há dois mil anos. Leigh diz que se sentiu como o Indiana Jones.

8. Pedalar nos Himalaias é muito difícil
A parte mais difícil da viagem, a nível físico, foi o Tibete. A cinco mil metros de altitude, com temperaturas mínimas de 40 graus negativos no inverno, foi um local muito difícil para pedalar. O ciclista afirma que se viu obrigado a andar por cima de rios congelados, fazer buracos no gelo para conseguir água, pedalar durante tempestades e ventos fortes, e lutar para conseguir respirar, devido à falta de oxigénio que se sente naquela área.

9. Mas pedalar pela América do Sul também
As expectativas que Leigh tinha da América do Sul eram enormes. Por exemplo, pensava que a viagem pelo Peru seria repleta de experiências místicas. Mas, em vez disso, encontrou chuva nos Andes e tempestades de areia no deserto. As estradas longas, planas e retas «matam». O calor e a humidade são insuportáveis, e o tempo parece não passar.

10. As pessoas mais pobres são geralmente as mais acolhedoras
Em geral, as pessoas mais acolhedoras são as mais pobres, residentes no campo. O aventureiro ficou em casa de pelo menos um estranho em cada país visitado, tendo sido convidado aleatoriamente na rua. Leigh foi tratado de maneira diferente em cada local do mundo, mas para ele as diferenças são bem-vindas. Se nas Ilhas Fiji ficou em casa de uma família pobre, que insistiu para que ele comesse o único caranguejo que havia, enquanto a família comia apenas noodles e batatas, nos EUA condutores que percorriam as estradas vazias deram-lhe 20 dólares para que continuasse a viver o seu sonho, tal como eles estavam a viver o deles.

11. A França é o melhor país para andar de bicicleta
«O que mais quer um ciclista para além de baguetes, queijos, bolos fantásticos e vinho barato?», pergunta Leigh Timmis. Em França, a rede de ciclovias ao longo de canais é incrível. O inglês ficou espantado ao encontrar tantas estradas perfeitamente pavimentadas no meio do campo, o que raramente acontece noutro lugar.

12. Andar de bicicleta é como meditar
Estar sozinho em cima de uma bicicleta é um momento ótimo para pensar e admirar o que se passa à volta. Mas a solidão também pode ser incrivelmente destrutiva. Leigh teve de lutar para conseguir atravessar o Sudeste Asiático, em países onde não conseguia comunicar com os habitantes locais, ou no auge da estação da chuva, viagem que quase o levou à loucura.

13. É possível viajar pelo mundo com apenas seis euros por dia
Leigh Timmis conseguiu viver com aproximadamente cinco libras (mais ou menos seis euros) por dia. No transporte, alojamento e água, Leigh não gastava dinheiro. A única coisa que precisava de comprar era comida, que adquiria nos mercados locais. Antes de iniciar a viagem, com as poupanças que efetuou e depois de comprar a bicicleta, ficou com sete mil libras (8354 euros, aproximadamente), dinheiro que pensava ser suficiente. Como não foi, acabou por poupar mais três mil libras (3580 euros) a trabalhar na Austrália, e mais cinco mil libras (5967 euros) em Taiwan.

Por Mafalda Magrini – Fotografias Leigh Timmis

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