Os tesouros do Peru vistos pela embaixadora em Portugal Lissette Nalvarte. Por Leonídio Paulo Ferreira.
Da batata ao tomate, há séculos que o mundo se delicia com os alimentos originários do Peru, berço da civilização inca, depois próspero vice-reino espanhol e desde há 200 anos um país independente caraterizado por enorme diversidade tanto no território como na população. «A cozinha peruana resulta da mistura andina e espanhola, mas também da africana, da chinesa e da japonesa», explica Lissette Nalvarte, embaixadora do Peru em Lisboa desde 2015.
Entusiasmada com a popularidade crescente da gastronomia do seu país, a diplomata alerta, porém, que «a diversidade é muita e não só o ceviche ou o pisco sour», referindo-se ao prato de peixe marinado em limão e ao cocktail que fazem as delícias de tanta gente. Tão grande como Portugal, Espanha e França somados, o Peru carateriza-se por uma variedade de paisagens que vai do deserto à floresta tropical, passando pela alta montanha.
Ora, não é, pois, de admirar que um país que tanto tem a Amazónia como os Andes produza alimentos únicos, aos quais o resto do mundo pouco a pouco se vai rendendo. Foi assim há 500 anos com a batata, que se tornou parte da alimentação dos europeus, é hoje assim também com os chamados superalimentos, a ponto de se falar, em termos internacionais e usando o inglês, dos «superfood Peru», acrescenta a embaixadora.
«São alimentos que o Peru oferece ao mundo. Têm grande capacidade nutritiva, são antioxidantes e o cultivo respeita o ambiente.» O mais famoso dos superalimentos entre os portugueses será hoje a quinoa, mas a embaixadora explica que são muitos mais e destaca a kiwicha, que há milhares de anos é cultivada pelas populações andinas e que de repente se tornou a comida preferida pelos astronautas da NASA.
«Os superalimentos peruanos fazem parte até da dieta dos astronautas», realça, com orgulho, a diplomata. Segundo o portal do ministério peruano da Agricultura, a kiwicha tem 15% a 18% de proteínas, enquanto o milho se fica pelos 10%. As sementes são ricas em aminoácidos e o grão de kiwicha tem cálcio, fósforo, ferro, potássio, zinco e vitaminas E e B.
Desafiando os portugueses a visitar o Peru, desde a arquitetura colonial de Lima às ruínas incas de Machu Picchu, Lissette Nalvarte lembra que a gastronomia local usa muito os superalimentos. Com uma das melhores taxas de crescimento económico da América Latina, o Peru quer usar a riqueza natural e cultural para gerar mais. No ano passado, oito mil turistas portugueses visitaram o país, onde às populações andinas se somaram os colonos espanhóis, os escravos africanos e mais tarde os imigrantes asiáticos. Hoje, os 33 milhões de peruanos são os descendentes dessa mescla.
Lissette Nalvarte
É formada em Relações Internacionais, tem mestrado e fez estudos de doutoramento. Foi diplomata na Alemanha e em Espanha antes de ser colocada em Portugal.