Entre enfiar a cabeça na areia e olhar de frente o mundo para o perceber melhor.

Neste mês deparámo‑nos com um problema ético que é habitual entre os grandes viajantes. Há vários meses tínhamos selecionado a Birmânia como tema de capa, por várias razões. A primeira, as fotos do João Pina, um dos mais internacionais fotógrafos portugueses, repórter de primeira e globetrotter por opção de vida. A segunda, a reportagem da Isabel Nery, jornalista experiente e cuja sensibilidade vai muito além do jornalismo de viagem que por vezes se detém apenas nas coisas bonitas. E, terceira, porque conhecemos o mercado das viagens e sabemos como este país asiático se tem tornado um dos mais desejados destinos do mundo, curiosamente, tanto entre os aventureiros como entre os viajantes de excursão.

Ou seja, era basicamente um três em um. Mas eis que os tempos não estão para certezas e nos cai em cima a polémica dos conflitos étnicos com a minoria muçulmana rohingya. Fala‑se em centenas de mortos e milhares perseguidos a encontrar exílio no vizinho Bangladesh. Aung San Suu Kyi, a nobel da Paz, é acusada de parcialidade e diz que há muita campanha de desinformação. E então? Cancalávamos a publicação ou avançávamos? Resolvemos avançar. Fechar os olhos ou enfiar a cabeça na areia não é boa atitude para um viajante. Pelo contrário, quanto mais conhecemos do mundo, mais aberta a nossa mente fica a explicá‑lo.

Além disso, averiguámos, não há propriamente perigo nas zonas visitadas pelos turistas – não mais do que em outros lugares do mundo. Foi por isso que resolvemos fazer esta capa, no meio da polémica. E será por isso, também temos a certeza, que a Birmânia continuará a ser um país desejado para os modernos viajantes.

Catarina Carvalho, diretora
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