E se lhe oferecessem dois mil euros para se mudar para Itália?

Candela, uma pequena cidade medieval, brilhava nos anos 1980 e 1990, quando era conhecida como a «pequena Nápoles» do país. Hoje em dia, a sua população está envelhecida e poucos são os jovens que lá permanecem ou constroem família – passou de 8000 residentes para cerca de 2700, nos últimos anos.

O presidente do município de Candela, na região de Puglia, em Itália, encontrou uma solução prática para atrair novos habitantes – Nicola Gatta oferece até dois mil euros a quem estiver disposto a mudar-se.

Aqueles que quiserem mudar-se para Candela – incluindo estrangeiros – irão receber dinheiro em troca de construírem uma vida na cidade: os solteiros recebem 800 euros, os casais 1200 euros, as famílias de três membros podem receber entre 1500 e 1800 euros. As famílias de quatro ou cinco pessoas recebem cerca de 2000 euros.

«Trabalho todos os dias com paixão e compromisso para que Candela volte ao seu antigo esplendor», afirmou Nicola Gatta à CNN Travel. «Até à década de 1960, os viajantes chamavam-lhe ‘Nap’licchie’ (Pequena Nápoles), e as suas ruas estavam cheias de viajantes, turistas, comerciantes e vendedores».

Este labirinto de ruas pitorescas, edifícios barrocos e passagens arqueadas corre o risco de se transformar numa verdadeira cidade fantasma. Nicola Gatta decidiu tomar medidas drásticas, tendo-se inspirado em ações semelhantes postas em prática noutras localidades italianas.

No entanto, para receberem este bónus, os novos residentes devem viver permanentemente na aldeia, alugar uma casa e ter um salário de pelo menos 7500 euros por ano, explicou Stefano Bascianelli, braço direito de Nicola Gatta. Além disso, poderão ser oferecidos créditos para as taxas sobre o lixo, para suportar algumas contas e creches para as crianças.

«Não queremos que as pessoas que se mudem para aqui pensem que podem viver apenas da oferta do município. Todos os novos moradores devem trabalhar e ter um rendimento», diz Bascianelli.

Seis famílias do norte de Itália já se mudaram para Candela e outras cinco já se candidataram. Por exemplo, o porteiro da escola local usou o dinheiro para conseguir que o resto da sua família se juntasse a ele em Candela. Outros novos habitantes abriram um quiosque de jornais.

«É um estilo de vida tranquilo e simples. Não vemos multidões, é fácil de nos movimentarmos no local, não há trânsito nem poluição atmosférica», afirma o fotógrafo Francesco Delvecchio, que deixou outra parte da região de Puglia para viver em Candela. Apesar de não ter recebido o bónus, tornou-se um dos embaixadores dos prémios oferecidos.

Ainda assim, há que alertar para o facto de esta não fazer parte das cidades típicas de Puglia, que ficam mesmo junto à praia. Candela fica no interior – a leste dos Apeninos, a 40 minutos a sul de Foggia e a uma hora da costa. O aeroporto mais próximo é o de Bari, a 90 minutos.

Claro que, se procura uma vida mais calma e longe da confusão, esta poderá ser uma solução. «A qualidade da vida brilha aqui. Não tivemos um único crime em 20 anos», conta Bascianelli. A cidade recebeu uma renovação recente e está como nova – os edifícios antigos foram restaurados, as ruas arranjadas e as praças estão agora a receber visitas guiadas. O dinheiro público é usado para financiar festas folclóricas, fogueiras espetaculares e festivais que recuperam antigas tradições e mitos.

E como falamos de Itália, não poderíamos deixar de referir a comida, um dos grandes destaques do local. A cidade recebe o Taste Candela, um itinerário de degustação de comida e de vinhos que acontece pelo centro histórico durante o verão. Em cada paragem, poderá provar a salsicha regional, o panini com burrata cremosa e a bruschetta com azeite.

A feira mais conhecida é a Sagra dell’Orecchietta, que celebra a famosa «pasta» feita à mão com o formato de uma orelhinha, típica de Puglia. Embora seja tradicionalmente feita com nabiças, aqui é servida com ragu de javali, lebre ou faisão. «É a melhor maneira de saborear as orecchiette», diz o fotógrafo Francesco Delvecchio. Outras especialidades incluem caracóis gourmet chamados «ciammaruche» e espargos macios.

Se não lhe faltam razões para se mudar para Candela, apresse-se. Ainda este ano, o presidente do município de Bormida, também em Itália, tinha prometido pagar dois mil euros aos novos residentes, mas acabou por retirar a promessa por não ter dinheiro suficiente para as solicitações.


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