A investigadora Graça Lavres considera que o lunguíe, crioulo da região autónoma são-tomense do Príncipe «corre sério risco de desaparecer», dando lugar ao crioulo cabo-verdiano.

«A língua corre um risco sério, há estudos que provam que o lunguíe já não é falado nem por 10% da população da Região Autónoma do Príncipe e esse estudo indica também que possivelmente daqui a 30 anos a nossa língua desaparece», disse Graça Lavres, autora de um livro sobre esta língua publicado em 2015 e reproduzido em 2016.

«Por isso alguém tem que fazer algo. Se o Governo não quiser fazer, pessoas singulares e de boa vontade que podem ajudar a evitar o desaparecimento da única língua da ilha, devem fazê-lo e é isso que estamos a fazer», acrescentou, referindo-se à sua publicação.

Com mestrado em Ciências de Educação na Universidade de Aveiro, com especialidade em administração e políticas educativas, Graça Lavres publicou, em 2015, juntamente com seu marido Nicolau Lavres, o livro intitulado Vi cá xiná Lunguíe (vem aprender o lunguíe) com tradução em português sobre o único crioulo da ilha do Príncipe.

A publicação teve uma tiragem de apenas 200 exemplares, com o patrocínio do Banco Internacional de São Tomé e Príncipe (BISTP), esgotou-se rapidamente e um ano mais tarde foi reproduzido com apoio da Fundação Príncipe Trust, uma ONG que opera na região, na preservação das tartarugas marinhas e conservação da natureza.

Graça Lavres lembra que o crioulo cabo-verdiano «está a crescer» na ilha e «pode vir a abafar» o crioulo nacional.

«Se nós não acautelarmos, o crioulo cabo-verdiano abafa-nos. O crioulo cabo-verdiano está a ganhar terreno porque temos os chamados filhos dos descendentes – eu não gosto muito deste termo, porque para mim todos são ‘minuíes´ (designação aos que nascem no Príncipe) – que preferem recorrer ao crioulo cabo-verdiano ao invés do crioulo do Príncipe”, explicou.

A investigadora sublinhou que estes descendentes nasceram no Príncipe, mas não sabem falar o lunguíe e optam sempre pelo crioulo cabo-verdiano.

Graça Lavres disse acreditar que o desaparecimento da língua natural do Príncipe pode levar também «à morte de várias danças e músicas tradicionais da ilha».

A escritora lamentou que o governo regional não apoie o esforço de revitalização da única língua natural da ilha do Príncipe, pelo que «a única solução é recorrer a cidadãos de boa vontade».

Lusa

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