Se lhe disserem que o próximo almoço de Páscoa vai ser numa banca de rua, isso não significa necessariamente uma refeição menos digna de cerimónia

Não têm menus, os horários não são de confiança e vai mesmo ter de encontrar um lugar para se sentar por sua conta e risco. Não estamos a falar de restaurantes brilhantes e organizados, com uma fila de talheres de cada lado de um prato (até porque provavelmente não vai encontrar pratos). Estamos a falar, isso sim, de warungs, as pequenas construções de madeira ou bambu, à beira de estradas ou em pequenas localidades na ilha de Bali, que vendem comida que se come à mão ou com o recurso ocasional a uma colher. Pode parecer pouco para justificar uma mudança radical nas suas tradições na época da Páscoa, mas acredite que há pessoas que viajam para esta ilha indonésia com o propósito exclusivo de se banquetear com as especialidades destes warungs. Uma delas, aliás, é quase um culto.

Bali é um lugar exótico, seja lá qual for o termo de comparação que estejamos a utilizar. Olhemos para a religião, por exemplo. A Indonésia é composta por 17 508 ilhas (mais ilha, menos ilha), que na sua maioria adotaram o islamismo como religião. Mas Bali não e é lá que residem praticamente todos os praticantes do hinduísmo, apenas 3% da população indonésia, mas uma percentagem muito importante. Porquê? Porque ao contrário dos islamitas, os hindus consomem carne de porco, e em Bali isso significa babi guling, a mais notória e exclusiva iguaria balinesa.

Os mais céticos dirão que não passa de leitão assado, talvez uma leve memória do primeiro contacto que a ilha de Bali teve com europeus (portugueses, naturalmente). Mas o babi guling é mais até porque tem mais. É recheado com coentros, pimenta, citronela, uma espécie de noz asiática, pasta de malaguetas, açafrão, alho, gengibre e chalotas. Vai a assar durante horas e é servido com arroz e legumes. Pode parecer pouco, mas é o suficiente para manter pessoas acordadas durante toda a noite, e não estamos a brincar. O mais famoso babi guling pode ser encontrado num warung de uma vila pequena, que só está aberto a partir das 22h e fecha com o nascer do sol (ou quando se acaba o babi guling).

Este é apenas um daqueles pormenores estranhos, mas mágicos, que fazem de Bali um lugar como nenhum outro. Bali é estar no meio do nada, em plena madrugada, e seguir alguém na escuridão por sabermos que o destino vai valer a pena. É este apelo aos sentidos que as especiarias provocam, ou as cores dos arrozais a contrastar com a luz vermelha do sol, prestes a subir ou a descer no firmamento. É estar no maior arquipélago do mundo e, ainda assim, serem as pequenas coisas que fazem valer a pena grandes viagens, mesmo que se tenham de deixar para trás datas no calendário que normalmente são passadas em casa.

Bali é um lugar exótico, seja lá qual for o termo de comparação que estejamos a utilizar.

Agora imagine-se com uma tigela deste marco gastronómico/cultural/histórico na mão, enquanto vê o sol nascer por entre as famosas ondas balinesas e tente pensar numa experiência que seja mais merecedora de trocar as velhas tradições do que esta.

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