Olhamos para ela como a epítome da modernidade, mas vendo além dos skyscrapers, das fachadas espelhadas e vanguardistas, existe uma velha New York que não pode ser esquecida.

A década de 1960 foi um período de revolução – a vários níveis – na sociedade norte-americana. A insatisfação com a presença de tropas americanas no Vietname, os conflitos raciais e o movimento dos Direitos Civis estavam na rodem do dia e, em suma, respirava-se um ar de mudança. Como em todas as revoluções, algumas das mudanças não foram efetivamente bem pensadas e no que diz respeito a New York (vamos manter o seu nome nativo, por uma simples razão: vamos falar tanto do seu passado, que corremos o risco de esquecer que se trata de uma das cidades mais modernas da atualidade) existiu uma corrente de restruturação arquitetónica que quase matou a sua herança dos tempos em que esta era a porta de entrada para a frontier, o território inexplorado do Novo Mundo.

Nesses tempos, nos tempos em que ainda existia uma fronteira feita de estacas de madeira para manter os ursos e os coiotes a uma distância segura, a primeira pessoa a fazer de Manhattan a sua casa foi um senhor de proveniência exótica: um português, pois claro. Ou, melhor dizendo, tendo nascido em Santo Domingo do amor entre um marinheiro português e uma mulher africana, foi o primeiro imigrante, o primeiro europeu, a primeira pessoa com herança africana, o primeiro mercador, o primeiro Latino e o primeiro Dominicano a habitar naquilo que hoje em dia é sobejamente conhecido como “o” melting pot cultural. De tal forma que aquilo que nos dias que correm é conhecido informalmente como Broadway, se chama na verdade Juan Rodríguez Way (ao que parece os nova iorquinos não conseguem lidar com o mais lusitano João Rodrigues).

Voltando à década de 1960, em que bairros inteiros foram demolidos, percebemos que esse é um erro compreensível tendo em conta que a cidade era na altura ainda tão jovem que não foi óbvio que uma história muito rica estivesse a ser apagada. Lembram-nos dessa história os poucos edifícios que ainda têm uma estrutura em madeira, como o The Bridge Cafe, que abriu em 1794 e precede a própria Brooklyn Bridge que lhe é vizinha.

Também o restaurante Delmonico’s é uma memória de um tempo anterior à Guerra Civil que deu origem aos Estados Unidos da América, um tempo de solene reverência pelas tradições (uma reverência que curiosamente transparece até nos filmes que lá são filmados, tais como os filmes John Wick de Keanu Reeves).

Nesses tempos, nos tempos em que ainda existia uma fronteira feita de estacas de madeira para manter os ursos e os coiotes a uma distância segura, a primeira pessoa a fazer de Manhattan a sua casa foi um senhor de proveniência exótica: um português, pois claro.

Mas até a história recente de New York já é passado. Basta passear pela zona de Tribeca, pelas vielas e pelos túneis que ligam os edifícios do início do século XX, que demonstram que a funcionalidade, o industrialismo, deixaram uma marca muito própria de trabalho árduo, mangas arregaçadas e sujas, na cidade que nos dias de hoje é mais conhecida pelos lattes de abóbora à entrada de uma qualquer sede de empresa financeira.

É certo que New York nunca dorme, nunca para. Faz parte do seu encanto ser esta cidade sempre em mudança, sempre com os olhos postos no futuro. Mas ainda assim, podemos sempre olhar para estas “rugas” com dois, três séculos, e encontrar uma Old New York igualmente bela.

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