Com um dos mais duros passados de invasões, bombardeamentos e pilhagens da Europa, não seria de esperar que o slogan turístico de Tallinn fosse “A cold place with a warm heart“.

A capital da Estónia enfrentou séculos de ocupações de diversos povos como dinamarqueses e suecos, os avanços de nazis e soviéticos e, por isso, os seus habitantes teriam todo o direito de não ser os mais hospitaleiros do mundo. Mas a passagem de povos de tantas origens diferentes talvez tenha tido o efeito inverso.

De facto, nesta cidade convivem referências tão distintas como catedrais ortodoxas russas (das quais uma das mais representativas é a Catedral de Alexander Nevsky, no centro de Tallinn) ou luteranas (a Igreja de São Olavo, por exemplo), reflexo dos conflitos religiosos dos séculos XV e XVI entre a igreja católica e as protestantes, que por ali também deixaram marcas. A cíclica destruição de Tallinn por povos alheios podia ter arrasado por completo alguns dos mais icónicos monumentos da cidade, mas por algum milagre – ou pela extrema dedicação de um povo habituado a receber outros –, ainda se conservam muitas recordações de uma História que parece saída de um filme.

Mas a história mais curiosa de Tallinn não envolve nazis nem soviéticos: a personagem principal chama-se “Old Thomas” e é… um simples catavento. Reza a lenda que, na era medieval, realizava-se em Tallinn uma competição de arco e flecha. Acontecia na primavera, e era o momento mais esperado na cidade. Contudo, apenas jovens “bem-nascidos”, ou seja, da nobreza, podiam participar. Mas houve um dia em que nenhum dos nobres conseguiu acertar no alvo, uma imagem de um papagaio num poste alto. Thomas, um jovem pobre, entusiasmado pelos amigos, irrompeu pela multidão e roubou um arco e flecha, decidido a tentar a sua sorte. Para surpresa de todos, acertou.

Por ser pobre, Thomas não podia receber o prémio da competição. Contudo, foi agraciado com o cargo de guarda da cidade, que manteve até morrer. Thomas acabou por se revelar um verdadeiro guerreiro, tendo combatido na Guerra da Livónia (conflito militar entre a Rússia Czarista e a coligação da Dinamarca, Grão-Ducado da Lituânia, Reino da Polônia e a Suécia pelo controlo da Livónia Maior, e que é hoje um território dividido entre as atuais Letónia e Estónia).

Anos mais tarde, alguém reparou que a figura de guerreiro do catavento no cimo da torre da Câmara Municipal, na rua Raekoja Plats, era parecida com Thomas, e o símbolo acabou batizado com o nome do antigo guerreiro. Assim, o miúdo que um dia ousou quebrar barreiras é hoje uma imagem muitas vezes encontrado nos souvenirs da cidade, e um dos mais antigos guardiães de Tallinn.

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