Como um conto de amor que não aconteceu, e ainda por cima acaba mal, pode ser um bom pretexto para uma escapada romântica.

Texto de Paulo Farinha
Fotografias Direitos Reservados

Verona já seria um destino romântico e simpático, ideal para escapadas a dois, sem precisar de Romeu e Julieta. A cidade é bonita, bem cuidada (ao lado de edifícios lindíssimos com três ou quatro séculos a cair de velhos há outros estimados e preservados), as pessoas são simpáticas, a comida é boa, o clima ameno e há hotéis com fartura, para todas as bolsas. E, com um passado histórico riquíssimo e centenas de monumentos do período romano, medieval e da Renascença, há muito para ver. Mas Shakespeare (que, ao que se sabe, nunca esteve na cidade do Norte de Itália) escolheu Verona para palco da história de amor adolescente e o resto é história, sonho, marketing e muito turismo – em todo o lado há wi-fi grátis e em todo o lado se ouve inglês, alemão, espanhol, francês, mandarim ou cantonês.

Também não há registo de o poeta inglês alguma vez ter passado pela Dinamarca, mas isso não o impediu de escrever Hamlet. Se é para ser uma coisa inventada, pois que seja um clássico da literatura e inspire milhões de pessoas de todo o mundo. Muitas delas já rumaram à cidade italiana para visitar os palcos da desgraçada odisseia de paixão da rapariga Capuleto e do rapaz Montecchio, que toda a gente sabe que acaba mal mas nem por isso deixa de ser inspiradora.

Sugestão de passeio fora do comum: não comece pela arena romana, pela casa de Julieta, pela Piazza delle Erbe ou pelo Corso Porta Borsari, a rua de lojas caras. Comece pelas margens do Ádige e atravesse algumas das pontes que cruzam o rio. Não só ficará com uma noção melhor da área que circunda o centro histórico, como poderá ver a outra Verona, que vive para lá da lenda e dos monumentos. Uma hora para isto basta. Se tiver a sorte de o fazer ao fim da tarde, os sinos de algumas igrejas são a banda sonora perfeita para o passeio, em jeito de chamamento para entrar nas ruas apertadas e começar então a visita.

Não há propriamente um percurso escolhido. Verona é suficientemente pequena para se prestar a deambulações sem destino. Por onde quer que se ande, percorrem‑se as ruas empedradas e as praças com edifícios de três e quatro andares, de varandas floridas e frescos nas fachadas, pintados em tons pastel comido pelo sol – até os prédios mais recentes são dessa cor. Pode contornar‑se a arena romana na PiazzaBra, seguir pela Via Anfiteatro e Via Stella até à Via Cappello, virar à esquerda e passar pela casa de Julieta, em direção à Piazza delle Erbe – vá por onde for, é aqui que tudo vem dar. E é aqui que vale a pena parar. Para depois recomeçar o passeio. Romântico ou não.

Verona, uma cidade a descobrir

Meia dúzia de locais a não perder em Verona. Monumentos, petiscos e a eterna herança de Julieta.

Arena Romana

Primeira grande lição de história em Verona, pela localização em plena Piazza Bra, impossível de passar despercebido. Com 140 metros de comprimento e 110 de largura, é um dos maiores anfiteatros romanos do mundo. Construído no século I, recebia gladiadores e leões na arena e trinta mil espetadores ávidos de sangue nas bancadas.

Parcialmente destruído num terramoto em 1117, só voltou a ver dias de «glória» no início do século XX, quando passou a receber espetáculos de ópera que tiram partido da fantástica acústica.

Também por lá passaram os Duran Duran, Sting, Jamiroquai, Pearl Jam, Leonard Cohen, Paul McCartney, Radiohead ou Peter Gabriel, mas são os tenores, sopranos e orquestras que atraem todos os anos fãs do mundo inteiro. Neste ano, entre 23 de junho e 27 de agosto, a lista de óperas inclui Nabucco, Aida, Rigoletto, Madame Butterfly ou Tosca.

Piazza Bra

Castelvecchio

O fosso com água do rio Ádige está sempre seco e a utilização já não tem nada de bélico, mas o «castelo velho» continua a ser imponente. Concluído em 1376, durante o domínio do poderoso Cangrande II, senhor de Verona e o mais emblemático membro da família Scala, que dominou a região na época, está em bom estado de conservação e é um excelente exemplo de arquitetura militar.

Na ponte Scaligero, que une o castelo à outra margem do Ádige, é frequente ver músicos de rua a atuar.

Corso Castelvecchio

Pastelaria Flego

Foi inaugurada em 1976 e é uma das mais famosas pastelarias de Verona – é falada em revistas, guias de viagem, blogues e recomendada por qualquer habitante da cidade.

Depois de entrar, não se detenha logo ao início da montra grande, cheia de bolos, à esquerda. Continue a andar, devagar, para poder apreciar tudo. Até porque vai perder algum tempo a perguntar aos empregados – ou a Marco ou Matteo, netos do fundador, Giuseppe Flego – o que é este doce com cobertura de chocolate negro e fios de caramelo ou como se chama aquele bolo com kiwi e raspas de limão.

Amaretti, nadalini, tortas-russas, baci di Giulietta e Romeo, tartes de mel, tartes de pera ou marmelada de mirtilo estão entre os doces mais vendidos.

Via Stella, 13, Corso Porta Borsari, 9

 

Casa de Julieta

Aviso: é fácil chegar ao local mais visitado de Verona e ter vontade de voltar para trás,
tal a enchente de visitantes. Se puder evitar o fim de semana, verá tudo com mais calma.

Para entrar no edifício do século XIII é preciso passar pelas milhares de pastilhas elásticas semimastigadas a dois por namorados que depois as colam nas paredes. Depois desse espetáculo, ainda precisa de desembolsar seis euros, mas para visitar o átrio onde está a famosa varanda de Julieta e a estátua de bronze da adolescente – manda a lenda que se passe a mão no seio direito para garantir sorte ao amor – não se paga nada.

Via Cappello, 23

 

Túmulo de Julieta

É no antigo mosteiro de San rancesco al Corso, agora convertido em museu de arte sacra, com frescos dos séculos XIII e XIV e pinturas dos séculos XIV a XVII oriundas de várias igrejas da cidade, que está a cripta abobadada com o túmulo de mármore onde terá sido depositado o corpo de Julieta.

Um pouco afastado do centro, numa zona residencial, vale pelo passeio até aqui. É mais calmo e menos concorrido que a casa de Julieta, mas atrai igualmente turistas românticos. Muitos deles deixaram os nomes na pedra – terá sido o caso de Sophia de Mello Breyner Andresen, que em 1963 esteve aqui e terá gravado SF, as iniciais de Sophia e Francisco [Sousa Tavares] num degrau de pedra.

Via del Pontiere, 35

 

Piazza delle Erbe

Todas as ruas desembocam aqui, na praça que deve o nome ao mercado de vegetais que se realizava desde a Idade Média e que começou por ser fórum romano. Todos os dias, bancas com lenços de seda italiana partilham o espaço com outras que vendem laranjas ou recordações.

Há esplanadas para esticar as pernas, pagar dois euros por um café e apreciar a arquitetura: edifícios de seis andares, Palácio Maffei, Torre dei Lamberti e Arco della Costa, onde uma costela de baleia está pendurada à espera de cair sobre o primeiro homem justo que passar em baixo. Todos os dias, às seis da tarde, há animação de rua.

 

Como ir

Não há voos diretos de Portugal para Verona. A opção é voar até Milão (2h30 de viagem) e seguir em comboio (1h15 de viagem). A TAP (flytap.pt) tem voos a partir de 139 euros. O comboio fica por 15 euros.


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