Chamava-se Offero e carregou aos ombros todos os pecados do mundo – até ser recompensado com um pote de ouro, que usou para fundar a cidade de Riga.

Reza a lenda que, no início dos tempos, vivia numa gruta das margens do Rio Duína um gigante chamado Offero, que se dedicava a ajudar peregrinos e habitantes das terras que hoje conhecemos como a cidade Riga, a atravessar o rio. As águas escuras do Duína impunham respeito, e só o gigante era capaz de lhe fazer frente.

Conta a população de Riga que, um dia, uma criança pediu ajuda a Offero para atravessar o rio. O pequeno não tinha como pagar, mas Offero apiedou-se dele e aceitou fazer a travessia. Colocou-o aos ombros e enfrentou mais uma vez a fúria do Duína. Mas à medida que avançavam pelo rio, o menino tornava-se cada vez mais pesado, e o gigante, apesar do seu imenso tamanho e força, lutou para alcançar o outro lado.

Quando finalmente chegou à outra margem do Duína, o menino disse tratar-se de Cristo e que o gigante tinha acabado de carregar todos os pecados do mundo. Batizou-o então de “Christopher” e seguiu caminho. De regresso à sua gruta, o gigante encontrou um imenso pote de ouro – com o qual se acredita que fundou a cidade de Riga.

Hoje, Lielais Kristaps (“Big Christopher” em letão) saúda os visitantes de Riga no porto da cidade, em forma de estátua de madeira, protegida por uma redoma de vidro. Não se trata, no entanto, da estátua original, mas sim de uma réplica. A original, de 1590, encontra-se no Museu de Riga. Ainda assim, turistas e habitantes de Riga deixam flores aos pés da estátua de Lielais do porto da cidade, pedindo a proteção de quem, creem, trouxe sorte à capital portuária com o seu bom coração.

Do outro lado da prosperidade inspirada por Offero, está o gato preto do topo da Grande Guilda de Riga (antiga associação de comerciantes), que representa exatamente o oposto. Só numa cidade de contrastes, onde passaram tantos povos como os fínicos e os bálticos, nos primeiros tempos, como os soviéticos, mais recentemente, podem conviver dois símbolos tão distintos e inesperados como Big Christopher e um gato preto. Outra lenda da cidade conta que, na época medieval, entrar no restrito grupo da Grande Guilda de Riga era um verdadeiro privilégio. Por outro lado, ser rejeitado era o maior dos insultos. Um dia, um comerciante que viu a sua inscrição revogada ficou tão frustrado que mandou construir um gato preto no cimo da Guida, para amaldiçoar os seus membros. Apesar da contestação, o gato mantém-se até aos dias de hoje, tornando-se famosa entre os turistas como “A Casa do Gato”.

Só numa cidade de contrastes, onde passaram tantos povos como os fínicos e os bálticos, ou os soviéticos, podem conviver dois símbolos tão distintos e inesperados como Big Christopher e um gato preto

Riga é a capital e a maior cidade da Letónia, tendo sido disputada por vários povos pela sua privilegiada localização, na costa do mar Báltico e do nordeste da europa – ideal para a atividade mercantil. Até hoje, Riga celebra não só a sua liberdade como a do próprio país, conquistada a 1918, após a Guerra da Independência da Letónia. Foi o Tratado de Riga, assinado a 11 de agosto de 1920, entre a Letónia e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que permitiu à Letónia tornar-se um estado soberano e livrar-se do domínio dos bolcheviques da URSS. Um impressionante memorial localizado em Riga honra agora os soldados mortos na Guerra da Independência: o Monumento da Liberdade é um obelisco de 73 metros de altura, um dos maiores da Europa, avista-se de qualquer parte da cidade.

Com uma História de incontáveis invasões e ocupações, Riga conserva ainda diferentes referências ao nível da arquitetura, mas talvez devido ao rompimento com a influência russa, a cidade voltou-se para as influências francesas a meados do século XX. No centro histórico, encontramos belíssimos edifícios inspirados em Art Noveau, como a “The Corner House” (antigos quartéis do KGB) onde sobressaem formas e estruturas naturais, baseadas em flores e plantas. Assim, as estações de metro em Riga fazem lembrar as de Paris, por exemplo, e as fachadas dos edifícios do centro transportam-nos para a magia da Belle Époque. Passear pelas ruas de Riga é descobrir uma cidade fascinada pela liberdade, onde resquícios da presença soviética contrastam com a arquitetura luminosa da Art Noveau. Uma experiência inesquecível, entre a História da libertação de um povo e da arte que lhe deu uma nova vida.

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