O Dubai é uma terra de extremos. A paisagem é maioritariamente fabricada e a proporção de expatriados/locais é de nove para um. E ainda assim há personalidade e magia suficientes nesta cidade para que uma visita seja memorável.

Ao Dubai não basta ter arranha-céus que desafiam as leis da física (e os skylines ocidentais), ou montanhas nevadas dentro de centros comerciais de proporções gigantescas. Este emirado árabe, talvez o mais famoso dos sete que compõem os Emirados Árabes Unidos, que namora a costa sul do Golfo Pérsico e que habita no imaginário da maioria de nós como um espaço dedicado ao exagero, ao luxo, à fortuna desmesurada, também tem qualidades intangíveis, daquelas que nenhuma moeda pode pagar.

É lógico que ir ao Dubai e não passar pelo Burj Khalifa seria criminoso, mas vamos colocar o novo Dubai de parte por uns momentos, e tenta vislumbrar o antigo. Para isso, é preciso ir às raízes desta cidade, começando pelo centro histórico, o Bur Dubai, onde podemos imaginar o antigo comércio de pérolas de há cinco séculos, a par com o mercado de peixe fresco de Deira. Vale a pena estar por perto quando este mercado abre as suas portas, tão cedo que até as próprias gaivotas parecem estar à espera do toque de alvorada que o sol tão bem sabe trazer a estas paragens.

Embora pareça caótico – como todos os mercados parecem à superfície – o mercado de Deira obedece a uma lógica e é provavelmente o melhor local para adquirir peixe e marisco da maior qualidade e com um cunho de sustentabilidade elevado. Não é de estranhar que a maioria dos chefs dos hotéis (de cinco estrelas ou mais) sejam vistos por estas bandas, a regatear os preços de iguarias como os camarões Omani ou o caviar árabe que começa a ganhar popularidade.

Passar por um mercado – ou “souk”, como é apelidado no Dubai – é essencial para se compreender, ainda que em parte, a alma da Arábia, muito dependente das trocas comerciais que, na verdade, promoveram uma cultura rica, não apenas no sentido monetário, mas também académico, artístico e mesmo emocional.

A alma da Arábia está muito dependente das trocas comerciais que, na verdade, promoveram uma cultura rica, não só a nível monetário, mas também académico, artístico e emocional

Sim, estamos naquela que pode muito bem ser a foto de postal de metrópole do futuro, com comboios que dispensam condutor ou onde existem palmeiras artificiais que servem para carregar o telemóvel através da energia solar. Mas também estamos a dois passos do deserto, vasto, sereno, contemplativo. Estamos embrenhados numa cultura onde os rituais ainda têm um significado, onde o gelado e os chocolates são feitos com leite de camelo, e onde as pessoas valorizam… as outras pessoas.

Pode até ser o petróleo que chama tantos expatriados ao Dubai. Mas não é o que os faz ficar. Num país que se pode dar a todos os luxos, o luxo pelo qual mais se trabalha – merecendo mesmo um programa estatal e um ministro – é a felicidade. E isso nota-se.

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