Conheci a realidade das viagens em grupo há poucos anos. Antes, sabia vagamente que se podia viajar assim, mas não lhe associava nenhuma imagem ou ideia, faltava-me essa experiência. Há alguns anos, quando fui convidado por uma agência para acompanhar uma viagem de grupo ao destino de um dos livros que escrevi, descobri um mundo.

Quando era estudante, eu não considerava essa profissão como uma possibilidade. Se tivesse conhecido essa realidade profissional, talvez me tivesse sentido tentado a segui-la. Nesse trabalho, faz-se a gestão de aspetos que influenciam bastante a experiência de viagem dos outros. Em certa medida, esse trabalho consiste em proporcionar uma experiência aos outros: positiva e marcante.

Aqueles a quem normalmente se chama «guias turísticos» não gostam de ser chamados assim, dizem que «guias turísticos» são os livros que sugerem hotéis, restaurantes, que dão informação enciclopédica acerca de monumentos. Realmente, a sua atividade é muito mais vasta e envolve, entre várias disciplinas, muito bom senso e psicologia, de modo a manter o bom ambiente no grupo.

Aqueles a quem normalmente se chama «guias turísticos» não gostam de ser chamados assim, dizem que «guias turísticos» são os livros que sugerem hotéis, restaurantes, que dão informação enciclopédica acerca de monumentos.

Não é fácil escolher companheiros de viagem. Muitas amizades se romperam nessas circunstâncias. Mais difícil ainda é viajar com desconhecidos, sobretudo em viagens longas. Na minha curta experiência, tenho-me apercebido de que, em qualquer grupo de turistas que ultrapasse a dúzia, há sempre pelo menos um dos seguintes tipos:

a) O atrasado. É sempre o último a chegar e o último a sair. As razões que o levam a esse comportamento podem ser de natureza diversa: egocentrismo e/ou falta de consideração pelos outros, necessidade de atenção, simples falta de organização. Este é um dos mais disruptivos porque cria dissidências no grupo. Ao esperá-lo pela décima vez, é fácil que os outros se cansem.

b) O perdido. É o que se esquece que está a viajar em grupo e, em praças ou mercados, continua a andar em frente, distraído com alguma coisa, sem olhar para trás. Às vezes, depois do primeiro susto, regenera-se. Outras vezes, se gosta de ser procurado, perde-se de propósito.

c) O sabichão. É o que viu dois vídeos na internet e, por isso, tem a certeza de que sabe mais do que o guia (que já fez aquela viagem n vezes). Não quer ser contradito. Se é a própria realidade que o contradiz, minimiza a realidade. Pode ter um caderninho ou não. Pode ter uma pasta com fotocópias da Wikipédia ou não.

d) O organizador. É o que diz ao guia como deve fazer. Quer estar sempre a par dos detalhes do check-in, das escolhas de caminho, de todos os horários, da distribuição de quartos de hotel. Para o guia, que tem de gerir toda a organização do grupo, este é o mais chato.

Há muito mais personagens, claro. Nem todas são tão perturbadoras como estas. Também há as conciliadoras, felizmente. Sem elas, viajar em grupo seria um inferno. No entanto, escolhi estes exemplos porque, se faz viagens deste género, o guia nunca irá dizer-lhe que pertence a uma destas categorias. E achei que talvez queira fazer alguma coisa acerca disso.

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