Se olhar para um globo terrestre e tentar apontar os locais de onde trouxe boas histórias para contar, consegue ter memória para tudo? Os dedos conseguem ser suficientemente ágeis para tocar os locais da geografia dos afetos? Onde se sentiu mais completo? Recorrendo a um cliché lamechas, mas nem por isso menos certeiro: consegue enumerar os locais onde foi feliz?
Na nossa escala de alegrias em viagem, confundimos o nível de felicidade alcançado com a quantidade do que fizemos. Neste mundo tão conectado, em que viajar se tornou fácil e, diga‑se, mais barato, colecionamos locais, carimbos no passaporte, ímanes no frigorífico, fotografias no computador… Fazemos contabilidade de milhas, de pins em mapas. Tudo isto sem nos lembrarmos de que em vez de conhecer tudo o que o guia nos diz é bem mais importante aquele café onde resolvemos prolongar a estada só porque havia tanta gente interessante a conversar ao lado, anulando aquela visita ao museu onde tínhamos mesmo de ir. Quem disse?
Quem disse que não podemos voltar dez vezes ao mesmo lugar onde nos sentimos bem, onde queremos voltar por causa daquele restaurante de massas numa ruela estreita, antes de ir conhecer os paraísos que toda a gente diz estarem na moda? Não deixemos que essas modas e memórias frágeis se substituam à experiência plena daquela refeição, ao apreciar daquele extraordinário percurso de carro, ao sabor daquela cerveja num fim de tarde.
Catarina Carvalho, diretora
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