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Crónica de viagem
Ricardo Santos em Manchester

Maria não tinha um nome tipicamente inglês, mas era-o. Não se vestia com pouca roupa quando saía à noite, como o faziam – e continuam a fazer – muitas das suas compatriotas nas ruas, bares e clubes de Manchester. Dançava num bar quase vazio com o irmão ao balcão a virar pints a ritmo considerável. Connected, dos Stereo MC’s, era a banda sonora quando se iniciou o ritual de aproximação. A letra ajudava. O ritmo ainda mais. Ao fim
da noite, rascunhou no bloco de apontamentos um número de telefone, o seu. Call me. E saiu três músicas depois.

Justin Timberlake não assistiu a nada disto, refém que estava no bar do hotel no centro da cidade. À volta do prédio ainda eram algumas as fãs que esperavam por um autógrafo ou uma fotografia ao lado do cantor norte-americano. Tinha-o encontrado poucas horas antes, quando partilhávamos um elevador e questionava o meu colega fotógrafo sobre qual de nós teria guardado o recibo do táxi para mais tarde apresentar nas despesas. Não chegávamos a um consenso sobre o paradeiro do papelito.

Justin Timberlake

Ele, o artista, estava surpreendido com as máquinas fotográficas. Tomou-nos por caçadores de imagens de celebridades. Depressa o descansámos quanto a isso. Cabisbaixo, quase que a esconder-se, Timberlake subia para o quarto na companhia de um segurança e de uma loira. Provavelmente sua assistente. Ou não.

Na noite seguinte ao encontro imediato no ascensor, bebi um copo ou dois no bar do hotel para contemplar o ambiente criado pela entourage do ídolo pop. Divertido quanto baste, com Justin sempre rodeado de gente bonita. Sair à noite em Manchester, para a estrela da música, seria impossível. A menos que reservasse um bar só para ele e para os amigos. Para mim, foi fácil. Bastou transpor a porta do hotel e procurar uma alternativa agradável, um bar cujo nome já desapareceu da memória. E ainda bem. Era numa cave. Com uma pista de dança onde Maria tinha dançado há 24 horas, antes do convidativo Call me.

Nunca consegui fazer a chamada. Maldito roaming. Malditos indicativos internacionais. Marquei um zero a mais antes do número rascunhado no bloco de apontamentos.

Ricardo Santos, editor
[email protected]

Crónica publicada originalmente na edição 208 da revista Volta ao Mundo.

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