Nelson Mandela faria 100 anos esta quarta-feira, 18 de julho. Para assinalar a data, a revista Volta ao Mundo reuniu uma dezena de imagens do arquivo do DN da visita do líder histórico sul-africano a Lisboa, em 1993. E recuperámos uma das nossas viagens a Joanesburgo.

Joanesburgo é uma cidade estranha. Mas não o serão todas que não a nossa? Uma só visita não chega para entender como funciona ou o que por lá se passa. Não é um caso de amor à primeira vista como Florença nem de descoberta constante como Tóquio. É monumental à sua maneira, sem os edifícios históricos de Paris, mas com a herança mineira que se avista de qualquer ponto. É histórica, mas recente. Sem palácios nem pontes como Budapeste, mas com um passado de luta e de superação.

Tem o Soweto e o arranha-céus mais alto de África, tem problemas e soluções, tem bairros degradados e perigosos e quarteirões de luxo onde só se entra depois de uma revista cuidada. Tem hotéis e restaurantes de topo, tem a única rua do mundo onde viveram dois prémios Nobel da Paz, tem muito frio no inverno e muito calor no verão. Quem lá mora diz que Joanesburgo é a maior cidade do mundo sem água por perto. É estranha, sim. Mas é um mundo de emoções.

Jo’burg é também Mandela, Madiba. Toda a África do Sul parece sê-lo, seja ela o país dos brancos, dos pretos, dos mestiços ou dos indianos. A figura do pai da nova nação está sempre presente, nem que seja pelo exemplo de reconciliação. Por isso, chegar ao Soweto é uma experiência difícil de explicar. Durante a década de 1980, a localidade com 99 por cento de população negra, a vinte quilómetros do centro de Jo’burg, era presença diária nos noticiários de todo o mundo.

As casas térreas do estendem-se por quilómetros. É impossível contá-las, mas já é possível saber a quem pertencem. Até 1994 (27 de abril) e à chegada de Nelson Mandela ao poder, os habitantes do Soweto não tinham direito à propriedade. Foi assim desde 1910, quando a township nasceu.

É grande a África do Sul, mais de 1,2 mil milhões de quilómetros quadrados e cinquenta milhões de habitantes (Portugal tem 92 mil quilómetros quadrados e pouco mais de dez milhões de pessoas). Equivale apenas a quatro por cento do continente africano, mas aqui está cerca de metade das infraestruturas de África. É terra de 11 línguas oficiais, com o inglês na quinta posição das mais faladas.

(Texto de Ricardo Santos, editor da Volta ao Mundo)

Veja ainda o episódio da viagem da Volta ao Mundo à descoberta de Joanesburgo, com o escritor José Luís Peixoto:

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Nelson Mandela

Nascido a 18 julho de 1918, Nelson Mandela morreu a 5 de dezembro de 2013, com 95 anos. A luta contra o regime racista branco do apartheid levou-o a passar 27 anos da sua vida na cadeia. Mas, ao contrário do que seria de esperar, quando saiu não procurou a vingança dos negros sobre os brancos, mas a convivência pacífica entre todos numa Nação Arco-Íris com lugar para todos.

Mesmo na prisão sempre procurou entender o outro lado, aprendendo africâner, a língua dos carcereiros (muitos deles ficaram depois seus amigos). Primeiro presidente negro eleito da África do Sul, entre 1994 e 1999, cumpriu só um mandato e deixou o poder de livre e espontânea vontade. Criou em 1999 a Fundação Nelson Mandela para ajudar no combate à pobreza e à doença do VIH/sida. E também para perpetuar o seu legado. Mas se muitos o elogiam depois de morto, porque é relativamente fácil, difícil é seguir o exemplo de paz, perdão, união e diálogo que deu em vida. (Por Patrícia Viegas/DN)

Fotografias © D.R./Arquivo do Diário de Notícias

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