Tesouros da Moldova vistos pelo embaixador em Portugal Dumitru Socolan.

Texto de Leonídio Paulo Ferreira

O consumo do vinho faz parte da nossa cultura. Cada casa no campo tem de ter uma adega. Na aldeia, sempre há uma pequena vinha próxima. Produzimos vinho branco e tinto, também rosé», diz em bom português, aprendido cá, Dumitru Socolan, embaixador da República da Moldova. E acrescenta que «beber vinho é habitual numa refeição, sobretudo ao jantar». Por isso o orgulho do país em algumas adegas de prestígio, como a Cricova e Milestii Mici, situadas nas galerias de umas minas de pedra.

«A adega Cricova começou a ser usada como tal em 1952. Era uma mina. Tirava-se de lá pedra branca para construir Chisinau, a nossa capital. Tem uma profundidade de até 80 metros e um comprimento total de mais de 120 quilómetros. A adega ocupa 53 hectares de galerias onde se realizam os processos tecnológicos de produção, bem como outras dezenas de quilómetros onde o vinho é amadurecido», explica o diplomata, nascido em Corotna em 1968, casado e com dois filhos. «Na superfície, o aspeto do complexo é parecido às fortalezas feudais da Moldova», sublinha.

Dimitru Socolan está em Portugal desde 2016 e fala já bom português. [Imagem: Pedro Rocha/D.R]
Moldova ou Moldávia, o que usar? «Moldova para o país, moldavos para o povo», diz o embaixador. No passado, foi um dos três principados formados no território da antiga Dácia, juntamente com a Valáquia e a Transilvânia, mas depois de um período de vassalagem ao Império Otomano, passou para a esfera de influência da Rússia. Só entre as guerras mundiais esteve integrada na Grande Roménia, voltando em 1940 ao controlo de Moscovo, desta feita na União Soviética. A independência chegou em 1991 e a integração na ONU no ano seguinte.

Dumitru Socolan admite que é complexa a história e que o país se fez de misturas sucessivas de povos, sempre com grande afinidade com a atual Roménia. «Somos herdeiros tanto da Dácia como do Império Romano, que a conquistou por ordem de Trajano no século II. Mas há muita mistura de outros povos, dos hunos, dos godos, dos eslavos, dos tártaros, dos turcos, que deixaram marcas na língua, apesar de ser latina», sublinha este licenciado em Direito. Quanto ao nome da língua, não há polémica, assegura o embaixador em Portugal desde 2016: «A língua oficialmente é chamada romena. Foi assim decidido pelo nosso Tribunal Constitucional».

A adega Cricova foi mina até 1952. Tem uma profundidade de 80 metros.

Latinos como os portugueses, os moldavos já produziam vinho muito antes da chegada dos romanos, daí que o embaixador não atribua a Trajano méritos pela Cricova e as outras adegas. Mas mais do que a afinidade linguística, foi a oportunidade de emprego nas grandes obras públicas de finais de 1990 / inícios de 2000 que atraiu os imigrantes moldavos. Também a política de reagrupamento familiar, que Dumitru Socolan elogia, teve o seu papel para que hoje vivam 30 mil moldavos em Portugal. «Os nossos estudantes são os terceiros com melhor nota escolar entre as comunidades estrangeiras», sublinha o embaixador, orgulhoso da integração desta comunidade cristã ortodoxa.

Imagem de destaque: A adega Cricova foi mina até 1952. Tem uma profundidade de 80 metros. © rinjadmitrii.com

Afinal, há uma língua que tem a palavra para traduzir «saudade»


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