Junte-se o património cultural do centro histórico da vila ao património natural fora dela e temos uma receita perfeita. De bicicleta, percorra as ecovias e os trilhos, passando por piscinas naturais, florestas e aldeias. No final do percurso, com ar puro nos pulmões, faça um desvio e visite o Museu do Brinquedo Português.

Texto de Petra Alves
Fotografia de Rui Fonseca

Ponte de Lima é das mais antigas vilas portuguesas, o que lhe tem servido como principal cartão-de-visita. A ponte romana e medieval embeleza o tradicional postal limiano, assim como a gastronomia, a arquitetura, a simpatia das gentes. Há, no entanto, outro facto que merece relevância: o seu contexto natural e a possibilidade de o explorar a cavalo, a pé e de bicicleta. A noção de que o contacto com a natureza e a ligação à terra faz bem e é um fator humanizante está a ganhar terreno, pelo que as atividades na natureza conquistam cada vez mais adeptos de várias idades.

Duarte Coelho tem 22 anos e a certeza de que apostou na vila certa. No centro histórico, decidiu abrir uma loja de bicicletas – InMountain – para dar a conhecer o município sobre rodas. Oferece uma série de serviços que passam pelo aluguer de bicicletas, por visitas guiadas de bicicleta ou pelo desporto de aventura, como BTT ou downhill. Em dois anos de existência o negócio cresceu e, com ele, também a necessidade de aumentar a frota de duas rodas tão requisitada por visitantes do centro e norte da Europa.

A Ecovia das Lagoas tem nove quilómetros. Leva a classificação de fácil, dado o fraco desnível. Ideal para a família.

Ponte de Lima é rodeada por montanhas, atravessada pelo Lima e visitada por outros cursos de água menores. Tem muito a oferecer aos apaixonados por BTT, downhill, cross country, enduro – é ver as propostas da Pé do Negro Mountain Bike ou da Bike Park Ponte de Lima –, mas também a quem procura atividades com menos adrenalina.

Para que a experiência do passeio seja confortável e acessível a todos, a autarquia criou vários trilhos, percursos pedestres e ecovias onde, sobretudo aos fins de semana, os limianos passeiam. Têm vários graus de dificuldade, até porque a ideia é que todos possam tirar partido sem que seja exigida grande forma física. Neste ano, a autarquia lançou a app Percursos Pedestres – Ponte de Lima para divulgar, entre outros percursos, as quatro ecovias, informando sobre a duração, a dificuldade e os pontos de interesse de cada uma delas. Dão pelo nome de Lagoas, Açudes, Laranjas e Veigas, a mais longa tem cerca de onze quilómetros e todas partem do centro de Ponte de Lima.

Tenha acesso a toda a informação sobre as atividades ao ar livre em Ponte de Lima com a app Percursos Pedestres.

O importante é ir e atalhar por aldeias e campos, estar lado a lado com cursos de água cristalina, refrescar o corpo em piscinas naturais, admirar as serras que abraçam o vale do Lima… O importante é pôr os pés ao caminho e conhecer Ponte de Lima por dentro, que é, afinal, onde está a virtude.

Ecovia das Lagoas e outros caminhos a percorrer

A ecovia das Lagoas é também conhecida como Loureiro. Atravessando a ponte que une as duas margens há 2000 anos, inicia-se a aventura sobre duas rodas: é só seguir as indicações. O caminho não tem desníveis acentuados, passa pelo Clube Náutico e pelas instalações do Festival Internacional de Jardins, abertas ao público de maio a outubro, e segue tranquilo, entre as águas do Lima e os pequenos lotes de cultivo: quem encostar a bicicleta e semear conversa com quem cuida da terra terá uma aula de «introdução à agricultura local».

À frente, rapidamente se percebe porque este caminho dá também pelo nome de Loureiro. As vinhas desta casta autóctone animam a paisagem, que contempla ainda um pequeno cais e uma mata que se estende, à frente, na margem do rio. É o lugar ideal para parar, respirar e contemplar antes de se retomar a rota que apresenta, do outro lado da estrada, um dos monumentos mais emblemáticos do norte do país. Trata-se do Solar de Bertiandos (do século XV com acrescentos nos seguintes), exemplar do rural barroco nortenho, classificado como imóvel de interesse público desde 1977.

O ponto alto da ecovia das Lagoas é a Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos e São Pedro de Arcos. Na verdade, esta ecovia continua até ao ribeiro da Silveira e, a partir daí, entra em terras de Viana do Castelo. Entre a possibilidade de continuar e a de ficar para descobrir a Paisagem Protegida venceu a curiosidade em percorrer uma ínfima parte dos seus 346 hectares. Com o rio Lima a sul e as serras de Arga e Cabração a norte, esta zona convida a passeios junto ao rio Estorãos, mas também pelos bosquetes de folhosas e pelas veigas, terrenos húmidos e férteis que se enchem de milho por altura da primavera e do verão.

Como quem não sabe é como quem não vê, a visita deve começar no Centro de Interpretação Ambiental, onde se encontra informação sobre a fauna e flora da Paisagem Protegida e também sobre a rede de cinco percursos e as três rotas histórico- culturais. Há que encostar a bicicleta e percorrer, a pé, os passadiços de madeira, parar nos postos de observação ou mesmo aventurar-se pelo percurso mais longo – o da Água (V) –, de seis horas. Caso não haja tempo, ou pernas!, para percorrer os cerca de 12,5 quilómetros, é ir direto para a Azenha de rio Estorãos e mergulhar nas águas limpas e frescas deste afluente do Lima.


Almoçar num antigo celeiro

Junto ao Solar de Bertiandos há um restaurante regional com duas zonas, sendo a mais castiça a que ocupa um antigo celeiro, espaço amplo, de tetos altos em madeira. É um espaço familiar, gerido por Herlânder Jorge. Aos 10 anos, em Lisboa, começou a trabalhar na restauração como mandarete, função que desempenhou com distinção também no restaurante Gambrinus, até abrir o seu próprio espaço na capital. A vida seguiu o seu curso e encaminhou Herlânder para Ponte de Lima, terra natal de Maria da Conceição, com quem se casou, e que hoje comanda a cozinha d’O Celeiro. Ao domingo, há sarrabulho e cabrito estufado com batata assada; durante a semana, os pratos do dia vão variando consoante o mercado. Importante: no final da refeição, é obrigatório repor as calorias com um arroz-doce feito a preceito, só com gemas.


Descansar, aprender e brincar

Da Paisagem Protegida pode sempre fazer-se o caminho inverso em direção à casa de partida. Mas não se atravesse a ponte, fique-se no lado B da vila de Ponte de Lima. Pode-se dizer que a vila tem dois lados como um disco de vinil. No lado A, desenvolveram-se os serviços, é maior a oferta de restaurantes e alojamentos turísticos e acontecem as principais festas da vila. No B, a uma breve caminhada do rebuliço, descobre-se a vista para o lado A e uns quantos recantos que valem a pena.

Em Arcozelo, estende-se o Largo da Alegria onde estão, entre outros, dois edifícios antigos, entretanto recuperados pelo arquiteto Carvalho de Araújo, que harmonizou betão armado e madeira, traça antiga e referências atuais. Ambos os edifícios fazem parte do Arc my Otel, que, apesar de ter a designação de alojamento local, oferece os serviços e as comodidades de hotel. É gerido pelo casal Paula e Paulo Marinho, que arriscaram deixar os antigos empregos para se dedicarem a este novo projeto de vida. Com 15 quartos distribuídos pelos dois edifícios, o Arc my Otel tem uma extensa lista de hóspedes que, como António Sala e Maria João, escolhem o lado B para uma noite descansada.


Uma casa rural

Junto ao rio Estorãos, uma antiga azenha do século XVIII deu lugar a duas casas de turismo rural. A Azenha do Rei abriu em 2000, depois de recuperada ao estilo rústico por Aurelina Ferreira e o marido, entusiasta de antiguidades. A azenha estava completamente em ruínas e de um edifício fizeram duas casas independentes, aproveitando o que se podia aproveitar do que lá estava, como a roda movida pelo rio e a pedra de moer. Afastada do movimento da vila, aqui só se ouve o rio correr e outros sons da natureza. Ao lado, fica a ecovia do Estorãos, sendo então este sítio ideal para quem percorre a zona de bicicleta.

O Celeiro
Lugar da Aldeia, Bertiandos, Ponte de Lima
Tel. 258938098
Das 09h30 às 24h00 e das 18h00 às 23h00. Encerra à terça.
Preço médio: 5 euros (prato do dia)


A partir do mesmo largo – o da Alegria –, com vista para o rio e para a ecovia, acede-se a um dos lugares de visita obrigatória de Ponte de Lima: o Museu do Brinquedo Português. De que forma factos históricos e culturais ocorridos em Portugal e no mundo influenciaram o brinquedo nacional? A resposta está na exposição permanente deste museu que nos «narra» a história do brinquedo nacional desde o final do século XIX até 1986, associando cada período às transformações sociopolíticas do mundo, cujo impacto foi sentido em solo luso.

Da história de alguns dos mais importantes fabricantes portugueses de brinquedos aos objetos propriamente ditos – rocas e flautas de folha de flandres, bonecas em pasta de papel, canhões de folha, camionetas, barcos, comboios, triciclos, carros de pedais –, tudo se encontra neste lugar, que, a brincar a brincar, oferece uma verdadeira aula de História.


Inmountain
Largo de São João, 87-89, Ponte de Lima
Tel. 258010354/ 965693021
Web: dugamcoelho.wixsite.com/inmountainbikeshop
Das 10h00 às 12h30 e das 14h30 às 19h30. Encerra ao domingo.

Pé do Negro Mountain Bike
Ponte de Lima
Tel. 926892670
Web: facebook.com/pedonegromountainbike

Bike Park Ponte de Lima
Estorãos e Cabração
Tel. 916231611
Web: bikeparkpontedelima.com

Museu do Brinquedo Português
Casa do Arnado, Largo da Alegria, Arcozelo, Ponte de Lima
Tel. 258240210
Das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00. Encerra à segunda.
Preço: a partir de 1,5 euros

Arc My Otel
Largo da Alegria, 9, Arcozelo, Ponte de Lima
Tel. 966506744/258900150
Web: arc-otel.pt
Preço: quarto duplo a partir de 58 euros (com pequeno-almoço).


Fim de semana em Portugal apoiado por revista Evasões


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