Noutros tempos conhecida por Zama, a cidade da aurora, Tulum tornou‑se um paraíso turístico descontraído e sem os outros resorts pelos quais o México se tornou conhecido. Tem a onda de Formentera e a espiritualidade perdida de Bali.

Texto e fotografia de Sofia Natal

Reportagem publicada na revista Volta ao Mundo (nr. 278) de dezembro de 2017

O meu objetivo era claro, mas complexo – aterrar numa praia o mais parecida possível com o paraíso, mas não a laia de Robinson Crusoe, longe o suficiente de Londres (onde moro), mas onde o sol fosse uma garantia nesta altura do ano. Era relevante que pudesse circular com segurança, andar de sandália no pé e sem grandes formalismos (reminiscencias das Baleares); sem resorts a vista, sem turistas em massa, com autenticidade mas também com uma sofisticação que trouxesse algum conforto e oferecesse conceitos gastronómicos locais.

O que é o luxo? Para mim e cada vez mais esta possibilidade de ter autenticidade com conforto, sem que o ultimo ofusque o primeiro. Tulum, então parecia me a melhor opção. Preparo as malas de viagem (duas, porque nunca se sabe se queremos mesmo regressar), enfio a biografia da performer Marina Abramovic – Walk Through Walls – com 200 paginas (sim, quem não viu o famoso vídeo de 2010 no YouTube? Queremos saber quem e o Ulay…)… Tudo a postos para desligar durante 12 dias.

O voo é direto para Cancun e a fiesta começa a bordo. Aterro pela tarde com seis horas de diferença, o carro esta alugado – maravilhas da internet – e sigo viagem para Tulum, apenas hora e meia em autoestrada, quase sempre a direito, pela Riviera Maia. Ficar em Tulum implica escolher entre praia ou vila. A vila parece oferecer mais paz de espírito para os primeiros dias, e e la que passo os dois primeiros dias, para explorar terreno a partir de porto seguro. O Tiki Tiki Tulum e um dos hotéis-boutique mais charmosos e com uma melhor relação qualidade preço que posso recomendar por aqui. Inspirado nas cores de Luis Barragan (1902 1988; arquiteto mexicano, único galardoado do pais com o Premio Pritzker, em 1980), o hotel e um festim para a fotografia. E vale a pena esperar pelo pequeno-almoço à la carte, simples, mas delicioso.

O hotel fica já no final do pueblo, longe da movida noturna de alguns bares de Tulum. A vida na vila e pacata, mas em alguns bares a festa termina tarde. A meio da viagem regressarei a vila para os novos quartos do Ki’bok, o café mais badalado da cidade – graças ao café espresso de topo e aos deliciosos pequenos-almoços. Apesar da qualidade do segundo poiso, ouvem se os tambores da musica ao vivo do bar ao lado que celebram o seu ultimo folgo pelas cinco da manha. De certa forma, e sempre la pelas três da manha, arrependo me de não me ter juntado a fiesta. Fica para a próxima.

Cercada pela selva, a vida na vila e de facto pacata e económica. Continua a transpirar autenticidade – o que já e raro pelo México turístico – mas tem já as estruturas para uma estada tranquila – farmácias, supermercados, bancos, caixas multibanco e um hospital aberto 24 horas. E também na vila que se encontram as lojas de comercio mais tradicional. O meu programa no pueblo passa pelo ótimo café ou pequeno-almoço no Ki’bok, pelos tacos e smoothies nas mesas altas do restaurante cool Burrito Amor ou pelo peixe de confiança no El Camelo Jr., a tasca – reencontrando um conceito mais selvagem do que e o ceviche, amplamente divulgado Europa fora. Na tasca ou fora dela, sempre guacamole y totopos para empezar.

A maior parte das praias são exclusivas dos hotéis, mas mantêm o tom natural. Na reserva Sian Ka’an nem sequer se pode parar o carro.

A cena gastronómica em Tulum e naturalmente vegetariana – no sentido em que se come pouca carne por aqui. Verdadeiramente deliciosa e impossível de ser aborrecida. O meu primeiro almoço e no restaurante La Popular, no badalado hotel Nomade. Escolho uma das mesas de madeira quase rasas, sento me num tapete que cobre o areal, organizo as almofadas a sombra de uma palmeira e aguardo o pedido com a vista no turquesa do mar e os pés enterrados na areia. Também no Nomade está o Macondo, restaurante vegetariano (vegan e sem glúten) – e mais uma vez janto no chão, entre almofadas e charme da decoração indiana.

Apesar do exotismo do Nomade, é no hotel Be Tulum que encontro a cantina oficial do almoço das três da tarde – o Maresias, onde falar castelhano parece ser um motivo para uma continua receção calorosa. Boa escolha para relaxar a sombra e para a contemplação (e fotografia) dos detalhes maravilhosos deste hotel. Ainda no Be Tulum, liderado pelo chef Mauricio Giovani, esta o Occumare, com uma surpreendente estrela Michelin neste especial fim do mundo.

O poiso ideal do pequeno-almoço, as nove da manha, e o encantador Raw Love, a cerca de 15 minutos a pé pela mítica estrada de e para Boca Paila, proposta diária de exercício matinal. Respira se boa energia no Ahau Hotel (outra ótima opção de alojamento), onde esta este pedaço de bom caminho, entre mesas de madeira e redes, com cerca de dez maravilhosas raw bowls – uma variedade de taças com alimentos crus que não se encontra facilmente de Londres a Lisboa.

A vida de praia e muito tranquila, sem algazarra turística. A maioria das praias em Boca Paila são pequenas, vedadas ao publico, exploradas pelos hotéis que povoam toda a costa. Projetos como o Papaya Playa oferecem serviço de beach club mediante consumo mínimo obrigatório – neste caso aliado a uma proposta de sustentabilidade que integra também a comunidade local. A escolha, no entanto, recaiu no Coco Tulum, um value for money ideal, sem qualquer pretensiosismo e a boa distancia a pé da cena gastronómica. Ficar na praia e de longe a opção mais apetecível, mas implica uma despreocupada convivência com o habitat selvagem.

A vida na vila é pacata e económica. Tem a autenticidade e a modernidade necessárias a uma estadia confortável.

Ficar na vila e a outra opção, mas implica uma viagem de 15 a 20 minutos ate a praia. Único ponto positivo: pode ser complementada com uma paragem diária na Estrella Buena, banca de gelados artesanais preparados no momento por um simpático senhor que fugiu do caos do narcotráfico na Cidade do México e aterrou há alguns anos no Yucatan em busca de uma melhor qualidade de vida.

Lojas no estilo blasé de Ibiza ou de Formentera (Wunderlust, Caravana, etc.) e cafezinhos airosos fazem boa parte de Boca Paila e convidam a andar a pé. O estacionamento e muito parco e gerido informalmente por habitantes locais em terrenos baldios, por entre a selva, a valores de cidade. No entanto, qualquer hotel que se visita tem parqueamento exclusivo e sem custos adicionais.

O mais complicado e certamente a hora de jantar – porque esperar ter mesa num dos sítios trendy de Tulum sem reserva e um elevado risco. Restaurantes como os já referidos na praia, mas também o Hartwood (embora sobrevalorizado, tem ótimos cocktails), a Casa Jaguar (para beber um copo, dar um pé de dança ou jantar), o Gitano (cool e trendy, com potencial pelo menos para um copo) ou a Casa Malca (ótimo para jantar e também um tiquetaque-hotel repleto de arte contemporânea escolhida pelo próprio dono) implicam uma reserva previa e com mais de uma semana de antecedência. Um bom palpite para jantar sem reserva e o vegetariano Restaurare, comida caseira, ou o célebre Posada Margherita, romântico italiano em cima da praia. A restauração vegetariana abunda, e a palavra orgânico aqui torna se vulgar.

Tulum é um sitio com uma energia especial que deriva também da sua historia e tradições, algumas bastante curiosas, que foram reavivadas nos anos 1970, conforme explica o jovem xamã de temazcal, espécie de sauna indígena. Esta cerimónia realiza-se por toda a região, especialmente em dias de lua cheia ou lua nova, e e fácil encontra la em vários hotéis. Basta um iglu de pedra e um forno construídos para o efeito. A cerimónia pretende restabelecer a ligação com a Mãe-Terra (Pachamama), num ritual de limpeza e purificação do corpo e espírito. Duas horas de sauna húmida, temperatura em crescendo com a colocação de pedras incandescentes, a porta fechada no iglu. Não é para meninos!

Com alguma curiosidade, garanti uma visita ao Yaan Shamanic SPA, embora as vagas para temazcal estejam esgotadas há semanas. A opção e uma limpia santiguada, massagem e ritual de purificação com copal (espécie de resina fossilizada), realizada por uma especialista mexicana. Sou literalmente sacudida com um ramo de ervas (cultivadas na jardim de ervas do SPA) e algumas rezas e salmos maias, acompanhadas por uma massagem profunda. Saio grata e leve como uma pena.

A comida vegetariana é quase natural – e de excelência. Há também muitos restaurantes gluten free.

É na vila que encontro a experiência mais interessante – escondido na selva, já fora da vila, a alguns metros do Tiki Tiki Tulum, está o Holistika – espaço dedicado a retiros, individuais ou de grupo, um trabalho que ainda se encontra em curso, mas com detalhes deliciosos. Graças à visita guiada de uma habitante local, marco uma massagem holística para o dia seguinte e que se haveria de repetir no último dia em Tulum. Marta, uma terapeuta local, trabalha com diferentes óleos e com a sabedoria ancestral das mãos. Faz milagres e fica no coração de quem a conhece. Há uma ressonância peculiar entre Tulum, «a parede», e a biografia que estou a ler, a de Marina Abramovic: ≪Estamos habituados a limpar a casa exterior, mas a casa mais importante para se limpar és tu – a tua casa –, coisa que nunca fazemos.≫

Embora a vida de pé na areia, livro na mão e decisões difíceis de jantar em locais giros e diferentes não me aborreça, encontro tempo para explorar outros sítios mágicos de Tulum. Encontro a reserva biológica de Sian Ka’nn (Origem do Céu), num passeio de hora e meia até Punta Allen, por entre a selva, que o humilde carro alugado, qual quatro por quatro, percorre em animada companhia de lagartos gigantes e paisagens de água turquesa. As famosas ruínas de Tulum encontram se a cinco minutos de carro da vila e são o destino favorito dos turistas de Cancun, mas merecem uma visita (desejavelmente nas primeiras horas da manha). Mas é nas ruínas e na lagoa de Muyil (a 15 minutos de carro da vila) que se encontra outra magia desenhada pelas árvores da vida que os maias acreditavam que serviam de ligação ao submundo.

A viagem termina com uma visita a alguns cenotes (piscinas naturais formadas por aguas subterrâneas) e a akumal, lugares de elevada energia, nas palavras da jovem guia local. As tartarugas fizeram greve, mas ainda houve tempo para snorkelling em alguns cenotes. Parto com alguma pena de não se poder visitar as ruínas em Coba, a 40 minutos de distância ou por não se ter reservado alguns dias para Mérida.

Fica para a próxima. Noutra slow travel tranquila com as cores de Barragan.


Guia de Viagem

Documentos: passaporte com validade mínima de seis meses. Não é necessário visto de turismo. À entrada no país, deverá preencher um formulário.
Moeda: peso mexicano – 1 euro equivale a 22 MXN. A maioria dos restaurantes e hotéis aceitam cartões de crédito e débito. Para o comércio tradicional é melhor ter dinheiro trocado.
Fuso horário: GMT – 5 horas
Idioma: castelhano

Quando ir
Os melhores meses são entre dezembro e abril, quando há menos chuva e humidade. Quem quiser animação noturna, dezembro e janeiro são os meses a escolher.

Dormir

HOTEL TIKI TIKI
O charme de Miami dos anos 50 encontra‑se no final da vila de Tulum, já abraçando a selva, neste boutique-hotel com 15 quartos. É uma boa escolha em termos de valores sem abdicar do conforto. É preciso carro para ir até à praia.
CALLE 6 BIS SUR S/N HOLISTIKA, TULUM CENTRO
QUARTO DUPLO DESDE 150 EUROS POR NOITE
HOTELTIKITIKITULUM.COM

BE TULUM
As 64 suites são construídas com materiais nativos e muita atenção aos detalhes. É um dos locais mais desejados em Tulum – em plena selva
caribenha, uma experiência de luxo com os pés na areia e ótima oferta gastronómica.
CAR. TULUM BOCA PAILA KM. 10 TULUM
QUARTO DUPLO DESDE 380 EUROS POR NOITE
BETULUM.COM

AHAU TULUM HOTEL
Ligado a um estilo de vida ecológico e sustentável, o hotel é despretensioso e
sossegado. Acesso fácil a pé à zona de Boca Paila.
CARR. TULUM A BOCA PAILA KM. 7.5,
QUARTO DUPLO DESDE 250 EUROS POR NOITE
AHAUTULUM.COM

Massagens

YANN ENERGY HEALING SPA
Tratamentos indígenas pré‑hispânicos, sessões de tratamento energético, banhos de ervas, tratamentos de corpo, programas de detox e outros
rituais.
CARR. TULUM, BOCA PAILA, KM 10
VALOR MÉDIO MASSAGEM (60 MIN):150 EUROS
YAANWELLNESS.COM

HOLISTIKA
Centro de retiro espiritual e de bem estar com aulas de yoga, massagens ou a cerimónia Temazcal, Gourmet Healing Sunday
AV. TULUM 83 TULUM, QUINTANA ROO
VALOR MÉDIO MASSAGEM (60 MIN): 50 EUROS
HOLISTIKATULUM.COM

Comer

HARTWOOD TULUM
Conhecido pela sua elevada preocupação na utilização de produtos locais e orgânicos, o menu do Hartwood muda diariamente de acordo com a colheita
do dia e os pratos são cozinhados a lenha. Obrigatório marcar com
antecedência.
CARR. TULUM, BOCA PAILA 7.6KM
PREÇO: 40 A 60 EUROS POR PESSOA
HARTWOODTULUM.COM

RESTAURANTE MACONDO
Uma experiência de luxo vegetariana, vegan, gluten‑free no cenário idílico do hotel Nômade.
CARRETERA TULUM‑BOCA PAILA, KM 10
PREÇO: 40 A 60 EUROS POR PESSOA
NOMADETULUM.COM/HOTEL/MACONDO

RESTAURANTE MARESIAS
Instalado no cenário idílico do hotel Be Tulum, o Maresias é uma opção perfeita para um almoço sofisticado ou despretensioso, de pé na areia.
CAR. TULUM BOCA PAILA KM. 10 TULUM
PREÇO: 25 A 40 EUROS POR PESSOA
BETULUM.COM/CUISINE

GITANO TULUM
Ótimo para beber um copo e jantar no coração da ‘movida’ de Boca Paila.
BOCA PAILA KM 7,5, TULUM
PREÇO: 40 A 60 EUROS POR PESSOA
GITANOTULUM.COM

RAW LOVE
Situado no Ahau Hotel, este é o sítio perfeito para um pequeno-almoço saudável ou para um almoço leve, de pé na areia.
C.. TULUM‑BOCA PAILA KM 7,5
PREÇO: 6 A 15 EUROS POR PESSOA
RAWLOVER.RESTAURANTWEBEXPERTS.COM

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