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Rui Pedro Tendinha, jornalista e crítico de cinema, nasceu em Luanda onde já regressou por causa de um festival da sétima arte…Blitz, TSF, SIC, Diário de Notícias, Antena 3 e o site cinetendinha marcam-lhe o percurso, num caminho cruzado com inúmeras estrelas do cinema…

Escreveu um livro, prefere não ver muitas vezes os filmes que mais gosta, e já perdeu a conta às selfies com atores e realizadores. Os filmes já o levaram a muitos cantos do mundo…mas, sempre que pode, viaja sem pensar em trabalho.

Entrevista de Cláudia Arsénio e Paulo Farinha

Que viagem realizada fora do roteiro cinéfilo dos festivais de cinema o marcou mais?
Todas as viagens me marcam, mas a Costa Rica foi inesperado. Há três anos fui de férias ao Panamá e decidi passar a fronteira. E como é que se faz isto? Atravessando uma ponte à Indiana Jones a pé para Bocas del Fuego, um paraíso na Costa Rica. E essa caminhada tem um lado de aventura porque de repente temos de passar por guerrilheiros. Gostei muito dessa passagem de fronteira.

Quando viaja em cinema consegue não ir ao cinema?
Eu adoro encontrar cinemas nos locais menos esperados. Em Riga uma vez encontrei um cinema art decoe, claro, tive de entrar na sala. É quase compulsivo. Eu estava com uma namorada, que ficou muito triste porque queria ir ver as atrações turísticas da cidade, mas eu não aguentei. Sinto-me bem num cinema, seja onde for. Outra vez, numa viagem em Aspen, estava com outras pessoas que queriam fazer mais ski, mas eu quis é entrar numa sala de cinema.

Recorda-se das salas de cinema mais bonitas onde já esteve?
Eu prefiro sempre dizer que “a minha sala de cinema” é o Palais Lumière, do Festival de Cannes. Essa é a sala mais imponente que conheço. É toda vermelha – e eu sou fã de coisas vermelhas…

… Ou não fosse benfiquista.
Ou não fosse muito benfiquista… E ali, em Cannes, sinto que é o altar, a catedral, a Notre Dame do cinema. E aquilo tem um lado majestoso incrível. Eu sei que é também o Centro de Congresso de Cannes, o que lhe tira algum glamour, mas para mim ainda é a coisa mais sagrada do cinema. As condições de projeção são ótimas, ainda é possível ver cinema em 70mm, que é uma coisa já impossível, pelo menos cá em Portugal, e a qualidade é muito, muito boa.

E o Kodak Theathe? O famoso palco dos óscares?
Fui lá uma vez. Também é imponente. Mas lá não há cinema, há cerimónias. Adorei estar lá, fiz uma visita guiada uns dias antes dos óscares e não deixa de ser especial. Bate forte, sobretudo se pensarmos no que já ali aconteceu. Pode-se dizer que é uma “armadilha turística”, mas daquelas que vale a pena.

Em trabalho, em viagens de cinema, qual foi a de que mais gostou?
O Festival de Cinema da Amazónia. A base é em Manaus, mas depois vamos para o meio da selva, onde ficamos durante duas noites, num hotel numa árvore. Aí não há cinema, mas há um lado de carnaval imposto aos convidados. E neste caso os convidados eram o Joaquim de Almeida, o Matt Dillon e personagens da vida social brasileira. E de repente acontecem coisas, como um boto, um golfinho da amazónia, a morder furiosamente no Joaquim de Almeida. E eu fui testemunha daquele sangue todo.

Há algum país onde tenha ido em trabalho e que tenha pensado “tenho de cá voltar”?
Sim. Muitas vezes. O problema de um jornalista que está em trabalho num país é ter de gerir muito bem o seu tempo livre, que é pouco. Quando estive agora na China, onde fui ao Festival de Pingyao, apeteceu-me ficar mais tempo ali. E a China tem uma imensidão tão grande que é impossível ver tudo. Eu sou um bocadinho glutão de conhecer cidades e sítios e por vezes só vou lá umas horas para marcar… Por exemplo: agora estive em Triste [Itália] e fiz setenta quilómetro para Ljubljana, que fica junto à fronteira só para poder dizer que tinha ido a um país onde nunca tinha estado, a Eslovénia. E devo dizer que fiquei encantado naquelas três horas que passei em Ljubljana.

Então, quando está nos festivais – e são muitos aqueles a que vai – consegue depois tirar algum tempo para visitar os locais?
Sim. Nos primeiros anos que fui a Cannes consegui fazer isso. Chegava um dia antes e, como não havia nada para fazer nem pessoas para entrevistar, visitava a Côte D’Azur. Fiz isso durante três anos com um jornalista do JN, o João Antunes. Fomos a St. Tropez, ao Mónaco, a Antibes… Antigamente havia tempo…

Faz muitas viagens por causa da sua profissão e dos festivais de cinema a que tem de ir. E as outras viagens? Organiza-as muito e prepara tudo com detalhe ou gosta mais de ir ao sabor da maré e do que vai encontrando?
Tento conciliar as duas coisas. Eu viajo muito fora do trabalho e como não tenho filhos, saio bastante do país sempre que se trata de férias. E quando consigo organizar uma semana, marco com alguém – gosto de viajar acompanhado – e vou. Prefiro ser viajante e não turista, embora isto seja um cliché, e depois tento marcar coisas mas também improvisar. É um misto das duas coisas.

E visita os sítios mais turísticos ou andar pela rua um pouco à descoberta?
Adoro perder-me. Quando fui a Havana, por exemplo, até me perdi e gerou uma situação um pouco perigosa porque fui para locais onde não devia ir. Gosto do lado bas fond dos sítios. Há um destino a que quero muito ir, que é Hanói, e queria perder-me em Hanói. Acho romântica a ideia de me perder no Vietname.

Costuma trazer recordações? Objetos ligados aos sítios que visita, ao cinema, ímanes para o frigorífico, um postal…
Tive uma namorada com quem comprava sempre, quando viajávamos, as coisas mais foleiras. Se fosse turista agora em Lisboa comprávamos aqueles bonequinhos do CR7. Isso deu-me algum gozo. Agora deixei de o fazer porque cada vez temos menos espaço de bagagem. Há anos que viajo e é cada vez mais difícil fazer malas. Sobretudo quando queremos trazer coisas lá de fora.

Viaja também por causa dos filmes? Visita cidades pelo que vê no cinema?
Sim. Para mim, as cidades têm sempre a ver com a magia do cinema. A primeira vez que estive em Roma, pensei sempre muito no Roman Holiday, aquele circuito que o Gregory Peck fazia com a Audrey Hepburn. Aquilo para mim é um dos mandamentos dos primeiros passos em Roma. Mas há outras cidades, como Los Angeles, que me leva para o Chinatown do Polanski. E há mais cidades: Nova Iorque é o King Kong a subir ao Empire State Building. Mas também comédias românticas com a Meg Ryan e o Tom Hanks. Para mim as cidades têm esse lado da narrativa cinéfila.

Oiça aqui a entrevista, emitida pela rádio TSF.


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