A capital do pequeno e rico país europeu é diminuta no tamanho e enorme na diversidade que oferece: cenários inesperados, belíssimas áreas verdes, Património UNESCO, arquitetura moderna, gastronomia apetitosa, compras para todos os gostos, belos museus e até jazz ao pequeno-almoço.

Texto de Teresa Frederico

Escondido entre Bélgica, França e Alemanha, o grão-ducado do Luxemburgo é um mistério. Está entre os dez Estados menos populosos do mundo e o seu nível de vida é elogiado internacionalmente. Aterramos na capital para decifrar o enigma.

O mundo todo cabe nesta cidade com pouco mais de cem mil habitantes oriundos de 160 países. Inúmeras línguas, muitas incompreensíveis, ouvem-se pelas ruas da capital do grão-ducado do Luxemburgo e a portuguesa, dado que a maior comunidade emigrante no país é de origem lusa, não demora a revelar-se: «É de Lisboa? Eu vim para cá há 13 anos. Vive-se bem aqui, mas tenho saudades do sol e da nossa alegria! Pretendo regressar em breve. Quer torradas?», pergunta Lídia, responsável pelos pequenos-almoços do Hotel Simoncini. Não, só queremos saber por onde começar uma visita de poucos dias. «É tudo bonito!» é a resposta e havemos de concordar plenamente no final desta escapadinha.

A localização do hotel, bem no centro, é ótima para partir à descoberta. Para a esquerda ficam ruas cheias de lojas sedutoras. Marcas de luxo surgem lado a lado com lojas de pronto-a-vestir internacionais bastante acessíveis. Numa esquina, um músico de rua canta sucessos do rock bem mais velhos do que ele, a poucos passos de uma loja de malas tão famosas quanto caras. Mais acima, uma conhecida cadeia de fast food está a uma dezena de metros de um dos três restaurantes com estrela Michelin da capital, La Cristallerie, no Hotel Le Place d’Armes, membro da rede Relais & Châteaux.

No quarteirão vizinho, a Place Guillaume II acolhe mercados de produtos alimentares, flores e vestuário em segunda mão à quarta-feira e ao sábado de manhã. Nas imediações, a incontornável Oberweis fabrica artesanalmente chocolates deliciosos, elegantes e dispostos de uma forma que quase parecem joias.

Na direção oposta fica a Place de la Constitution, com o seu monumento de homenagem aos soldados luxemburgueses mortos na Primeira Guerra Mundial, encimado pela estátua conhecida por Gëlle Fra, ou «mulher dourada». É também um miradouro sobre o vale do rio Pétrusse: abruptamente a terra termina, revelando outra dimensão da capital, a «cidade baixa». Para já, a caminhada fica-se pelas alturas, com visita à Catedral Notre-Dame, construída pelos jesuítas entre 1613 e 1621, posteriormente aumentada e ornamentada com vistosos vitrais dos séculos XIX e XX, esculturas modernas e portais em bronze do luxemburguês Auguste Trémont.

Daí à Rue du Marché-aux-Herbes é um saltinho e o Go Ten um bom lugar para almoçar em tons asiáticos, sobretudo japoneses. Ao fim do dia, tapas acompanham o aperitivo, depois o espaço transforma-se em bar, repleto de gente a tagarelar simultaneamente em vária línguas, funcionários da União Europeia incluídos. Entre copos e risos fala-se de tudo, inclusive mal de medidas europeias e do futuro de Schengen, o tratado que popularizou o nome de uma vila situada no Sul do país.

A nova Luxemburgo

O Simoncini não é só um hotel, é também uma galeria de arte contemporânea. Na verdade, trata-se de uma galeria com hotel e não o contrário, como muitas vezes sucede. O espaço expositivo existia há cerca de 35 anos, propriedade de André Simoncini, filho de emigrantes italianos nascido no Luxemburgo, desde sempre galerista e empresário na área da hotelaria.

Em 2008, juntou tudo no atual edifício: 35 quartos, com obras de arte aqui e ali, e a galeria homónima, que anualmente apresenta meia dúzia de exposições, com destaque para trabalhos de artistas japoneses, pelos quais sente especial fascínio. Também poeta, dedica-se ainda à edição limitada de livros de poesia, nomeadamente de Gao Xingjian, escritor chinês de língua francesa distinguido com o Prémio Nobel da Literatura. Arte e contemporaneidade são boas dicas para deixar o hotel e ir descobrir a «nova» Luxemburgo, Kirchberg, a área que acolhe instituições como o Parlamento Europeu, o Banco Europeu de Investimento, o Tribunal de Contas ou o de Justiça da União Europeia, muitos escritórios mas também escolas internacionais, um centro desportivo com piscina olímpica, restaurantes e outros espaços que se pretende que contribuam para fixar aqui a população.

A Philharmonie é um dos orgulhos desta zona da cidade. Com um grande auditório de acústica excecional, desde que foi inaugurada, em 2005, já recebeu mais de milhão e meio de visitantes e algumas das mais reputadas orquestras e maestros a nível mundial. O próprio edifício é uma obra de arte do arquiteto francês Christian de Portzamparc, distinguido com o Prémio Pritzker. Também acolhe espetáculos de jazz e música do mundo (Mariza cantou aqui em novembro) e concorridos concertos para crianças e adolescentes. Os trabalhos do checo Bohumil Kostohryz estiveram expostos na LUCA, Fundação de Arquitetura e Engenharia do Luxemburgo (ao lado).

Do total de 525 mil habitantes do Luxemburgo, em 2013, quase 90 mil eram de origem portuguesa.

Rodeado por uma agradabilíssima área verde, o vizinho MUDAM, Musée d’Art Moderne Grand-Duc Jean, é o outro grande motivo para vir até Kirchberg. Desenhado pelo autor da pirâmide no Louvre, Ieoh Ming Pei, que usou como «apoio» para o edifício a fortificação Thüngen, do século XVIII, apenas recebe exposições temporárias. A atual, Eppur Si Muove, criada para o semestre em que o Luxemburgo preside à União Europeia e que pode ser visitada até 17 de janeiro, aborda a relação / influência da ciência e da técnica sobre a arte contemporânea.

A exposição de Damián Ortega, Miracolo Italiano 2005, que esteve em exibição no MUDAM.

O caminho de volta pode incluir mais duas paragens dedicadas ao design e à arquitetura: uma na Rob Vintage, casa / loja com peças autênticas dos anos 1950 e 1960 cuja proprietária, Michele, adora partilhar ideias sobre «mobiliário com história»; e outra no LUCA, Centro Luxemburguês para a Arquitetura, que promove interessantes exposições.

Na cidade baixa

É a maior e mais bonita surpresa numa capital cheia de contrastes. Descendo na direção do rio, a paisagem urbana transforma-se, dando lugar a mais história, a mais espaços verdes – que, no total, cobrem um terço da cidade – e a uma inesperada serenidade.

Exemplo especial da arquitetura militar durante vários séculos, e na qual colaboraram afamados especialistas europeus, entre eles Vauban, engenheiro de Luís XIV, a Fortaleza consta das listas do Património Mundial da UNESCO desde 1994. É possível viajar até ao passado caminhando por 23 quilómetros de túneis subterrâneos escavados no rochedo Bock, que em tempos idos abrigaram soldados, respetivos cavalos e equipamentos, mas percorrer o Chemin de La Corniche, conhecido como «a mais bela varanda da Europa», revela-se muito mais aprazível.

O centro da cidade do Luxemburgo faz parte da lista de Património da Humanidade escolhido pela UNESCO.

Chega-se ao Grund, no fundo do vale profundo, que mais parece uma aldeia pitoresca do que parte integrante de uma capital europeia. Ruelas estreitas, casas baixinhas, pontes velhas que cruzam o rio Alzette, músicos de rua e artesãos concentrados nas suas artes contribuem para um cenário com um charme verdadeiramente único.

Também há restaurantes e bares, que pela noite esta zona tranquila ganha especial animação, a caminho do Centro Cultural Neimënster. A abadia erguida em 1606, expropriada quando da Revolução Francesa, depois prisão, até 1980, é o edifício que acolhe hoje conferências, exposições e concertos, designadamente de jazz nas manhãs de domingo, os Apéro’s Jazz, com entrada livre.

Há que chegar cedo para conseguir lugar, que as mesas são rapidamente tomadas por gente a ler o jornal e a beber galões enquanto espera, lado a lado com quem leva o aperitivo mais à letra e pede um crémant, vinho espumante por aqui bastante popular. Findo o espetáculo, basta subir ao primeiro andar para um almoço buffett de comida internacional (menu a 15 euros). A refeição, tão farta quanto se queira, demove do passeio a pé de volta à cidade alta, mas isso não constitui um problema graças a um elevador que, neste contexto, nos cai verdadeiramente do céu.

Quase concluída esta escapadinha numa capital com três dimensões tão distintas, vale a pena mencionar outro espaço gastronómico especialmente agradável, Um Plateau, dotado de esplanada e bar. A cozinha é, uma vez mais, internacional, tal como a clientela – e como quase tudo nesta cidade. E é por isso que uma pequena frase em luxemburguês, ao contribuir para preservar uma língua ofuscada por tantas outras, é sempre bem recebida pelos residentes: «äddi a merci», ou adeus e obrigada.


Guia da viagem

Documentos: Cartão de cidadão ou passaporte
Moeda: euro
Fuso horário: GMT + 1 hora
Idiomas: luxemburguês, alemão e francês
Quando ir: na Europa, julho e agosto são os meses mais quentes. O inverno neste país de castelos e pequenas cidades também pode ser uma época interessante.

Ir
Quer a TAP quer a easyJet oferecem voos diretos de Lisboa para o Luxemburgo. A duração da viagem é de cerca de 2h40m.

Sair
O Luxembourg Card permite viajar gratuitamente nos transportes públicos da cidade e dá acesso a cerca de 70 museus e atrações turísticas. Custa 13 euros (um dia), 20 euros (dois dias) ou 28 euros (três dias) por pessoa, mas também existe uma modalidade familiar, para duas a cinco pessoas, que sai mais em conta.

Dormir
Hotel Simoncini
Fica um quilómetro do centro da cidade, perto dos principais monumentos, como o Castelo de Beaufort ou a principal infraestrutura desportiva da capital, o Estádio Josy Barthel, e a cinco minutos de carro do Aeroporto Findel e a 15 minutos a pé da estação de comboios.
6, Rue de Notredame
Tel.: +352222844
Quarto duplo a partir de 145 euros/noite
hotelsimoncini.lu

Comer
La Cristallerie
É o ponto de encontro para quem gosta de cozinha refinada e está distinguido com uma estrela no Guia Michelin. Situa-se no primeiro andar do hotel Le Place d’Armes, entre vitrais de época e tetos esculpidos. A carta de vinhos tem referências das mais importantes regiões do mundo.
18, Place D’Armes
Tel.: +352274737
hotel-leplacedarmes.com

Go Ten
A carta de gins domina as atenções, mas os almoços de comida japonesa também atraem atenções. À noite, são as tapas que estão em destaque.
Rue du Marché-Aux-Herbes
Tel.: +352 +35226203652
Menus a 14,5 euros
goten.lu

Um Plateau
O serviço e o atendimento são duas caraterísticas apontadas como positivas nas principais críticas online. À mesa, destaque para os pratos de carne. Uma palavra ainda para a decoração do espaço.
Plt. Altimuenster
Tel.: +35226478426
Petiscos desde 8 euros, pratos a partir de 22 euros
umplateau.lu

Oberweis
Falar de chocolate no Luxemburgo é referir este nome. Desde 1964 em funcionamento e a dar cartas no pequeno país – e fora dele. Os membros deste negócio familiar são fornecedores da família real luxemburguesa e têm cinco lojas abertas.
1, Rue G. Kroll
Tel.: +352403140
oberweis.lu

Visitar

Philharmonie
Foi inaugurada em junho de 2005 e é um projeto arrojado do arquiteto Christian de Portzamparc. Possui grande auditório (1500 pessoas de capacidade), sala de música de câmara (313 pessoas), espaço descoberta (180 pessoas) e órgão com 6768 tubos. É a casa da Orquestra Filarmónica do Luxemburgo.
1, Place de Léurope
Tel.: +35226322632
philharmonie.lu/en

MUDAM – Musée d’Art Moderne Grand-Duc Jean
Este espaço de arte moderna, na zona norte da cidade, foi projetado pelo arquiteto I.M. Pei (Prémio Pritzker, entre outras distinções). Teve um custo de construção de quase cem milhões de euros e foi inaugurado em 2006. Entre os trabalhos que podem ser admirados estão obras de Andy Warhol, Bruce Nauman, Alvar Aalto ou Marina Abramović.
3, Park Drai Eechelen
Tel.: +3524537851
mudam.lu

LUCA
O Centro Luxemburguês para a Arquitetura situa-se no coração da antiga zona industrial de
Hollerich. Foi criado em 1992 e desde então procura promover a qualidade dos edifícios enquanto valor essencial da sociedade contemporânea. Apresenta uma vasta programação cultural, ciclos de conferências, debates, visitas guiadas ou exposições temporárias. Possui uma biblioteca com mais de seis mil referências.
1, Rue de L’Aciérie
Tel.: +352427555
luca.lu

Centro Cultural Neimënster
Encontra-se instalado numa abadia, foi inaugurado em 2004 e insere-se na zona antiga da cidade. Tem uma área de doze mil metros quadrados, distribuídos por três edifícios.
28, Rue Munster
Tel.: +352262052

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