a carregar vídeo

Cresci a pensar que «ser influenciável» era coisa má. Que não deveria deixar que me lavassem ao cérebro, que pensar pela minha cabeça era o primeiro passo para criar uma personalidade forte. «Ah, o não-sei-quantos é muito influenciável», ouvia-se de vez em quando sobre alguém próximo. Umas vezes pela pressão dos pares, outras por modas passageiras, a verdade é que algumas pessoas se deixavam ir. De um lado estava a carneirada que ia atrás da cenoura agitada; do outro, bem nas sombras, estava quem influenciava a uma tomada de decisão.

Hoje, já não. Influenciar tornou-se profissão às claras. Não só nos corredores do poder, com os lobistas a terem um papel cada vez mais a descoberto, mas em especial na net – redes sociais, blogues, vídeos carregados à espera de milhões de subscritores, fotos que anseiam por corações ou polegares para cima. A contagem das interações é fundamental para personalidades da vida pública, projetos, jornais, canais de televisão ou revistas – como esta que tem nas mãos. Não estamos apenas no papel e é online que sentimos o retorno dos nossos leitores, seguidores e parceiros. Os números alcançados traduzem-se em mais (ou menos) investimento publicitário, mais ou menos parcerias, mais ou menos alcance, notoriedade.

Capa da edição de junho de 2019 da revista Volta ao Mundo.

Vamos imaginar alguém conhecido que viaja para uma ilha paradisíaca. Veste biquíni ou calção de banho de marca, passa na pele um determinado protetor solar, identifica um dado hotel numa foto, mostra com orgulho uma qualquer bebida da moda. Os seguidores apreciam o que veem e dão-lhe um «gosto», até partilham a imagem, comentam o momento. Quem é que fica contente com isso? A marca de biquínis, os laboratórios do protetor solar, a cadeia de hotéis e os fabricantes da bebida – todos passaram a sua mensagem. E quem mais fica contente? A pessoa conhecida, porque com determinados números alcançados não vai ter de se preocupar em pagar a viagem ou a estada. E ainda ganha dinheiro. É esse um dos papéis dos influencers, os influenciadores, os profissionais da opinião que estão cada vez mais na moda. Nada contra, pessoas e marcas fazem o que querem das suas vidas, mas eu continuo a preferir pensar pela minha cabeça.

Veja aqui os episódios anteriores da nossa aventura pela Costa Dourada.

Ricardo Santos, Editor

Revista Volta ao Mundo de junho já está nas bancas – com destinos imperdíveis

Partilhar