Diana Chiu Baptista apaixonou-se pela Ásia no dia em que aterrou na Tailândia e, desde há dez anos, começou a fugir do Porto para Oriente sempre que podia. Até que decidiu deixar o trabalho para mostrar aos outros a mesma Ásia que ela via.

Texto de Bárbara Cruz

Antes de se demitir, Diana Chiu Baptista, de 37 anos, trabalhou durante uma década numa agência de comunicação. Era conhecida por querer trabalhar sempre aos fins de semana, mas por uma razão apenas: «Eu faria todos os trabalhos, aos fins de semana e feriados, porque o objetivo era sempre ter mais dias de férias», esclarece entre gargalhadas.

Como tinha abertura da chefia, acumulava dias de folga e sempre que podia escapava-se para Oriente. O destino era sempre o mesmo e continua a ser: desde que aterrou na Tailândia que ficou apaixonada pela Ásia, um amor aparentemente correspondido porque desde então nunca sentiu necessidade de viajar para outros continentes. «Senti uma grande empatia, uma identificação com tudo. Com os costumes, as cores, o tipo de vida, a alimentação, os sabores. Senti mesmo: parece que já vivi aqui.»

Diana Chiu Baptista nas ruas de Hanói, no Vietname.
Diana Chiu Baptista nas ruas de Hanói, no Vietname.

A filosofia oriental não lhe era estranha graças à dinâmica familiar. «Nasci numa família macrobiótica e a macrobiótica vem do Japão. Na minha educação, a minha mãe integrava a religião católica com o ioga: na infância, antes de dormir, rezava ao anjo-da-guarda e entoava mantras, por isso para mim nunca houve separação.»

Daí a ter procurado aprofundar a vertente espiritual das viagens que fazia foi um pequeno passo. Começou a procurar mosteiros, a insistir no contacto com outras religiões. «Tinha interesse em ver outras perspetivas. Não tenho nenhuma religião e acho que me identifico um bocadinho com todas, exceto nas partes dos rituais. Mas é a busca pelo que há de mais profundo no ser humano, a religião tenta responder a essa questão e penso que esse ponto é comum a todas. A essência é a mesma», reflete.

Longe vão os tempos em que só viajava com pacotes comprados em agências que incluíam hotéis e deslocações, sem variar na fórmula. Por recomendação de amigos que viajavam de forma independente, há cerca de dez anos aventurou-se e comprou o voo para a Tailândia, só com a primeira noite marcada num hotel de Banguecoque. «Ia a medo, mas abriu-se todo um universo de possibilidades», garante. «A partir dali nunca mais viajei no sistema anterior.»

Foi só aos 18 anos que começou a sair mais do país, mas até então nunca tinha sido menina de ficar em casa. Acampamentos dos escuteiros, férias com amigas, nada lhe escapava. Um dia, ainda criança, a mãe perguntou-lhe se não tinha saudades de casa, por estar sempre com um pé fora da porta. Respondeu-lhe com outra pergunta: «Mas, mãe, o que são saudades?»

Em 2011, Diana descobriu Amma, a guru indiana que pratica o hinduísmo mas não rejeita as outras religiões.

Em 2017, Diana despediu-se para se dedicar com o marido – que também deixou um emprego na área da engenharia – a um projeto que começara a tomar forma algum tempo antes. «Tenho há alguns anos um blogue sobre macrobiótica, onde também partilho um bocadinho da minha vida, e partilhava as viagens que fazia. Comecei a receber mensagens de leitores a perguntar se um dia podia organizar uma viagem também para eles.»

A insistência foi tal que Diana acabou por falar com uma conhecida que tinha uma agência de viagens e que se mostrou disponível para uma parceria. Lançou então um programa com destino à Índia Sul, «cheia de medo de que ninguém quisesse ir. No dia seguinte fui para o Vietname e estava sempre na net a ver se alguém já se tinha inscrito. A minha viagem era de três semanas, no final da segunda já tinha as vagas todas preenchidas».

A partir daqui «tudo fluiu» para o começo da Macro Viagens, uma agência que é gerida pelo casal e especializada em aliar às viagens de grupo uma filosofia diferente, de entrega à espiritualidade e que privilegia o vegetarianismo. No fundo, uma continuação das viagens de Diana, que fugia sempre para o continente asiático e não se cansa de viver e reviver com outros as experiências que para ela foram as mais marcantes. Em 2011, por exemplo, descobriu Amma, a guru indiana que pratica o hinduísmo mas não rejeita as outras religiões: «Ela diz que existe uma única religião, que é o amor», acrescenta.

Diana Chiu Baptista no deslumbrante Ninh Binh, no Vietname.
Diana Chiu Baptista no deslumbrante Ninh Binh, no Vietname.

«Estar no ashram da Amma alguns dias levanta muitas questões e mesmo alguma aversão no início, por causa dos rituais, porque é tudo diferente, porque há muitas imagens da Amma por todo o lado, algo como ‘será isto uma seita?’. Mas ao longo da permanência tudo muda, surgem perguntas mais profundas, relacionadas com o trabalho humanitário que ela faz, com o número de seguidores que tem, com o facto de ser uma mulher com tamanha projeção, o que na Índia não é muito comum».

No Nepal, Diana visitou centros de Osho, o líder religioso já falecido que criou «meditações controversas para a mente ocidental», explica. «Ele considerava que os ocidentais têm uma mente muito instável, com muitos pensamentos, muito diferente da oriental. E por isso não basta sentarmo-nos a meditar como se faz tradicionalmente, temos de cansar primeiro o corpo para conseguir que a mente descanse e medite.»

Garante que as pessoas que leva em viagem confiam e querem ver aquilo que Diana descobriu para lhes mostrar. Já houve até quem fosse ao pormenor de lhe pedir uma lista das roupas adequadas para levar, diz a rir-se. Apesar de o projeto ser relativamente recente, por causa da Macro Viagens já passa mais tempo fora do país do que no Porto. E só não abraça a vida nómada por causa do Américo, o cão que adotou com o marido na União Zoófila e que fica na quinta da veterinária sempre que o casal está em viagem. «Ele faz parte da família e não o quero deixar mais tempo sozinho», confessa.

Percorra ainda a fotogaleria acima para ver mais imagens das viagens de Diana Chiu Baptista.

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