Ir a Viena e não provar Schnitzel (prato de panado frito) é como ir a Roma e deixar a piza de lado. Proposta arriscada? Talvez, mas o objetivo do fim de semana prolongado era conhecer o outro lado de uma capital que tem vindo a reinventar-se para além do seu legado imperial. O Lonely Planet ficou em casa (como já vem sendo hábito), confiou-se nas dicas de amigos e guardou-se espaço para o improviso.

Texto de Ana Patrícia Cardoso
Fotografias Direitos Reservados

O sol e o céu limpo pedem um passeio a pé, ainda que os transportes públicos sejam pontuais ao minuto e cheguem a todos os pontos a visitar. Até mesmo ao cimo do monte Kahlenberg, mas já lá vamos.

Viena tem cerca de dois milhões de habitantes, na rua ouve-se várias línguas e um cappuccino é servido com um «bom dia». Entre um croissant e uma fatia de Strudel (teve mesmo de ser), António conta que vive na cidade há dois anos e, até agora, prefere a qualidade de vida austríaca à incerteza profissional de Lisboa. As dicas de onde comer são anotadas e tornam-se uma das melhores descobertas por aqui.

De todos os locais obrigatórios – cuja ideia é evitar –, a exceção vai para o Palácio de Schönbrunn, considerado Património Cultural Mundial da UNESCO, em 1996. A antiga residência imperial tem 1441 divisões. Leu bem, 1441. No entanto, apenas uma parte está aberta a visitantes, incluindo os aposentos da princesa Sissi, a personagem-fetiche da história austríaca. Os jardins valem o passeio, e se quer mesmo entrar, o melhor é comprar os bilhetes online, para evitar filas e o tempo de espera, que pode ir até seis horas.

Em três dias, percebe-se por que razão Viena foi considerada pela Economist Intelligence Unit, em 2018, como a melhor cidade para se viver. Ou porque génios como Freud ou Mozart viveram aqui grande parte das suas vidas. Existe harmonia entre a arquitetura majestosa do passado e as pequenas lojas e os cafés que trazem à cidade uma irreverência nada forçada. Na altura do check-in de regresso, fica a vontade de voltar a comer nos mesmos lugares ou de contemplar os mesmos quadros. Foi um verdadeiro banho de humanidade, mesmo sem o selo da UNESCO. Há que regressar, até porque ficou prometido um cappuccino e outra fatia de Strudel (estava
mesmo bom).

Phil

Um café que é uma livraria ou uma livraria que tem um café. A definição é indiferente porque o que vale mesmo a pena é sentar, pedir alguma coisa para beber ou comer e ficar a ler ou a trabalhar sem olhar para o relógio. As estantes estendem-se por duas zonas distintas e têm livros sobre tudo, desde animação a terror. Também existe a secção de livros em inglês, muito difíceis de resistir. Com decoração moderna e despojada, é aqui que grupos de amigos se encontram para uma tarde de conversa. É um lugar pouco turístico e uma opção segura para uma pausa entre museus.
Morada: Gumpendorferstraße 10-12
Horário: das 09h00 à 01h00
>> facebook.com/philophilophil

Mercado Naschmarkt

Existe desde o século XVI, sendo o mercado mais antigo Viena. Tornou-se também o mais conhecido, com milhares de visitantes todos os dias. Se não for com uma ideia concreta do que procura, não se preocupe. Em Naschmarkt, encontra sempre alguma coisa que ainda não sabia que queria comprar ou provar. De roupa vintage, candelabros, discos e quadros a azeites, queijos, temperos, é aqui que está o melhor e mais fresco. Vale a pena reservar tempo para deambular com calma, regatear preços e provar amostras.
Morada: Kettenbrückengasse, Viena 1040
Horário: de segunda a sexta das 06h00 às 18h30; sábados das 06h00 às 14h00.
>> naschmarkt-vienna.com

Monte Kahlenberg

Um monte que se tornou uma igreja, que virou um café e uma vista panorâmica obrigatória na passagem por Viena. Muito resumidamente é isto. A uma hora do centro, este destino é perfeito para admirar a cidade no seu todo. Há autocarros regulares que deixam os curiosos mesmo no topo. Ao final da tarde, o pôr do Sol oferece as cores de um postal personalizado. É uma oportunidade para sair da capital e experimentar um pouco da natureza em redor.
>> kahlenberg.wien

Museu Albertina

Imagine que Picasso, Degas, Andy Warhol, Renoir, Cézanne, Matisse e Monet se encontram para jantar e discutir sobre os seus percursos noite dentro. É este diálogo, através das respetivas obras, que acontece no Museu Albertina. Os 16 euros do bilhete valem cada cêntimo. Aqui, sim, é preciso mais tempo para ver com calma o que cada artista nos presenteia, as particularidades de cada movimento e, no fundo, constatar o óbvio: estamos perante o olhar de génios.
Morada: Albertinaplatz 1
Horário: diariamente, das 10h00 às 18h00
>> albertina.at

Palácio e museu de Belverdere

Poderia também chamar-se o lugar onde se pode admirar O Beijo, de Gustav Klimt, mas seria redutor. Apesar de ser a grande atração, o quadro não é razão única para merecer a visita a este palácio construído no século XVII. Os jardins estão perfeitamente conservados e não faltam casais em busca da foto perfeita. Não precisa de reservar uma manhã inteira e pode optar por ver apenas o museu, os dois palácios ou a visita completa, incluindo os jardins.
Morada: Prinz-Eugen-Strasse 27
Horário: diariamente, das 09h00 às 18h00
>> belvedere.at

Der Wiener Deewan

Este restaurante paquistanês onde se paga o valor que achar que a refeição merece é uma das descobertas mais entusiasmantes de Viena. Pode repetir as vezes que entender, num ambiente descontraído em que a água é grátis. Se vai sozinho, acaba a partilhar a mesa com outras pessoas, oportunidade boa para ir conhecendo não só locais como outros turistas que vieram saber se este conceito era mesmo verdade. Normalmente, as doações são entre os cinco e os dez euros por pessoa.
Morada: Krichbaumgasse 27
Horário: diariamente, exceto domingos, das 11h00 às 23h00
>> deewan.at

Hungry Guy

Já lá vai o tempo em que street food era apenas servida em rulotes duvidosas. Em Viena, o Hungry Guy é dos melhores lugares para comer pita. É o próprio slogan que o diz: «Best pita in town.» E é bem capaz de ter razão. As pitas são feitas ali mesmo, o cheiro condiz com o lugar e há que pedir ao balcão e esperar. Os empregados são jovens e é fácil criar empatia. Sobretudo, há sempre um guardanapo para anotar indicações quando é tempo de seguir o passeio.
Morada: Rabensteig 1
Horário: das 11h30 às 23h00
>> hungryguy.wien


Reportagem publicada originalmente na edição de agosto de 2019 da revista Volta ao Mundo, número 298.

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