Joana Bacelar ainda não fez 25 anos mas já viveu na Alemanha, na Suécia, em Moscovo e Dublin. Para o futuro, tem um plano traçado a longo prazo: conhecer todos os países do mundo.
Texto de Bárbara Cruz
Dizer que Joana Bacelar é uma viajante precoce não é exagerar. Com 24 anos, já visitou 50 países e tem um objetivo bem definido, que passa por conhecer todos os países do globo.
Nascida em Cascais e licenciada em Ciência Política, Joana vive em Dublin e é atualmente secretária do embaixador português na Irlanda. Nos tempos livres o hobby é sempre o mesmo: viajar.
Tinha 6 anos quando se apaixonou por Inglaterra. «Pintava bandeiras, comprei os CD dos Beatles», conta ao telefone. Mas a primeira vez que andou de avião numa viagem mais longa foi para ir a Paris com os avós, aos 12 anos. Um presente por ter tido boas notas. No ano seguinte, levaram‑na a Londres. «Não há explicação» para a emoção que sentiu, diz a rir‑se. Decidiu começar a pôr de lado todo o dinheiro que lhe davam, inclusivamente o que recebia para os almoços na escola ‑ surripiava‑os de casa para não desembolsar nem mais um tostão. Queria ir conhecer o mundo.
Aos 14 anos, foi para Espanha com uma prima que vivia lá. «Achei um espetáculo conhecer pessoas novas, novas culturas. Ainda hoje acho. Aos 20 anos decidi fazer Erasmus e escolhi ir para a Alemanha, vivi com uma italiana e uma albanesa, uma casa muito do Sul, e foi superdivertido», revela.
Depois de terminar o Erasmus em Mannheim fez um InterRail com um propósito: visitar os amigos dos vários pontos da Europa que fizera na Alemanha, «sempre a dormir nas casas deles ou em estações de comboio». Dessa vez ainda levou uma amiga, mas quando terminou o curso, e já depois de muito suspirar porque «precisava mesmo de sair outra vez» do país, foi sozinha para a Suécia, ao abrigo de um programa de voluntariado europeu que cobre todas as despesas.
São muitas as viagens que Joana Bacelar, de 24 anos, já fez: de um InterRail pela Europa ao Irão, Filipinas ou Azerbaijão.
Escolheu o Norte da Europa porque queria sair da zona de conforto. Ficou a viver num bungalow de um parque de campismo que acolhia estudantes internacionais com uma estónia, durante oito meses. O objetivo era trabalhar com jovens «desorientados» dos 16 aos 25 anos. «Disseram‑me que eram jovens problemáticos, mas quando cheguei achei‑os só mimados.
Depois percebi que lhes faltava o lado afetivo, que o problema era não terem amigos. Havia miúdos que estavam há quatro anos em casas dadas pelo Estado a jogar computador durante o dia inteiro.» No final, exultou quando um grupo de suecos veio ter com ela para lhe dizer que estava a planear um InterRail. «Pensei logo: a minha missão está cumprida.»
Regressa a Portugal e, no dia seguinte, sem perder tempo, vai a uma entrevista para fazer um estágio remunerado em diplomacia política. «Fui escolhida e só me deram hipótese de ir para a Rússia!» Não virou a cara ao desafio e foi um ano viver para Moscovo, trabalhar na embaixada portuguesa. «Foi a melhor coisa que fiz na vida», recorda. Na capital russa admite que se sentia intimidada com o policiamento.
«Quando passava o Putin fechavam as ruas todas, só carros blindados, parecia que estava na guerra. Mas eles tratam bem os europeus. Pior é para as pessoas do Cáucaso e da Ásia Central», assinala.
Os diplomatas da embaixada ajudavam‑na a navegar em águas internacionais. Foi à festa do dia nacional do Tajiquistão, conheceu o embaixador do Djibuti. «Ficava encavacada, é difícil meter conversa com as pessoas quando nem sabemos que país é aquele.» Começou a estudar os países e decidiu ali que iria visitar, pelo menos, a área de jurisdição da embaixada portuguesa na Rússia: Arménia, Bielorrússia, Tajiquistão, Quirguistão e Usbequistão. «A minha mãe dizia‑me ‘és louca, nem pensar’. Mas peguei na minha mochilinha, levo sempre a mesma, muito pequenina, e lá fui.»
Croácia, Islândia, Macedónia, Palestina, Holanda e Tajiquistão são alguns dos 50 países que já visitou.
No Usbequistão, deu por ela prestes a chegar com mil rublos, cerca de 15 euros, no bolso. «Lá nem me serviam de nada.» Meteu conversa com um rapaz no avião e aceitou boleia quando descobriu que ia para o hostel da tia dele. Acabou a almoçar com a família toda do jovem.
No Tajiquistão, conheceu um grupo de espanhóis e contrataram um motorista. «Lá não há táxis. Quem tem um carro espera pelas pessoas», explica. Foram oito horas dentro de um carro «podre» a bater estradas sem alcatrão. Acabaram a comer na casa do condutor contratado e a ser exibidos pelo tio dele como «os novos amigos» pela aldeia inteira. Reparou que as casas de banho eram fora de casa e um singelo buraco no chão, mas a família com quem esteve tinha um plasma na sala. «Também vi muita segregação», admite. O lugar das mulheres era sempre na cozinha.
Ainda foi à Geórgia, à Arménia e ao Azerbaijão, aproveitou para conhecer Israel e a Palestina. Não havia um feriado que passasse na Rússia. A muito custo, conseguiu um visto para o Irão e garante que foi o país de que mais gostou até hoje. Chegou no Ramadão, com 40 graus, «e tinha de andar tapada dos pés à cabeça». Mas conheceu uma pintora que lhe ofereceu casa e começou a deslindar as hipocrisias. «Eles comem em casa durante o Ramadão, só não comem na rua. Dizem que é por respeito às pessoas.» Recorda, porém, um «momento místico», quando foi à mesquita rezar com a amiga. «Foi magnífico partilhar a experiência com tanta gente diferente, mas tão igual.»
Em 2016 começou um mestrado em cooperação internacional mas passados dois meses já queria viajar outra vez. Foi mês e meio sozinha para Myanmar, Filipinas, Tailândia, Camboja, Laos, Singapura e Malásia. Adorou Myanmar e nas Filipinas foi a um congresso de escuteiros, onde conheceu o chefe da polícia de uma região no Sul e aceitou o simpático convite para uns dias de férias. Não percebia o dispositivo policial a que tinha direito, mas depois viu que estava num problemático reduto terrorista filipino, onde a polícia tem combatido afiliados do Estado Islâmico.
Garante que, mesmo sendo jovem, mulher e viajar muitas vezes desacompanhada, nunca apanhou um susto. Vai com cautela, recolhe‑se quando a noite cai. Entretanto, já esteve na Bósnia e no Kosovo antes de se mudar em setembro passado para a Irlanda. A família ainda não fez as pazes com o estilo de vida, mas aos 24 anos Joana diz que já não sabe fazer de outro modo. O próximo destino de sonho? Se puder, será o Afeganistão.
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