Alexandra tinha tudo, mas faltava‑lhe algo que não sabia apontar. Fez as malas e foi sozinha para a Ásia. Voltou cheia de projetos e a certeza da mudança: o futuro há de ser internacional e passa pelo coaching.

Texto de Bárbara Cruz

Alexandra Vinagre garante que sempre gostou de viajar e nem sequer o descobriu na idade adulta: ainda em criança, ia do continente com a irmã passar férias com a família dos Açores e lembra‑se de que até foi ela quem «pagou» a primeira viagem que fez ao estrangeiro: quando andava no oitavo ano, ganhou uma ida a Paris por ter ficado em primeiro lugar num concurso que pedia projetos para uma campanha de sensibilização anti-drogas.

Ganhou autonomia e começou a passear em «registo de agência de viagens», mas foi por pouco tempo. Não lhe agradava o circuito comercial, por isso passou a organizar sozinha todas as deslocações, para ela e para os amigos. A primeira vez que tratou de tudo foi numa aventura de surf para a Costa Rica: ela e a amiga ficaram em casa de locais, viajaram nos autocarros da terra e até travaram conhecimentos numa escola de surf.

Em 2011, nova reviravolta: foi nesse ano que começou a viajar para a Ásia, um destino que até então lhe passara ao lado mas que a encantou desde o primeiro momento. E, como tantas vezes acontece, foi tudo obra do acaso: o objetivo era conhecer a América do Sul e fazer na Argentina a estrada do fim do mundo. Mas acabou por partir com destino a Singapura e Camboja, completamente sozinha, depois de perceber que o orçamento e o tempo que tinha não chegavam para o continente americano.

Na altura, andava à procura de respostas para as questões que nem sabia que tinha, fruto de uma insatisfação de origem desconhecida. Engenheira química de formação, sempre trabalhou na área de vendas da indústria farmacêutica. «Fiz o meu curso, tinha o meu trabalho, tinha a minha casa, tinha o meu namorado, tinha as minhas férias todos os anos. Estava tudo aparentemente bem, os amigos, a família. Mas faltava‑me alguma coisa.» Começara entretanto um processo de coaching, para perceber como podia encontrar um propósito, «algo que fizesse e sentisse que tinha impacto na vida dos outros».

«Na primeira hora perdi todos os meus referenciais. Ali era tudo esquisito, eu nem sabia atravessar a estrada.»

Decidiu que ia sozinha para oriente, numa espécie de viagem de introspeção, e acabou por descobrir uma ligação intensa à cultura asiática, apesar de as primeiras impressões ao chegar ao Camboja terem sido tão desconcertantes que as sente vivas à medida que as descreve. «Foi muito impactante do ponto de vista emocional.» Na primeira noite, fez uma caminhada para ir jantar a um restaurante. «Na primeira hora, perdi todos os meus referenciais. Ali era tudo esquisito, eu nem sequer sabia atravessar a estrada.»

Quando regressou a casa, decidiu que estava na hora: deixou de ser só cliente e foi fazer uma certificação em coaching, enquanto manteve o trabalho de todos os dias. Um ano depois terminou – ainda fez um módulo do curso em Bali – e iniciou o seu projeto, a Inspire Life.

Passou a ser ela a coach, a conduzir os outros pelos processos de mudança quando a vida parece um enigma difícil de decifrar. As viagens, garante, são o complemento indispensável do trabalho que faz enquanto coach – por agora, só nas horas que lhe sobram depois do expediente. «Por experiência própria, sei que as viagens são uma aprendizagem de fora para dentro. E num processo de coaching transformamo‑nos por dentro para construir coisas novas para fora. As duas coisas complementam‑se muito bem, as viagens criam um ambiente propício para a aprendizagem».

Em 2017, segue‑se «o passo seguinte»: o coaching vai passar a ser o emprego a tempo inteiro e quer uni‑lo às viagens para proporcionar aos outros uma «aprendizagem fora do contexto», como ela própria tem feito nos últimos anos: sempre sozinha, já foi a Indonésia, Tailândia, Índia, Dubai, pondo‑se à prova.

«As viagens são um espaço fantástico para nos esticarmos para todo o lado, porque há pessoas novas, sítios novos, coisas que nos fazem morrer de medo, outras que nos fazem morrer de rir. E quando regressamos vimos sempre pessoas diferentes.» Dá um exemplo: na última viagem que fez passou um mês na Tailândia, em Chiang Mai. Ia sem agenda, limitou‑se a arrendar um apartamento para ficar. Também sem agenda foi a mala, que só conseguiu recuperar uma semana depois de já estar instalada.

Quando chegou, o desespero. Como ia sobreviver sem as roupas que tinha levado? Certo é que, tendo comprado o básico, quando a mala chegou já nem lhe fez grande falta. «Há coisas que nos deixam chateados, mas é preciso ir com o espírito de descoberta.» Uma das coisas que aprendeu em viagem, sublinha, foi a confiar. Vai com os sentidos em alerta, sim, mas pronta a aceitar o que vier, a absorver a diferença.

E é essa capacidade que quer passar aos outros, a quem a quiser seguir: em abril de 2017 vai organizar o primeiro retiro de life coaching em Ubud, Bali, com prática de ioga, e para julho já tem agendado um curso de programação neurolinguística no Sul da Índia (todas as informações no Facebook na página Alexandra Vinagre – Coaching to Inspire Life). Entretanto, foi convidada para escrever um livro sobre «a grande viagem da mudança», que já chegou às bancas no início do ano novo: «Até Onde Quer Chegar?»

Imagem de destaque: Direitos Reservados

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