A costa da Califórnia pelos olhos de quem não passa sem o surf. André Carvalho conta como foi percorrer a Highway 1, entre São Francisco e San Diego, uma das estradas da vida do fotógrafo surfista.

Texto e Fotografias de André Carvalho

Houve sempre duas viagens de carro que me aliciaram. Uma é a mítica Route 66, a outra era a Highway 1, que liga Dana Point a Oxnard, na linha costeira do sul do estado americano da Califórnia. Basicamente é uma autoestrada que vai sempre junto à costa e que nos oferece paisagens incríveis pelo caminho. Podemos fazê-la num sentido ou noutro, mas optei por aterrar em São Francisco e descer a costa até San Diego sem grandes planos. Escolhi sentir ou não empatia pelos sítios por onde passava. Era isso que iria ditar pernoitar neles ou não. E a primeira paragem – de três noites – foi em São Francisco, por todo o peso cultural que esta cidade tem. E foi tempo muito bem investido.

Daí foi sempre a descer junto à costa (o mais possível), com a segunda paragem a ser em Santa Cruz. Aqui, percebi que tinha de arrancar ao nascer do dia, de maneira a atravessar a região do Big Sur bem cedinho. O Big Sur é incrível, com uma paisagem estonteante que acaba numa praia onde quase não conseguimos ver a areia devido à quantidade de leões-marinhos que lá habitam.

Até San Diego a estrada é longa e diversificada. Saltamos rapidamente da classe de Malibu e Santa Bárbara para as vilas tipicamente dedicadas ao surf, como Huntington Beach, San Clemente e Encinitas. E tudo se passa como estamos habituados a ver nos filmes.

Ilustração de Miguel Vieira
Ilustração de Miguel Vieira

San Diego foi talvez o sítio menos interessante da viagem e onde dei a volta para ir até Los Angeles. Por sorte ou azar calhou estar por lá em altura do Dia de Ação de Graças, o que me levou a ver uma cidade praticamente vazia, por onde se circulava à vontade e sem amontoados de turistas. Em LA, um sítio a não perder é sem dúvida Venice Beach, vila na praia onde praticamente tudo o que possamos imaginar pode mesmo acontecer. Homens de bicicleta com tabuletas de táxi na cabeça, ginásios na praia, festas na areia com centenas de pessoas, muita loucura e boa disposição, como aliás encontrei praticamente durante as centenas de quilómetros que percorri pela incrível Highway 1. Sim, é mesmo como nos filmes.


André Carvalho nasceu em Lisboa em 1976 e licenciou-se em Design Gráfico pelo IADE em 1999. Em 2003 a fotografia passou de hobby a part-time graças ao snowboard, começando a publicar as primeiras imagens em 2004. Em 2006, ganhou o primeiro concurso de fotografia de neve e snowboard promovido pela Snowboard Portugal. Ainda nesse ano, juntamente com um amigo, fundou a GOMA, um ateliê de design gráfico multidisciplinar. Um ano mais tarde começou a colaborar regularmente com revistas de surf europeias. Com a GOMA, durante três anos, foi o responsável gráfico pela Vert Magazine, seguindo-se a revista SURF Portugal.

Tem portfólios e fotografias publicados em vários meios de comunicação em Portugal. Em 2014, o Turismo de Portugal escolheu-o para documentar os passos do surfista de ondas grandes Garrett McNamara em Portugal. Em 2015, ganhou o prémio Ondas de Ouro, na categoria de Fotografia do Ano. Também em 2015 lançou o livro de fotografia Navegar É Preciso, que não é de surf mas que tem o surf sempre presente. André Carvalho é um apaixonado pela vida. Saiba mais sobre o seu trabalho em andrecarvalhophoto.com.


Artigo publicado na edição de junho de 2018 da revista Volta ao Mundo (número 284).

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.