Artur Marques é bancário, mas os números de que mais gosta são os das viagens que fez. Já viu as Sete Maravilhas do Mundo Moderno e também a única que ficou da Antiguidade. Todos os anos soma destinos e acrescenta peças novas a uma «sala museu» feita de recordações.
Texto de Bárbara Cruz
No dia 7 de julho 2007, Artur Marques foi ao Estádio da Luz. Já passou mais de uma década desde a noite em que Lisboa foi palco da eleição das novas Sete Maravilhas do Mundo, mas o bracarense lembra-se bem: levava vestida uma T-shirt com a inscrição «Eu Sou a Primeira Maravilha do Mundo», que fez rir quem se cruzou com ele, e assistiu expectante à revelação dos resultados da votação num estádio vestido a rigor para uma gala internacional. Tinha escolhido Machu Picchu, a cidade de Petra, na Jordânia, e os templos de Angkor Wat, no Camboja. Quando finalmente foram conhecidas as Sete Maravilhas do Mundo Moderno, jurou ali mesmo que ia conhecer uma por ano, começando ainda em 2007.
Artur começou a viajar para fora do país quando tinha 19 anos. O pai tinha comprado uma viagem para a Grécia e Itália mas, por razões profissionais, não pôde ir. «Deu-me essa viagem a mim. Apanhei uma malária de viagem e até hoje nunca mais parei», conta a rir-se. Faz duas ou três viagens por ano, mas só uma com a família, a mulher e as duas filhas de 21 e 24 anos. Nas outras vai sozinho e em casa ninguém se importa.
Este viajante coleciona a revista Volta ao Mundo desde o primeiro número. Viaja no papel e pelo planeta.
«As colegas da minha mulher brincam com ela e perguntam-lhe, “então deixas ir o teu marido sozinho?”, mas ela sabe que eu sou feliz assim. Tenho necessidade de ir, adoro aeroportos, aquela azáfama. Para mim, em viagens não há cansaço, posso fazer trinta quilómetros por dia a pé. O jet lag para mim não funciona», garante. «Há quatro anos fiz a minha maior viagem sozinho, cerca de 25 dias, por Timor-Leste, Singapura e Austrália. Dormia três ou quatro horas por noite e o meu cansaço físico era zero.»
Apesar de ter visitado todas as Maravilhas e até ter chorado de emoção em Machu Picchu, onde esteve num «dia fabuloso» de sol – «só começou a chuviscar quando descemos a montanha» –, admite que a viagem que mais o tocou, em termos emocionais, foi a Cuba. «Eu detesto praia, por isso ia expectante», confessa. Mas rendeu-se a um «país espantoso» onde andou de catamarã, mergulhou com golfinhos, deu um passeio de helicóptero e até comeu carne de crocodilo. No último dia, encheu uma mala com as ofertas do hotel e foi entregar a crianças à porta de uma escola. «Foram experiências diferentes, mas muito bonitas», recorda.
Vai lendo sempre sobre viagens, faz questão de conhecer a história de cada monumento e tem em casa centenas de fotografias que revela de cada vez que risca mais um destino do mapa. «Faço sempre uma espécie de reportagem. A primeira foto tiro ao hotel onde fico, ou à casa, depois ao autocarro, aos táxis», explica. Às imagens acrescenta texto e faz álbuns que guarda para consulta e recordação. Em casa tem ainda inúmera peças que trouxe de viagens, muitas espalhadas pelos vários compartimentos, outras dispostas numa «sala museu» criada para o efeito. Em junho esteve no Camboja e no Vietname e o chapéu triangular como os que via nos filmes, recortado contra os arrozais, já tem lugar de destaque na parede do escritório. «Deu-me transtorno, mas chegou intacto», diz.
Antes de cada partida, Artur lê sobre o destino e, já no terreno, faz a sua reportagem, com texto e fotos.
Naturalmente, já visitou também a última maravilha que sobra do mundo antigo, as Pirâmides de Gizé, promovidas a “maravilha honorária” desde que foram eleitas as novas sete magníficas. E apesar de já ter corrido meio mundo, continua sem falar inglês. As barreiras linguísticas, porém, nunca lhe causaram grandes entraves. «Quando quero ver um monumento e não consigo expressar-me, compro um postal e vou perguntar onde fica. Vou fazendo por etapas, se for preciso chego ao fim da rua e volto a mostrar o postal, assim não me perco e facilmente chego ao local», garante.
Em resumo, explica: «Eu faço quilómetros para ir ver uma pedra. As minhas filhas ficam doidas comigo, e até posso chegar lá e dizer que não tem interesse nenhum. Mas tenho de estar lá. Vi, toquei, fotografei e vim-me embora.»
Envie as suas histórias para:
[email protected]