Já sabe como vai celebrar o Dia de São Valentim? E que tal uma escapadela até às ilhas gregas do mar Egeu? Há diversas opções para desfrutar ao máximo com quem gosta mais. Descubra-as na fotogaleria acima.

Quando se fala em ilhas gregas ouve‑se de imediato um suspiro. Fama ou proveito? Realidade ou ficção? Estas são algumas das mais incontornáveis ilhas do mar Egeu, entre elas Mykonos, Santorini, Creta, Patmos e Rodes. Afinal, ainda há sítios (quase) secretos em plena era do turismo.

Percorra a fotogaleria acima para descobrir as melhores ilhas gregas para visitar no Dia dos Namorados.

1. Mykonos

Mykonos é a mais famosa ilha grega, a par de Santorini. É pequena (tem pouco mais de 80 quilómetros quadrados), ventosa e cada vez mais procurada. No inverno são cerca de seis mil os residentes fixos, no verão ultrapassam os cem mil. As praias são pequenas, o aluguer de uma cama ou de guarda-sol pode custar cem euros e nem sempre parece haver areal para tantos corpos. «Podem estender a toalha nos espaços entre as espreguiçadeiras, que é grátis», diz-nos Azurra, uma guia local, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Porquê este fascínio, então? Percebe-se logo porquê. As casas caiadas de branco (no máximo com dois andares), as portas e janelas azuis, os moinhos de vento, as cerca de mil igrejas, as ruas e vielas carregadas de buganvílias e, ao fundo, omnipresente, aquele mar cor de Grécia. É postal, mas não é Photoshop, bate tudo certo, nem sequer é preciso puxar pelas cores.

Tudo aparentemente simples, básico, mas que é na verdade o culminar de muitos estilos, muitas heranças, numa ilha que foi ocupada por jónios, fenícios, macedónios, atenienses, romanos e alemães. Mas foi só no início da década de 1960 que começou a andar nas bocas do mundo, depois da visita de Jacqueline Kennedy Onassis. Com ela veio o jet set, as revistas, a fama, as festas, os hotéis de charme, daqueles que meio mundo imita. Os originais estão aqui. Se em Atenas parecemos estar num livro de história da arte, aqui parecemos estar nas páginas de uma boa revista de decoração. Mas nem tudo é perfeito, como já se percebeu: os turistas, sempre eles: serão uma praga ou salvação? «Onde há quatro anos uma refeição custava 80 euros agora custa 150, além disso, muitas daquelas tavernas típicas, simples, gregas, onde se comia com os pés na areia, têm vindo a desaparecer», suspira a mesma guia.

A ilha tem cerca de 12 mil habitantes e a grande fatia vive na cidade principal, Chora. Quanto ao número de turistas que a visitam, chega aos 50 mil por ano. A invasão começou durante a década de 1950.

Depois do lamento, a declaração de amor: «Já visitei dezenas de ilhas gregas, tive oportunidade e ir viver e trabalhar para outros sítios, mas não consigo trocá-la por nenhuma outra. Não se é deste vento, mas tem uma energia diferente, mais positiva, mais livre. Não é por acaso que é também um destino muito procurado pelos gays. Ninguém chateia ninguém. E os gregos são muito conservadores», conclui, antes de nos deixar em Pequena Veneza, junto ao porto, um conjunto de casas construídas no século XVI, debruçadas sobre o mar. A partir do final da tarde, os bares como que se fundem transformando-se numa espécie de discoteca gigante, ao ar livre. O que acontece em Mykonos fica em Mykonos lê-se em algumas T-shirts.

2. Delfos

Fica apenas a dois quilómetros de Mykonos, pouco mais de quinze minutos de barco. Outra ilha, outro mundo, a sensação de que este país tem tanto de realidade como de ficção. Não tem aeroporto – como poderia, com 3,5 quilómetros quadrados? – nem hotéis, nem casas, apenas meia dúzia de arqueólogos residentes. É património distinguido pela UNESCO.

Esta é a terra do Oráculo de Delfos, um dos mais famosos da Grécia Antiga. Diz a história que nem Alexandre, o Grande, terá resistido a perguntar pelo seu futuro.

Os primeiros habitantes datam de 2500 a.C, foi santuário de adoração a Apolo e um importante porto do Mediterrâneo, que juntava comerciantes, banqueiros e gente de todo o mundo, tendo-se tornado por isso uma cidade próspera, luxuosa, repleta de casas com frescos, mosaicos, anfiteatros e esculturas. Acabaria por ser quase destruída por piratas em 69 a.C, mas ainda se pode ver muito desse património, incluindo uma série de leões que guardavam o lago onde nasceu Apolo. Sim, porque Apolo (deus do sol, da beleza, das artes) e a sua irmã gémea Artemisa (deusa da lua, dos animais, bosques e das mulheres grávidas) terão nascido aqui.

3. Creta

Se dúvidas há quanto ao número de ilhas gregas – cada guia com que nos cruzamos tem os seus próprios números oficiais, ainda que o turismo do país remeta para seis mil, pouco mais de duzentas delas habitadas –, Creta é, sem dúvida, a maior de todas. Cerca de 253 quilómetros de extensão e 61 de largura e mais de 620 mil habitantes. Fruto da dimensão, tem tudo aquilo que as ilhas mais pequenas não têm, de hospitais a universidades próprias, passando pela água potável, sentindo-se menos o custo da insularidade. A localização geográfica (a 100 quilómetros da costa europeia, 175 da Turquia e pouco mais de 300 de África), também ajuda. Ao contrário de Mykonos, a beleza não bate desde logo, é preciso tempo. «Para conhecer bem esta ilha há que passar aqui pelo menos oito dias», diz Irene, a simpática guia, grega. Ela que, mais uma vez contra o livro de estilo de muitos guias, não tem problemas em deixar escapar que os seus sítios preferidos se encontram mais no interior e no sul da ilha, «onde ficam as praias mais paradisíacas, quase só frequentadas por gregos e com tavernas tradicionais».

Esta é a quinta maior ilha do Mediterrâneo. Foi aqui que surgiu a civilização Minoica, a mais antiga de que há registo na Europa (século III a.C).

Na parte norte estão as cidades maiores (Héraclion, Chania e Rethymno) e é onde param os ferries. Por mais estranho que possa parecer vê-se neve, lá no topo. É que esta ilha não tem apenas mais de 500 praias, mas também muitas montanhas, entre elas a mais alta do país (monte Ida) com 2454 metros de altitude. Terá sido numa das suas encostas que nasceu Zeus, o deus dos deuses. Há quem venha de propósito para fazer caminhadas, sobretudo no desfiladeiro de Samarai, com 18 quilómetros de comprimento, um dos maiores da Europa. Muita natureza, «inúmeras plantas», continua a Irene, «tantas espécies como na Suíça, 170 delas endémicas», não deixando escapar um certo orgulho na comparação. Depois de vários quilómetros de autocarro para visitar o mosteiro de Arkadi – desempenhou papel importante na resistência dos cretenses aos otomanos – fechamos as horas que nos restam com um passeio por Rethymno, seguido de um almoço.

4. Rodes

Já sabe que Atenas é história, que há ilhas gregas umbilicalmente ligadas à mitologia (quase todas), mas, no final, parece que as águas azul-turquesa, a natureza e o hedonismo se superiorizam ao peso do património. Rodes é diferente. Não é que não tenha praias paradisíacas, que as tem – além disso é considerada uma das ilhas do Mediterrâneo com melhor tempo durante todo o ano, não fosse a sua origem fruto da paixão entre Hélio, um titã que era representação divina do sol, e a ninfa Rodo, filha de Poseidon e Halia – a verdade é que há aqui uma força que nos apanha desprevenidos. Como se a maior parte das ilhas fossem mulheres, delicadas, sensíveis, e esta mais masculina, guerreira, bruta. Mais do que na acrópole de Lindos, na costa leste, um dos pontos mais visitados na ilha, sente-se isso na capital, Rodes, que tem um dos conjuntos medievais mais importantes da Europa. Parecemos estar num filme de época. Há muralhas e paredes de pedra à volta de quase toda a cidade, veem-se cúpulas, mesquitas, torreões, um castelo, vielas labirínticas, contam-se histórias de cavaleiros – os cavaleiros de São João, mais tarde transformada em Ordem de Malta, tiveram aqui o seu quartel general – sente-se e vê-se por todo o lado a sua herança romana, otomana, bizantina, a lista de feitos e de histórias é quase interminável.

O Colosso de Rodes tornou-a famosa, é uma das sete maravilhas do mundo antigo. A Unesco declarou a cidade património histórico da humanidade.

Entre o património da ilha falta, claro, referir o Colosso de Rodes. Uma estátua gigante de Hélios, considerada uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, lado a lado com os Jardins Suspensos da Babilónia, o Farol de Alexandria ou as Pirâmides de Gizé. A entrada no porto fazia-se entre as pernas da estátua que, nas mãos, segurava uma tocha para alumiar os barcos. Mito, realidade? Terá sido destruída num terramoto em 226 a.C. Certo, certo é que o autor da Estátua da Liberdade veio aqui buscar inspiração.

5. Patmos

Em trabalho ou em lazer todas as viagens têm aquele momento. Aquele dia. Neste caso, aquela ilha: Patmos. «Amanhã não se esqueçam dos calções de banho e da toalha», disseram-nos. Como é que poderíamos estar nas ilhas gregas e não estar sempre prontos para um mergulho!? Poucos minutos depois temos um guia à espera, como sempre – neste caso, Antonis Dismas, jornalista de viagens como nós – mas, ao contrário do habitual, não vamos de autocarro. A ligação é curta e tem como destino um barco mais pequeno, entre a traineira e o iate. Foi recuperado por Dionísio, o grego típico, barba rija, feições vincadas, rudes, sorriso franco – poderia ser Zorba, ou Anthony Quinn – um antigo pescador que será nosso capitão durante as próximas horas. Não há qualquer glamour nem brindes como de champanhe.

Patmos fica para trás, mas lá ao fundo vê-se uma ilha: Arkoi. Tem cerca de 50 habitantes e algumas praias desertas, diz Dismas. «Além disso não há autoridade. É o paraíso.» Mas não é para o paraíso que vamos. Seguimos para outra ilha, ainda mais pequena. Enquanto navegamos, aproveita para mostrar o guia que escreveu sobre Patmos e falar um pouco da ilha. A ilha do Apocalipse, onde, numa caverna, o apóstolo São João terá recebido as visões que deram origem ao Novo Testamento. Aqui o turismo não pareça ser um problema, diz-nos. «Há alguns navios de cruzeiro, mas não mudou muito, o ambiente continua tranquilo, como numa aldeia.» Está na hora de atracar, finalmente, ao largo de Marathi, uma ilha minúscula, com 36 hectares. Tem apenas meia dúzia de casas, meia dúzia de pessoas e um pequeno hotel com restaurante, Pantalis Resort. Foi construído em 1978 quando a família veio aqui dar um passeio de barco e resolveu ficar. Nas paredes têm algumas imagens antigas em que se vê a família a carregar baldes de água, lenha e a construir o cais e a casa. «Não havia ninguém. Um paraíso só para nós», diz a filha de Pantalis, o patriarca.

Diz a lenda que terá sido nesta ilha que o Apóstolo João teve as visões que levaram à elaboração do novo testamento. É ver para crer.

Dionísio lança a âncora mais à frente e diz-nos que podemos mergulhar, enquanto prepara salada de atum e cebola, com muito azeite e pepino. «O mais incrível na Grécia é que acabarás sempre por encontrar a tua ilha gémea», diz Dismas, já no regresso, antes de se deitar ao sol a fazer a sesta na proa. Um almoço e um passeio por Chora, a capital – e também ela Património da Humanidade pela UNESCO, juntamente com a caverna e o Mosteiro de São João – confirmariam toda esta pacatez e aura especial. Não só não nos cruzamos com nenhum turista, como não nos cruzamos com ninguém.

6. Santorini

Para o final da viagem, mais uma pérola grega: Santorini. Metade dos postais que vemos das ilhas gregas são tirados em Mykonos, a outra metade aqui. É igualmente pequena, ainda mais do que Mykonos (73 quilómetros quadrados), mas de origem vulcânica, o que lhe dá o encanto extra e ângulo que tanto fascina os fotógrafos. É ver a quantidade de telemóveis e máquinas a tentar enquadrar o casario branco, no topo, com o mar, os barcos e as outras pequenas ilhas, lá em baixo. Entre elas Nea Kameni. Santorini é, na verdade, um miniarquipélogo composto por cinco ilhas à volta do vulcão, estando a minúscula ilha de Nea Kameni no centro da caldeira.

Vai-se de barco, como sempre, sobe-se até ao topo, pouco mais de cem metros, onde se avistam as cidades de Fira e Oia, as mais pitorescas, encavalitadas no topo da falésia. O solo é árido, vê-se o fumo, está vivo. Ativo. O único vulcão ativo no mundo cuja cratera é no mar. Os relatos são de tragédia, uma das maiores erupções da história. No melhor e no pior, na Grécia não parece haver nada que não faça parte da história. Mas se na altura foi uma tragédia que destruiu por completo a vida em mais de metade do arquipélago, acabou por dar a forma, a cor, o relevo que tem hoje e que a transformaram na ilha mais visitada do país e uma das 15 mais visitadas do mundo.

Imagem de destaque: iStock/D.R

Leia a reportagem completa aqui.


Reportagem publicada originalmente na edição de setembro de 2017 da revista Volta ao Mundo, número 275.

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