Se viajar faz parte do equilíbrio, ultimamente a atriz portuguesa tem corrido o mundo com uma missão – ajudar e conhecer os outros.

Entrevista de Pedro Lucas
Fotografias de @maryyy_monteiro

Há cerca de um ano viajaste até África. O que mais ficou dessa experiência?
M.M. A nível pessoal, foi das viagens mais importantes. Estive em Moçambique, na aldeia de Mahungo, e o que mais me marcou foi ver um povo que, com tão poucos recursos e posses, divide e partilha esse pouco que tem. África é como diz a música de Plutónio, África Minha: «África tem a riqueza num sorriso de criança.» E tem mesmo.

Que lições de vida trouxeste?
M.M. Penso que a maior lição foi mesmo que para sermos felizes precisamos de muito menos do que pensamos. A verdadeira alegria está nas relações humanas e não nos bens materiais. E isto por mais que haja vontade de lutar por um mundo mais igualitário e justo, sobretudo naquele continente, completamente desvalorizado, com tantas necessidades básicas. Espero que um dia tudo isso mude.

Há pouco tempo escreveste no teu Instagram que «viajar é uma questão de perspetiva». O que mais procuras quando viajas?
M.M. Conhecer outras culturas. Viajar abre horizontes, não é só uma questão de novas paisagens, são novas formas de viver a vida, diferenças na gastronomia, tudo isso é viajar. Um conjunto de experiências que permitem sentir coisas a que não estou acostumada.

Viajaste para África com vontade de ajudar. Como se pode incentivar mais os portugueses a viajar com essa missão?
M.M. Penso que ir promovendo isso mesmo, com entrevistas como esta, e através das redes sociais. Acho que quanto mais se trouxer o tema a público e mostrar que é possível cada pessoa fazer a diferença com uma viagem, mais fácil será quebrar medos ou preconceitos que possam existir. Afinal de contas, quem beneficia mais da experiência somos nós mesmos.

Dos países que já conheceste, quais os que mais te surpreenderam e desiludiram? Porquê?
M.M. Não tive nenhuma desilusão, sinceramente. De todos os locais que já visitei tirei lições de vida e, mesmo que não tenha ficado como um dos locais favoritos, não consigo aplicar o sentimento de desilusão a nenhum deles. Fiquei muito surpreendida com Cuba, sobretudo com a simpatia daquele povo, de como por traz de um regime político tão opressor conseguem ser capazes de receber tão bem quem vem de fora.

A atriz, que ambiciona conhecer o Japão, confessa que ainda não teve coragem de fazer uma grande viagem sozinha, mais introspetiva.

Tens o hábito de programar as viagens que fazes ou surgem de imprevistos?
M.M. Costumo ser daquelas pessoas que programam a viagem a fundo. Adoro essa parte. De fazer a pesquisa acerca de tudo. Do que ir visitar, onde ficar hospedada, de encontrar curiosidades sobre o local, etc..

Hoje há cada vez mais mulheres a viajar sozinhas. Será essa mais uma forma de protesto feminista?
M.M. Claro que sim. Ainda há muitos locais que são culturalmente pouco favoráveis para a mulher e que não a protegem. Por isso acabamos por ter de ser mais cautelosas em determinados destinos. Mas, na grande maioria dos casos, podemos viajar sem problema nenhum. Não há ainda um olhar igual ao ver um homem ou uma mulher que viajam sozinhos. É também por isso que é tão importante alcançar a tão desejada igualdade de género. Vermo-nos em situação de igualdade e de não discriminação ou vulnerabilidade.

Viajarias sozinha e sem destino? Para onde e porquê?
M.M. Sim, já viajei sozinha várias vezes, mas sempre pela Europa. Normalmente em formações. Sem destino planeado acho que não o faria. Gostava sim de fazer uma viagem maior sozinha, talvez mais introspetiva, mas confesso que ainda não tive essa coragem. A ser, seria algures pela Ásia.

E qual é o destino que mais ambicionas conhecer?
M.M. O Japão.

Por fim, quando ouves falar na revista Volta ao Mundo, do que te lembras?
M.M. Que tem sempre capas incríveis que só me fazem desejar que o teletransporte realmente existisse [risos].


Entrevista publicada na edição de agosto de 2019 da revista Volta ao Mundo, número 298.

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