Este é um bom ano para viajar sem gastar muitos dias de férias. Há feriados que calham à segunda ou à sexta-feira e outros a meio da semana, permitindo fazer pontes. Eis algumas sugestões para tirar partido do calendário, desde cidades inevitáveis como Londres, Munique e Praga a destinos de águas quentinhas como Malta ou a ilha de Santiago.

Textos de Teresa Frederico

10 de Abril
Galway, capital da cultura
Esta cidade irlandesa é uma das duas Capitais Europeias da Cultura 2020 – a outra é Rijeka, na Croácia –, boa razão para decidir passar o fim de semana prolongado da Páscoa num destino diferente. Fica a uma hora de carro do aeroporto de Shannon, servido por voos low-cost desde Faro (2h45). Tal como nas anteriores Capitais da Cultura, a programação (disponível em galway2020.ie) estende-se ao longo de todo o ano, com centenas de eventos envolvendo artistas locais e estrangeiros e também a população local. Making Waves é o tema desta edição, pretendendo promover novas formas de pensar e desenvolver a criatividade, estando em destaque a linguagem, a paisagem e a migração. Paralelamente, o anual Food Festival, de 9 a 13 de abril, dá a conhecer gastronomia local através de demonstrações, workshops, visitas temáticas e animação para toda a família, reunindo uma centena de estabelecimentos e produtores da região. Mas animação e bons petiscos são apenas dois atrativos desta escapadinha, também relaxante dada a vizinhança do mar. Salthill é a praia mais próxima, muito popular no verão e bom sítio para passeios nesta época do ano. A meio caminho (800 metros da costa e cinco minuto do centro) fica o B&B Stop, uma confortável opção de alojamento cuja diária custa desde 90 euros em quarto duplo.
>> galwaytourism.ie

1 de maio
Praga Romântica
Aproveitar um fim de semana de três dias para visitar a capital da República Checa, a umas 3h30 de voo de Portugal, é sempre uma boa opção, mas o do 1º de Maio tem um interesse especial: além de Dia do Trabalhador, é também Dia do Amor. A data celebra uma tradição secular, que passa por beijar o/a namorado/a debaixo de uma cerejeira (diz a lenda que rapariga que não seja beijada morre em 12 meses…), bem como declamar o poeta romântico Karel Hynek Mácha, autor do poema «Máj» (maio), que praticamente todos os checos sabem recitar. Beijos e poesia à parte, da lista de lugares obrigatórios de Praga fazem parte o Castelo, Património Cultural da Humanidade da UNESCO, bem como a torre gótica da câmara municipal e o seu Relógio Astronómico, com figuras dos apóstolos a revelar-se à hora certa. Vale a pena subi-la para constatar que, embora seja conhecida como a Cidade das Cem Torres, exibe muitas mais. Obrigatória é também a Ponte Carlos, do século xiv, ornamentada com estátuas de figuras bíblicas, santos e personalidades que ficaram na história. Tem fama de ser uma das mais bonitas do mundo, e provavelmente é, sendo conveniente visitá-la bem cedo ou à noite, quando há menos turistas. A oferta hoteleira é vasta e com preços para todas as bolsas, desde cerca de 200 euros por noite no hotel situado na Dancing House, edifício desenhado por Frank O. Gehry e o arquiteto croata Vlado Milunić que simboliza a famosa dupla Fred Astaire e Ginger Rogers; ao hotel/hostel Plus Prague, com piscina interior, onde as diárias em duplo custam a partir de 50 euros.
>> prague.eu

10-11 de junho
Férias com morna na ilha de Santiago
Os feriados do Dia de Portugal e do Corpo de Deus vêm mesmo a calhar para uma escapadinha que pode transformar-se numa semana de férias, dependendo dos dias que se lhes queira juntar. E, com um voo direto de 4h20, aterra-se nesta ilha cabo-verdiana ainda não conquistada pelo turismo de massas. Também não sai caro optando por hotéis simples mas confortáveis e com bom atendimento, como o Praia Maria (diárias desde 50 euros em quarto duplo) ou o Praia Confort (cerca de 60 euros por noite), ambos com reservas em centrais online. Os banhos de sol e mar são obviamente uma forte razão para escolher este destino pois, para além da praia do Tarrafal, considerada uma das mais bonitas e, portanto, bastante procurada, há muitas outras onde usufruir da água quente, algumas desertas. Entre períodos dedicados aos mergulhos existem lugares históricos para conhecer, designadamente a Cidade Velha, primeiro assentamento colonial português subsariano, e a sua Rua da Banana, primeira a ser calcetada fora da Europa. É, desde 2009, património catalogado pela UNESCO, que em novembro do ano passado deu a Cabo Verde um enorme e justo motivo para celebrar: a morna foi proclamada Património Imaterial Cultural da Humanidade. Aqui pode ouvir-se ao vivo no restaurante Quintal da Música, por exemplo, que serve pratos como cachupa e arroz de peixe fresquinho, ou no Nice Kriola, também com boa comida e excelente vista.
>> turismo.cv

24 junho
Mergulhar em Malta
Ao contrário dos lisboetas, que festejam o Santo António a um sábado, os portuenses foram protegidos por São João e têm o feriado numa quarta-feira. É quanto baste para meter dois dias de férias, voar três horas e mergulhar em Malta – literalmente, que as águas desta ilha mediterrânica, a menos de trezentos quilómetros de África, são calorosas. Na capital, La Valetta, há muito para ver, da bela St. John’s Co-Cathedral, e o seu Oratório, que acolhe a enorme obra de Caravaggio Decapitação de São João Batista, aos Upper Barrakka Gardens, jardins criados na fortificação do século XVIII com ampla vista sobre o mar. Perto deles situa-se uma das alternativas de alojamento a bom preço, The British Suites: quatro noites em quarto duplo com pequeno-almoço podem custar 400 euros, dependendo da antecedência da reserva. A poucos minutos de barco, de preferência numa típica dghajsa, parecida com uma gôndola, as Três Cidades (Vittoriosa, Senglea e Cospicua) justificam a visita tal como um almoço no Dom Berto, restaurante familiar com generosos pratos de peixe, além de cozinha internacional. Descobrir outras paragens requer maior tempo de deslocação, mas vale a pena, por exemplo, para nadar na Saint Peter’s Pool, envolvida por rochas planas onde se pode apanhar sol. Quem quiser espreitar as noites animadas terá como destino preferencial St. Julians/Paceville, repleto de hotéis de grandes cadeias internacionais, bares e discotecas.
>> visitmalta.com

5 de outubro
Museus em Londres
Num voo curto (2h40), milhares de coisas para (re)descobrir: Londres tem sempre novidades e é uma das cidades mais atraentes para a rentrée, sobretudo neste ano, quando o feriado do 5 de outubro dá direito a fim de semana prolongado. Considerando que ficar no centro poupa bastante tempo de deslocações e que aqui o alojamento não é propriamente barato, o Z Hotel Piccadilly constitui uma alternativa aceitável, com diárias a cerca de 120 euros em quarto duplo – o grupo hoteleiro possui outras unidades em Trafalgar, Covent Garden, Shoreditch e Soho, por exemplo, eventualmente mais convenientes, dependendo do objetivo da viagem, mas sempre com uma boa relação qualidade-preço. Parte do investimento pode ser compensado aproveitando a viagem para visitar gratuitamente as coleções permanentes dos mais importantes museus londrinos. São mais de 20 e a lista inclui o British, o Victoria and Albert, o Imperial War, The Wallace Collection, a National Portrait Gallery, a Whitechapel Gallery, a Tate Britain e a Tate Modern, além da National Gallery. Esta última inaugura a 3 de outubro uma importante exposição dedicada a Rafael Sanzio, um dos grandes mestres do Renascimento, quando se assinalam os 500 anos da sua morte. Com obras cedidas pelos museus do Louvre, do Prado, do Vaticano e pela Galleria degli Uffizi, entre outras entidades, é certamente uma mostra (paga, preço ainda não definido) a não perder até janeiro de 2021.
>> visitlondon.com

1 de dezembro
Saudades de Marraquexe
Pelo menos mais 5ºC nesta época do ano, outros aromas, sabores e costumes à distância de um voo de 1h30. É por isso que a capital turística de Marrocos constitui a escapadinha ideal em período pré-natalício – assim como uma opção para quem não aprecie o Natal e queira escapar aos festejos de 24 e 25 de dezembro. Viagem após viagem, o centro nevrálgico da cidade, a Praça Jemaa el-Fna, Património da UNESCO, nunca desilude, pelo contrário. Vale até a pena regressar a várias horas do dia, que se vai transfigurando, para beber um sumo de laranja, comer um petisco, subir a uma das esplanadas envolventes e ver de cima o incessante vaivém de residentes e turistas. A Medersa Ben Youssef, em tempos a maior escola corânica do país, o vizinho Museu de Marraquexe e o Palácio Bahia, antiga moradia do vizir Ba Ahmed Ben Moussa, das suas quatro esposas e 24 concubinas, são outros espaços a visitar, tal como o Jardim Majorelle, um dos lugares preferidos do designer de moda Yves Saint Laurent e do seu companheiro Pierre Bergé, agora administrada pela fundação que criaram. E, claro, há que reservar horas para passeios nos souks da medina e para as inevitáveis compras – neste período muito úteis pois pode encontrar-se aqui presentes de Natal diferentes, desde artesanato típico a acessórios em pele e lenços de todas as cores e feitios. Conhecer melhor a cidade passa por dormir num típico riad e o Dar Justo, com diárias em quarto duplo a 100 euros, é uma opção a ter em conta, até por possuir terraço com vista para a mesquita Koutoubia.
>> visitmorocco.com

8 dezembro
Lyon a mais luminosa
Vibrante durante todo o ano, esta cidade francesa fica ainda mais sedutora quando decorre a Fête des Lumières (ou Festa das Luzes), assinalando a inauguração, a 8 de dezembro de 1852, da estátua dourada da Virgem no topo da Basílica de Notre-Dame de Fourvière: a partir das 19h00, dezenas de instalações iluminam monumentos, praças e ruas e a população colabora colocando velas nas janelas, numa celebração que normalmente se estende por quatro noites. Antes que as luzes se acendam há muito para explorar, nomeadamente a Vieux Lyon, uma das maiores áreas renascentistas da Europa, e o seu Museu das Belas-Artes, conhecido como “pequeno Louvre”. Especialmente charmoso é o bairro Croix Rousse, quase uma vila dentro da cidade e com uma identidade própria, além de bom lugar para conhecer um dos bouchons, restaurantes tradicionais que constituem uma autêntica instituição lionesa. O Daniel & Denise é uma boa alternativa para provar os pratos típicos e, embora seja dos mais famosos, tem menus em conta (a partir de 18,5 euros ao almoço). Já encontrar um quarto de hotel acessível neste período não é propriamente fácil. No Mama Shelter Lyon, por exemplo, as diárias em duplo custam a partir de 80 euros e nesta altura ascendem a 200 euros, mas pode valer o investimento pelo design de Philippe Starck.
>> lyon-france.com

25 de dezembro
Natal em Munique
Não é fácil escolher onde passar o Natal dado que muitos espaços encerram nessa data. A capital da Baviera é uma boa opção, pois tem oferta mais do que suficiente para uma escapadinha bem animada. O mercado de Natal mais famoso e antigo (remonta ao século xiv), na principal praça da cidade, a Marienplatz, só fecha às 14h00 do dia 24. Para jantar, a típica cervejaria Hofbräuhaus – desde sempre uma instituição da cidade, tendo recebido figuras como a imperatriz Sissi, Mozart, Lenine e Hitler, que aqui fundou o Partido Nacional Socialista – está aberta, como nos restantes 364 dias do ano. Para o dia 25 o programa das festas pode incluir a visita à catedral gótica Frauenkirche, principal ícone da cidade; patinagem no gelo na Karlsplatz; conhecer um museu, por exemplo o Bayerisches Nationalmuseum, com arte desde a Antiguidade ao século XX; um passeio pelo Viktualienmarkt, mercado de frescos com “jardim de cerveja”, beber um aconchegante vinho quente (só encerra ao domingo); e, claro, a ida até à ponte na Prinzregentenstrasse para ver os surfistas que, aproveitando um desnível nas águas do rio Eisbach, ali se exibem durante todo o ano, Natal inclusive. No que toca a alojamento, no descontraído 25hours Hotel Munich The Royal Bavarian, em frente à estação central, há diárias a partir de 122 euros em quarto duplo. Possui restaurante de cozinha oriental servida em doses para partilhar (aberto no dia 24 mas sem menu especial) e um bar conhecido pelos seus highballs.
>> simply-munich.com


Reportagem publicada originalmente na edição de fevereiro de 2020 da revista Volta ao Mundo, número 304.

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